Capítulo | 04

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Jade Santiago

[PUC – Instituição de ensino superior, Rio de Janeiro.]

 Deitei a cabeça contra o encosto do banco e respirei fundo fechando os olhos. Estava no estacionamento da faculdade dentro da picape que em algumas horas não seria mais minha.

A picape que eu pretendia vender para quitar as mensalidades atrasadas, e poder continuar estudando.

Recolhi minhas coisas no laboratório com tamanha pressa, que sequer expliquei a situação à Cecília ou a Guilherme, meus amigos.

Papai me enviou uma mensagem de texto após nossa chamada ser finalizada:

Esta é uma situação temporária filha, eu garanto. Contatei o doutor Macedo e ele vai entrar com uma ação, alegando que seu carro é utilizado para fins educacionais. O caso será analisado, e logo teremos uma resposta."

Tive vontade de responder que "logo", era tempo demais para quem iria perder todas as aulas do sétimo semestre, que "logo" os proprietários da PUC  estariam cobrando a dívida judicialmente, porque não consegui cumprir com a palavra. E nós ficaríamos mais ferrados do quê já estávamos, mas me contive pois sabia que papai não tinha culpa, não propositalmente. 

Ele vinha fazendo tudo que estava ao seu alcance.

Girei a chave na ignição, e dei marcha ré saindo do meio de dois outros veículos. 

Dirigi até a praia do Leblon, e me sentei na areia observando as ondas irem e virem.

Era difícil abandonar meu sonho de menina, era difícil sentir que havia um peso enorme sob meus ombros. Era esmagador ver meus pais caírem em um poço sem fundo e não poder fazer nada. 

A sensação de impotência me apavorava.

Eu fiquei pensando o quê iriamos fazer, se íamos chegar a passar fome ou necessidade.

Jorge estava vendendo a rede de lojas, só que no estado decadente em que se encontravam o valor que receberia seria uma pechincha.

Sequei os olhos quando percebi as lágrimas banhando minha face. Forcei-me a levantar e ir para casa.

Precisava ser forte e ajudar meus pais da forma que conseguisse.

 ❈

A porta do apartamento estava aberta quando cheguei, na verdade estava escancarada. O quê me pareceu estranho.

Mal pus os pés para dentro e já me deparei com a total desordem; o jarro chinês da minha mãe espatifado no chão, as flores amassadas, despedaçadas, o sofá de seis lugares com diversos rasgos, e algo semelhante a sangue nas almofadas, os portas retratos quebrados.

A cozinha não estava muito melhor, com o armário revirado e nossa louça também em mil pedaços.

Pânico e medo tomaram conta de mim. Voltei para sala e notei que a fechadura havia sido arrombada.

Pensei em sair correndo e ligar para polícia, no entanto fui impedida pelo choro baixinho que vinha do quarto principal.

Deixei a bolsa e os livros em cima da mesa de jantar, e fui caminhando devagar até os murmúrios sôfregos.

Mamãe estava deitada sob o recamier, totalmente machucada. Corri até ela.

— O que aconteceu? — Perguntei ajudando-a se levantar.

A Segunda esposa do Sheik #1Onde histórias criam vida. Descubra agora