Prólogo | 00

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Jade Santiago

O Inicio de tudo. 

Buraidah, Arábia Saudita 21h45min. 

 É incrível como a nossa vida está suscetível a mudanças drásticas de repente. Parece que foi ontem que papai chegou em casa anunciando que havíamos perdido tudo, que nossa rede de lojas teve que declarar falência legalmente. Ele lutou pelo negócio o quanto pôde, tentou obter financiamento, negociar as dívidas, mas quando um barco está destinado a afundar não há nada que possamos fazer.

Eu entendi a situação, tentei contribuir o máximo que pude. Já a minha mãe entrou em estado de negação e continuou a estourar o cartão de credito, o que culminou numa ruptura feia na relação dos dois.

A falta de dinheiro leva os ânimos ao limite, faz com que até a pessoa mais calma perca a passividade. As brigas de seu Jorge e Dona Eleanor me afetaram mais do que gostaria, nosso lar virou um campo minado.

Largar a faculdade e abandonar o meu sonho passou inúmeras vezes pela minha cabeça. Não dava pra cursar medicina e trabalhar ao mesmo tempo, o curso demandava tempo, dedicação, concentração. Porém, antes que eu tomasse a decisão por conta própria o destino se encarregou de tomá-la por mim.

Dizem que situações extremas exigem medidas extremas, sou obrigada a concordar. Cerca de um mês antes eu era uma universitária carioca de classe social alta, hoje eu sou a futura esposa de um magnata asiático e filha de empresários falidos.

Estou prestes a selar uma união meramente por interesse. Esse casamento não tem nada haver com amor, companheirismo, paixão. O noivo em questão me comprou.

Sim! Ele me COMPROU. Por uma soma altíssima o suficiente para meus pais limparem o nome e poderem respirar em paz.

A coisa toda aconteceu de maneira estranhíssima, como se eu tivesse num universo alternativo aceitando me casar com um cara que só vi três vezes e troquei duas palavras. E pra piorar: o dito cujo já é casado, eu sou a segunda do harém.

Rayhan Farid Bolkiah é tão fechado e quieto que chega a me causar arrepios, ele demonstra estar tão desconfortável na minha presença quanto eu na dele. As nossas únicas interações foram no jantar de apresentação das famílias, na primeira e segunda cerimônia de matrimônio.

Surya Ananda a primeira esposa dele, fez questão de demonstrar o quanto me odeia sem nem mesmo me conhecer e creio que vamos ter problemas de convivência. Se bem que eu a entendo, não deve ser fácil aceitar que seu marido se casará com outra!

A cultura deste país é machista, retrógrada, e opressiva. Estou com medo! Os costumes daqui não valorizam a mulher como ser pensante capaz de tomar suas próprias decisões. É uma cultura onde o homem vive na posição de poder.

Já sinto que a Brasileira livre que habita dentro de mim entrará em conflito diariamente com a esposa obediente que esperam que eu seja.

Chego a ficar nauseada ao me encarar no espelho e ver o reflexo da noiva muçulmana submissa. O vestido pesado, longo, com mangas que cobrem até os pulsos, juntamente com o hijab que esconde toda a beleza dos meus cabelos cacheados, não refletem quem eu fui, e quem ainda quero ser.

Esta Jade é montada, essa Jade é uma farsa. Mas preciso segurar o personagem até poder pedir o divórcio e me livrar dessa prisão. 

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A Segunda esposa do Sheik #1Onde histórias criam vida. Descubra agora