~ CAPÍTULO 8 ~

82 14 0
                                    

Ariella Young

Não acredito que estou no avião rumo a França. Sempre tive vontade de conhecer este país e hoje estou tendo essa oportunidade. Quando amanheceu, vi que tinha uma  mensagem do Oliver avisando que seu motorista iria me buscar as dez horas da manhã. Tive que incorporar o flash para arrumar as malas. Fiz tão rápido que não sei exatamente quais são as peças de roupa que trouxe. Aproveitei para usar um perfume francês que ganhei de presente. Uma amiga da minha mãe que se chama Verônica, trazia para mim quando passava uma temporada nos Estados Unidos. Não sei como minha mãe a conheceu, pois nunca me contou. A única coisa que sei é da amizade que uma tem com a outra. Espero poder encontrá-la, vai ser bom ter esse reencontro.
Estou sentada no assento do avião ao lado da janela com os olhos fechados. Que medo. Preciso fingir pelo menos que estou deitada na cama do meu quarto. Apesar do medo que sinto, não recuei. Às vezes, sinto uma agonia, aflição... Não sei, só de ver que  tudo está fechado e que não tem como sair agora é desesperador. Permaneço desse jeito a viagem inteira. Nenhum momento Oliver e eu nos falamos ou se olhamos. Fomos o percurso inteiro em silêncio. Já estou prevendo que será uma viagem longa.
~*~
Assim que saimos do avião. Fomos direto para a saída do aeroporto onde um carro já estava a nossa espera. Não falamos nada um com outro, e nem fiz questão de puxar assunto. Ele está ciente das minhas intenções de querer beija-lo. Deixei isso bem nítido em seu escritório. Então, forçar novamente não vai ajudar. O beijo precisa acontecer, porém naturalmente. Oliver caminha na minha frente com as mãos enfiadas dentro do bolso, enquanto olho em volta encantada com o aeroporto da França. Ao meu lado está o motorista que leva todas as nossas bagagens em um pequeno carrinho. Como iremos ficar apenas três dias, decide trazer apenas duas malas. Ainda acho pouco. Percebo algumas mulheres olharem para Oliver sem disfarçar assim que paramos na saída do aeroporto. Algumas comentam umas com as outras tentando chamar a atenção dele, mas parece que não está dando muito certo. Oliver parece não se importar ou talvez, não tenha notado. Possa ser que elas nem fazem o tipo dele, quer dizer... Nem eu sei o tipo de mulher que esse cara arrogante deve gostar. Aliás não, eu sei... Do tipo maluca. Porque pra namorar a Karen tem que ser um doido. As vezes me pergunto se de fato esse homem já se apaixonou. Gostaria de saber. Há várias pessoas entrando em alguns táxis. Outros esperam do lado de fora alguém específico, enquanto encosto na parede morrendo de sono. A viagem me deixou cansada. Nossa! Nem conseguir dormir direito, acordei cedo com a ligação do chefe e ainda tive que arrumar a mala. Estou exausta. Espero o motorista guardar todas coisas no porta-malas do carro, quando o vejo acenar para mim.
- Senhorita! - O motorista avisa. abrindo a porta do carro. Agradeço com um sorriso e sento no banco traseiro ao lado do arrogante que entra no mesmo tempo que eu.
- Onde devo leva-los, Senhor? - O motorista pergunta, olhando pelo retrovisor.
- O mesmo hotel de sempre. - Oliver responde com um tom amigável. Pelo menos isso. Ser ignorante o tempo todo deve cansar. Ui, que chique! "Mesmo hotel de sempre", deve viajar com frequência para a França, diferente de mim... Primeira vez que piso aqui. Seguro a risada.
Sinto o carro se movimentar, e aproveito para olhar as ruas admirada. Conforme o carro vai passando, olho tudo encantada. As casas, os carros,  a paisagem... Estar em um país diferente é incrível. Até nas pequenas coisas se encontra beleza. Percebo que o silêncio prevalece mais uma vez dentro do carro. Isso é torturante. Será que avançar daquele jeito no escritório foi errado? Fui muito rápida, agora o afastei por completo. Merda! Dou uma olhada rápida para o motorista e depois volto a olhar a rua.
