Capítulo | 01

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Jade Santiago

[Dois anos antes]

Beirute - Líbano, 08h45min.

Apoio à mão contra o vidro da janela, e observo um menino que vende chicletes e lenços de papel para os motoristas em um cruzamento movimentado. Ele deve ter por volta de sete ou oito anos, tem pele morena e roupas gastas.

— Aquele é Jamal. — minha professora diz se sentando ao meu lado no ônibus. — Ele veio de Aleppo e está no projeto há quase três anos.

— Se ele está no projeto, porque ainda trabalha? Deveria estar na escola, não? — pergunto curiosa.

— Infelizmente não temos o poder de radicalizar a pobreza Jade. A fundação Makhzoumi proporciona às crianças refugiadas a chance de serem normais novamente, brincando, aprendendo, recebendo atendimento médico longe dos perigos das ruas, o que não os impedem de voltar para o sinal quando falta pão na mesa. A maioria deles frequentam as aulas somente duas vezes na semana ou nem frequentam.

Meu coração fica pequenininho ao escutar aquela triste realidade.

Me inscrevi no programa de Intercâmbio para aprender a língua nativa, cultura e hábitos praticados de outra nação com fins educacionais, no entanto não imaginei que me depararia com situações tão tristes.

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a União Europeia, implementada pela Fundação Makhzoumi, uma ONG libanesa, aceita alunos de medicina para o voluntariado desde maio do ano passado, em setembro resolvi sair da minha zona de conforto e me aventurar.

Alguns alunos da PUC já haviam vindo para cá, e os feedbacks que recebi foram mais do que positivos.

A galera toda falando em como mudaram sua visão de vida completamente depois de ver de perto como os refugiados sobreviveram a guerras horripilantes, em como a experiência profissional foi enriquecedora. Só que nenhum deles se lembrou de falar, que só de saltar do avião, a gente se depara com a vulnerabilidade social que este país enfrenta.

Desço do ônibus juntamente com Cecília, minha melhor amiga, assim que o motorista anuncia que chegamos ao nosso primeiro destino. Viemos visitar o assentamento informal de Hawch el Refka.

Meus olhos se enchem de lágrimas ao pisar no chão repleto de pedregulhos e deparar-me com a situação de miséria em que essas pessoas se encontram.

As tendas onde dormem são feitas duma espécie de lona grossa.

Vendo minha expressão de horror Cília diz:

Soube que essas barracas abrigam até duas famílias.

 Sério? Mas são tão pequenininhas. — parece inconcebível que mais de duas pessoas compartilhem um espaço tão estreito.

— São pequenas para a gente, que já estamos acostumadas com casas grandes, pra eles que vivem assim há anos é mais que suficiente.

Nossa Cecília!

 Que foi? É a verdade.

Tendas feitas de Lona não deveriam ser suficientes para ninguém. — digo revoltada.

Isso em um mundo perfeito, não é amiga?

Paramos nossa pequena discussão, quando Doutora Lannister nos chama para passar as orientações.

Formem trios, iremos organizar os pacientes em filas, de acordo com a ordem de emergência. Cada trio será supervisionado por um orientador.

Fazemos o que ela manda. Eu, Cecília e Bruno ficamos juntos e somos supervisionados pelo Doutor Thompson.

A primeira paciente é uma menininha de cinco anos, que vem até mim descalça, suja e bastante desnutrida.

Minha maior dificuldade em atendê-la é falar sua língua fluentemente. Sinto que os três meses tendo aulas particulares de Árabe, não me ajudaram em quase nada.

Depois de muito penar, consigo manter um diálogo coerente.

Ela apresenta alguns sintomas como dor abdominal, diarreia, febre e calafrios, além de fezes com sangue.

Com certeza Amebíase. — digo para meu supervisor, após examinar Nádia. — Acredito que o tratamento com antiparasitários deva resolver.

Nosso trabalho aqui não é só prescrever remédios, recomende que a mãe faça sempre a fervura da água e alimentos antes que a menina os consuma. — Dr. Thompson fala e concordo prontamente, afinal ele tem o triplo de experiência.

Passamos o resto da manhã levando auxílio médico a seres humanos, que infelizmente não podem desfrutar disto com frequência.

Noto que há várias crianças no assentamento, o que quer dizer que a taxa de natalidade é altíssima. Várias delas correm livremente, brincando e pulando.

Apesar de não terem muito, são felizes!

Eu ando no meio das barracas, e tento converter meu olhar de pena em um olhar de percepção sem julgamentos.

Dou-me conta de que apesar de já ter recebidos comentários vindos de colegas, eu não conheço a fundo a realidade daqui.

Faço uma breve pesquisa no Google, e descubro que o Líbano tem um longo histórico de crises com refugiados. Em 1948, cerca de 700 mil palestinos fugiram da guerra árabe israelense para se abrigarem em campos como este, não só no Líbano, como também na Jordânia, Síria, Turquia e outros países da região. A situação que todos consideravam temporária, se tornou definitiva, criando impasses sociais e políticos.

O assentamento que viemos visitar tem duzentos e oitenta linhagens diferentes, a média de pessoa por família é de oito ou nove.

Eu brinco com os pequenos, falo abertamente com as mulheres sobre contraceptivos, e provo do café amargo que um senhor idoso me oferece.

Volto com o restante dos alunos para a ONG que irá nos abrigar durante os seis meses de intercâmbio.

A música alegre, a hospitalidade, as vestes excêntricas e os sorrisos verdadeiros, me fazem ficar completamente encantada por aquela cultura.

NOTAS DA AUTORA:

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NOTAS DA AUTORA:

Olá lindezas ♡

Quem leu a primeira versão sabe que esse capítulo é novinho em folha.

Era mencionado o intercambio da Jade, mas não detalhado.

Nessa reescrita eu quis acrescentar algumas coisas, como por exemplo: O motivo pelo qual ela fala o idioma tão fluentemente quando se casa com Rayhan, a paixão dela pela pediatria, e até esse lado super maternal que a Jade sempre teve quando se trata de crianças.

Tudo explicado? Então até o próximo. 


A Segunda esposa do Sheik #1Onde histórias criam vida. Descubra agora