Capítulo 52

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É incrivel como as coisas mudam de rumo de uma hora para outra. Assim de repente, sem aviso prévio.
Em um momento tudo está perfeitamente em ordem e no outro tudo está desabando na sua cabeça.

Depois que conheci Harry, depois que o conheci de verdade, achei que as coisas estavam começando a se ajustar na minha vida. Pensamentos ruins deram lugar á pensamentos mais otimistas, os ataques de pânico e ansiedade estavam cada vez menos frequentes e até achava  que eu estava começando a ser mais confiante.

Mas acho que afinal era tudo coisa da minha cabeça, da minha ingênua cabeça, e a realidade voltou a bater na minha cara
E dessa vez ela parece ser mais dolorosa, talvez porque dessa vez eu não estivesse esperando por esse golpe.
Pela primeira vez em muito tempo eu estava acreditando e confiando em uma coisa, e por isso parecer pior

Não preguei os olhos nenhuma vez essa noite.
Até mesmo quando o cansaço batia, eu continuava me sentindo eufórica.

Dúvidas e perguntas passaram pela minha cabeça durante toda a noite. Eu quase podia lê-las no teto de madeira do meu quarto.

Não sei como consegui segurar o choro dessa vez, porque uma crise de choro parecia algo inevitável.
A agonia dentro de mim parecia diferente dessa vez, como se fosse mais profunda do que todas as outras vezes.
Estou acostumada a chorar por ser ignorada, ou pelos meus pais, ou pela minha aparência ou simplesmente por acordar mais feia e gorda do que o normal, mas de alguma forma, magoar alguém parece dez vezes pior do que magoar á mim mesma.

A minha real vontade era ir ao quarto de Harry e pedir desculpa por tudo, beijá-lo e dizer que na verdade eu gosto muito dele, mas também sei que o que estou fazendo é o certo.
Não estou pronta para um relacionamento mesmo que eu queira, não sendo toda bagunçada do jeito que sou.
E saber disso dói.

Depois de uma noite horrível, literalmente a pior de todas as que consigo me lembrar, cheguei a conclusão de que preciso, ao menos, enfrentar os meus problemas de frente.

Me arrumei, troquei de roupa, passei maquiagem e fiz um rabo de cavalo no cabelo, depois desci para tomar café.

É sábado de manhã, então pessoas psicologicamente estáveis como Beatrice ainda estão dormindo confortavelmente em suas camas.

Lá embaixo, meus pais já estão tomando café da manhã, felizes. Felizes ás 7:00 da manhã, eu quase senti raiva deles por isso.

Tomei uma xícara de café cheia e comi um pedacinho de pão, não estava com o mínimo apetite.

                             *

Fiquei andando entre a cozinha e a sala durante a manhã. Ás 8:00 mamãe e papai foram trabalhar, ás 9:00 Beatrice desceu e tomou café, ás 10:00 fomos assistir tv e ás 12:00 mamãe chegou para o almoço.

- Onde está o Harry? - minha mãe perguntou enquanto arrumávamos a mesa para o almoço.

- Ele não desceu nenhuma vez hoje. - respondeu Beatrice. Percebi, de canto de olho, que ela olhava para mim.

- Será que ele está bem? - mamãe também olhou para mim. Dei de ombros.- Vou chamá-lo.

Eu não a impedi de subir as escadas. De alguma forma, eu queria acabar com isso de uma vez.

Menos de cinco minutos depois ela voltou para a cozinha, sozinha.

- Ele está resolvendo alguns problemas com a mãe. - falei.

Minha língua coçou para perguntar "que problemas?!", mas fiquei quieta.
Tenho certeza de que eu sou o problema de Harry.

Comemos em silêncio, na verdade Beatrice e mamãe conversaram, mas suas vozes ficaram em segundo plano na minha cabeça.
Depois do almoço, eu subi para o quarto de Beatrice e deitei na minha cama desarrumada. Adormeci quase instantaneamente, afinal ninguém é de ferro.

Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora