Graças ao meu cabelo, que se recusa a colaborar nem que seja por algumas horas, demorei quase uma hora para ficar pronta. Não importa o quanto a chapinha esteja quente, ele continua rebelde, arrepiado para todos os lados.
Tudo depois disso parecia estar dando errado; a maquiagem, as sardas e eu já imaginava que meu corpo não fosse ficar bom em nenhuma peça de roupa.
Quando voltei para o quarto com a toalha enrolada no corpo, Daisy já estava vestida com um vestido vermelho, e em frente ao espelho esfregava um pincel nas maçãs do rosto.
Quando ela se virou para mim, quando vi a sua cintura e suas pernas finas naquele vestido, me senti murchar como um balão.- Nossa, você demorou. - ela disse.
- Cabelo. - apontei para a bagunça castanha na minha cabeça.
- Então, vai vestir o quê? Você tem alguns vestidos bonitinhos aqui, não tem?
- Não vou usar um vestido. - disse e passei por ela, abrindo a porta do meu guarda-roupas. Daisy está certa, tenho alguns vestidos no cabide, mas jamais usaria eles perto dela.
- Por que não?
- Porque isso não é um encontro... - peguei uns jeans escuros e uma sweat azul marinho.
- Você não vai usar jeans...
Daisy andou até mim e quase tirou o jeans das minhas mãos, mas eu me afastei á tempo.
- Ah, vou sim... - disse e ela me lançou um olhar indecifrável - Já volto.
- Tá.
Me troquei no banheiro, amaldiçoando Daisy com todas as palavras ruins de que consegui me lembrar no processo.
Nem sequer saímos de casa ainda e já sinto vontade de chorar, ou gritar, ou bater em alguém. Não consigo imaginar uma maneira dessa noite acabar bem.Voltei para o quarto, Daisy estava sentada na minha cama.Aparentemente já estava pronta; com o cabelo levemenente ondulado, os olhos castanhos decorados com maquiagem, sandálias nos pés e brincos nas orelhas. Linda.
Calcei um coturno e vesti um casaco fino de lã cinza. Bem... acho que é isso.
- Está pronta? - Daisy perguntou, desviando os olhos do celular para olhar para mim. Sua expressão me pareceu levemente presunçosa.
- Hum... Acho que sim. Só vou... - andei até o meu porta-jóias improvisado; uma caixinha de papelão decorada com coraçõezinhos lilases.
Procurei com os dedos algo que ficasse bom com a minha roupa, mas eu realmente não tenho uma variedade de bijuterias.
O colar com pingente de cruz que Harry me deu continua ali, no meio de toda aquela porcaria velha e enferrujada. Toquei-o, ele parece novo como sempre, e especial como sempre. Eu não consegui me livrar dele, mesmo quando decidi que tinha de tirá-lo do pescoço. Agora não parece fazer sentido ele ter me dado algo tão íntimo, mas na época era quase como uma prova de amor para mim.Larguei- o de volta na caixinha e peguei uma corrente com um pingente prata.
- Estou pronta.
- Okay, vamos então. Harry já está impaciente. - ela sorriu docemente.
- Eu imagino que sim...
- Vamos andando, okay?
- Claro.
Avisei a minha mãe que não voltaria tarde e que se ela precisasse era só me ligar. Ela assentiu e me deu um beijo na testa.
Parte de mim ainda queria que ela me proíbisse de sair, mas as coisas nunca são como eu preciso que elas sejam.Caminhamos durante vinte minutos, e nesse curto período de tempo quase tive três ataques.A minha mente não estava pensando em nada em particular, ao menos eu não estava visualizando imagens na minha cabeça. Mas parecia abafado numa noite fresca, quase fria, e eu estava suando na minha sweat.
Quando chegamos á tal lanchonete que Daisy escolheu, as minhas pernas estavam moles como gelatina e o meu estômago embrulhado em uma bola.
Respirei fundo cinco vezes antes de entrar, e de canto de olho percebi que Daisy me observava.- Você está bem?
- Tô.
A lanchonete era simples do lado de fora. Uma placa brilhava com os dizeres Mollys Place no teto de lona da entrada, e parecia ser um lugar arrumadinho. Dava para ver tudo o que acontecia lá dentro pelas vitrines de vidro.
Segui Daisy para dentro do estabelecimento.
Uma campainha soou quando passamos pela porta e, imediatamente, senti que todos olharam para nós. A sensação foi passageira e eu nem sequer me importei tanto com ela.Não é como se alguma daquelas poucas pessoas ali se importasse comigo ou com Daisy. Ou como se eu me importasse com qualquer outra coisa que não fosse o fato de que eu estava prestes á ver Harry.
Harry. O primeiro e único garoto por quem senti algo. O garoto que, de um jeito ou de outro, está sempre nos meus pensamentos.
O garoto que deixei ir tão facilmente...Eu estou em um estado de dormência. Ao mesmo tempo em que sou eu, consciente do que estou fazendo, pareço estar longe, assistindo tudo á distância, ouvindo tudo com um zumbido.
Daisy continuou andando pela lanchonete. Parecia nem perceber que todos estavam olhando para ela naquele vestido vermelho, que realmente fica muito bom nela. Nem mesmo a jaquetinha jeans que ela vestiu por cima conseguia ofuscar o brilho do vestido vermelho.Quando Harry entrou em meu campo de visão, eu paralisei. Acho que congelei por um segundo, um segundo apenas.
Ele estava sentado em uma mesa com assentos almofadados no canto mais afastado da lanchonete. Parecia distraído. Encarando e tocando um copo de água com o polegar.
- Harry! - Daisy chamou sua atenção.
Ele olhou imediatamente em nossa direção. Sua expressão mudou lentamente quando me notou, passando da normalidade para o espanto. Seus olhos verdes se arregalaram.
Não tenho certeza de como reagi, mas senti que parei de respirar por um momento enquanto ele olhou para mim.
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Espero que tenham gostado do capítulo, e me desculpem por qualquer coisa que estiver errada.
Love u
All the love xx
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Prisoners - h.s
Fiksi PenggemarEm um mundo onde todos vivem oprimidos por padrões, pessoas diferentes se sentem erradas. Em um mundo onde você precisa ser igual a todo mundo para ser aceito, existem pessoas como Liz Gray; oprimida por suas próprias inseguranças, vivendo nas sombr...