Ficar em um lugar diferente e não poder comentar, conversar, tirar fotos, rir com alguém é horrível. Ele já deve está acostumado viajar sozinho, mas para mim... Esta sendo a primeira vez. Quero registrar cada passo. Viro o rosto disfarçadamente na sua direção, e paro para observa-lo. Sem perceber já estou examinando os traços do seu rosto, o contorno dos seus lábios, os seus olhos azuis, o seu nariz perfeito, cada detalhe é de se admirar. De repente, Oliver me flagra olhando. Me ajeito no banco desconcertada. Não queria que ele percebe-se.
- Por que esta me olhando assim? - Ele pergunta, secamente. Sinto um nó na garganta. Vontade de responder "Porque eu quero." ou "O olho é meu, olho o tempo que eu quiser". Vou precisar segurar a língua mais uma vez.
- Não é nada. - Respondo, voltando a encarar as ruas. Percebo seu olhar sobre mim. O que me deixa sem graça. - O Senhor tem algum motivo para está me olhando?
- Se eu tenho ou não, acha que eu te contaria? - Ele ronrona. Sorrio.
- Acho que não, mas tenho vontade de saber o que você tanto pensa ao meu respeito. - Murmuro.
- É melhor não saber. - Oliver responde, sem ignorância. O que me deixa curiosa. Acho que é a primeira vez que recebo uma resposta calma da sua parte. Deixo um sorriso escapar e volto a minha atenção a rua. O silêncio como sempre é nosso companheiro aqui. Não nos falamos mais durante uma hora, até chegarmos ao hotel. Pensei que demoraria ainda mais. Já estava até cochilando quando o motorista parou o carro. Assim que piso no chão do estacionamento fico muito encantada com a beleza do lugar. Paraliso assim que meus olhos encaram o hotel que iremos ficar hospedados. Estou realmente admirada, o hotel é espetacular por parecer com aqueles castelos medievais. Se a intenção foi essa merece aplausos. O motorista coloca minhas malas no chão, e tampo a boca para bocejar. Assim que eu entrar no quarto vou dormir um pouco. Não devemos fazer nada mesmo.
- Hoje a noite teremos um evento.- Oliver avisa parecendo ler meus pensamentos. Merda! A vontade de dormir foi cancelada. Ele continua:
- Vou dar o meu cartão para você comprar o que quiser.- assim que termina de falar, começa a caminhar para a entrada do hotel. Reviro os olhos. Adeus cochilo. Adeus descanso. Que cacete... Não posso nem dormir. Parece que leu meu pensamento e fez de pirraça. Só pode.
- Ei... estou na França, Oliver. Não falo francês, não conheço nada aqui, como vou fazer compras? - pergunto, espantada.
- Primeiramente, é Sr. Oliver e não Oliver, e segundo... Pare de fazer perguntas. - Ele repreende me dando as costas. Bugo.
- Como não quer que eu pergunte? Olha o que está me pedindo... E... Não posso aceitar o seu cartão, não tenho como devolver o dinheiro. - confesso, sem graça. Paramos em frente a recepção do hotel.
- Ariella não quero que me pague nada. Apenas compre o que precisar para ir a esse evento e acabou. Assunto encerrado. - Oliver explica,  irritado.
- E quem irá comigo fazer compras? O Senhor? - pergunto.
- Deus é mais. - ele balbucia me fazendo rir. Reviro os olhos.
- Então, quem?- insisto.
- Uma velha... Amiga. - Ele responde, sem importância. Franzo a testa. Depois que o vejo pegar o cartão do quarto ando até o elevador. Meu celular começa a vibrar no bolso da minha calça, e noto pelo canto do olho Oliver me olhar. Pego o aparelho imediatamente, e vejo o nome da
"Karen" no visor. O que será que ela  quer agora? Ninguém merece, não posso atende-la, não com Oliver perto de mim. Encerro a chamada rapidamente, e guardo o celular. A porta do elevador se abre, e entramos juntos. Enquanto não chegamos ao  andar desejado, tento pensar em qual roupa pretendo ir a esse evento. O que comprar? Não sei o tipo de evento que iremos, o que deve ou não vestir. Ele não fala sobre isso e eu não vou perguntar. Assim que chegamos no nosso andar Oliver segue primeiro pelo imenso corredor com vários quartos um do lado do outro. Observo os números quando o vejo parar na frente do quarto vinte e quatro. Reprimo uma risada ao lembrar do que as pessoas falam quando se referem a esse tipo de número. As pessoas inventam cada coisa.
- Quarto vinte e quatro. - murmuro.
- Algum problema com o número?- Oliver pergunta, sem olhar para mim.
- Não! - eu disse, reprimindo uma sorriso. Entro no quarto, e olho todos os cômodos quando algo específico chama a minha atenção. Apenas uma
uma cama? Como assim? Noto que o quarto parece mesmo com um apartamento. Tem uma televisão pendurada na parede com um sofá preto de couro de três lugares e uma pequena mesa de centro, olho também uma enorme porta de vidro que deve da acesso a varanda, um banheiro, geladeira. É... Está ótimo. É bem espaçoso.
- Só tem... Uma cama Oliver. - aviso surpresa.
- Cadê a formalidade? - Ele pergunta, com um tom rude. Reviro os olhos.
- Sr. Oliver, vamos dormir na mesma cama?-  pergunto diretamente.
- Achei que gostaria da ideia já que tentou me beijar sem o meu consentimento. - ele responde com o tom irônico. Bufo. Cruzo os braços.
- Estava fora de mim. - retruco.
- Todos os quartos estão lotados. Esse foi o único que conseguir reservar em cima da hora.
- Okay.- Respondo, baixo. Não vou prolongar mais o assunto não quero me estressar.
- Como pode ver tem um sofá. - Oliver comenta.
- O que está querendo dizer? - Pergunto, desconfiada.
- Pode dormir no sofá, e eu fico na cama se preferir. - ele responde, tranquilamente. Franzo a testa.
- Não concordo com essa divisão. Acredito que o ideal é que eu fique na cama e o Senhor no sofá. - sugiro satisfeita.
- Jamais vou dormir no sofá sendo que tem uma cama imensa para dormir.
- Dormiremos nela então. - falo dando de ombros.
- Exatamente. - Ele caminha para o banheiro quando escuto alguém bater na porta. Como Oliver foi tomar banho, decido verificar quem é.
Viro a maçaneta devagar, e vejo uma mulher de cabelos loiros, estatura baixa na minha frente. Ela entra no quarto de nariz empinado olhando para os lados a procura de algo ou alguém.
- Quem é você? - Pergunto sem entender sua invasão.
- Onde Oliver está? - A moça pergunta, com um olhar esnobe ignorando minha pergunta.
- No banheiro. E a senhora quem é? - pergunto, novamente.
- Sou amiga dele a Bruna, e você a secretária? - Na hora de responde-la Oliver aparece. Merda! Queria dizer "Secretária do seu c**", brincadeirinha. Não sou de descer no nível assim - quer dizer, só se precisar.
- Meu lindo, quanto tempo. - Ela abre um sorriso parecendo até um palhaço de tão largo e o abraça alegremente. Reviro os olhos com a "linda" cena.
- Oi, Bruna.
- Vim aqui porque me pediu para  acompanhar sua secretária para fazer umas compras, faz tanto tempo que não lhe vejo. - Oliver assente sem expressão nenhuma no rosto. Seus olhos encontram os meus.
- Aqui está... Compre o que quiser. - Ele me entrega o seu cartão junto com a senha, e se vira para Bruna que esta sem graça pela maneira como foi recebida. Acho que se ela fosse realmente amiga dele como diz. Já deveria está acostumada com esse jeito que ele tem.
- A leve nas melhores lojas e se ela quiser pode passar no salão também.- Oliver avisa com um semblante sério. Ui! Vou me sentir a rica. Avisando para eu ir nas melhores lojas? Nossa, estou com essa moral toda então. Reprimo a risada.
- Vou levar sua secretária e daqui a pouco a trago de volta. - Será possível que ela vai querer repetir minha função a todo momento? A encaro com os braços cruzados.
- Por gentileza, eu tenho nome senhora. Então me chame de Ariella e não de secretária. - Peço franzindo o cenho, e passo por ela saindo do quarto.
- Não me chame de senhora. Eu não  sou velha. - ela fala aparentando está ofendida.
- oh, perdão. É que parece. - Respondo em um tom elevado enquanto caminho pelo corredor até o elevador sem olhar pra trás. Estou com muita fome. Será o final de semana mais longo da minha vida.

Ariella - Uma Escolha (1° LIVRO) Onde histórias criam vida. Descubra agora