~ CAPÍTULO 30 ~

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Ariella Young

Me apoio na varanda do quarto do Nicolas pensativa. Não sei o que se passa na cabeça dele. O percurso inteiro ficou em silêncio como se estivesse pensando em alguma coisa. Algo o incomoda, isso é perceptível.
Depois de ter chegado em sua casa, ele decidiu tomar um banho já que na minha casa foi apenas uma "brincadeira" embaixo do chuveiro. Escuto seus passos dentro do quarto, e olho por cima do ombro o vendo mexer em seu celular. Entro apreensiva, e cruzo os braços. Nicolas está usando uma calça moletom preta e uma camisa branca. Sento em sua cama, e passo a mão levemente no lençol sentindo a maciez do tecido. Ergo o olhar. Nicolas está distraído no celular.
- Está ocupado? - pergunto, atraindo a sua atenção.
- Não... Esta com fome? - Ele pergunta, guardando o seu aparelho, aparentando estar incomodado com alguma coisa.
- Não muito. - respondo examinando o seu rosto.
- Venha, vamos para a cozinha. - ele passa por mim. Seguro o seu braço o fazendo parar. Nos olhamos.
- Me fala o que esta pensando.- peço, desconfiada.
- Não estou pen...- não o deixo falar.
- Está sim, Nick. Ficou calado o percurso inteiro. Nem olhou para mim. O que foi? - Pergunto, esperando uma resposta.
- Por que me pergunta se não vai responder? - ele franze a testa.
- Do que está falando? - cruzo os braços.
- O que a Karen quis dizer com divisão de pessoa? Isso foi relacionado a quem? Você? - Nicolas pergunta, com um semblante sério.
- Não acredito que ainda esta com isso na cabeça.Você não namora e eu não namoro, ou seja, não temos motivos para tal situação. - retruco.
- Ary... Você sabe do que estamos falando. Já conversamos sobre isso.- Nicolas murmura.
- Exatamente. Não quero ficar falando disso. Karen é louca... Louca. - aviso, preocupada.
- Está bem. Vamos descer.- Nicolas pede com um sorriso fraco. Balanço a cabeça positivamente, e solto um suspiro de alívio assim que ele me dá as costas. Essa foi por pouco. Se essa conversa continuasse, não sei mais o que poderia inventar. Ando logo atrás, o seguindo até a cozinha, mas sabendo que no fundo Nicolas está desconfiando de algo.

~*~

Estou sentada na mesa comendo macarrão com bastante molho e queijo enquanto Nicolas esta falando ao celular. Fico o examinando por alguns minutos. Qual seria sua reação ao descobrir o que fiz? Me odiaria? É difícil de adivinhar. Limpo a boca com o guardanapo, e seguro a taça de vinho. Dou um gole demorado assim que o vejo encerra a chamada. Ele caminha na minha direção. Seus braços me envolvem, e sorrio com o gesto carinhoso.
- Gosto quando faz isso. - confesso, virando o rosto para olha-lo.
- Durma aqui, Ary.- Ele sussurra em meu ouvido me deixando arrepiada. Arregalo os olhos.
- Melhor não, Nick. - afirmo, com um sorriso. Não sei o que pode acontecer se eu ficar. Não quero avançar nada entre nós.
- Por que? Você pode dormir no meu quarto a vontade. - ele sugere sem problema.
-  E você? Dormirá no tapete? - Pergunto, arqueando a sobrancelha.
- Dormiremos juntos. Ficamos assim na casa dos meus pais. Não vejo problema nenhum repetir, você ver? - Nicolas pergunta, sorrindo.
O encaro, pensativa.
- Não vejo problema. - respondo, indecisa. Quero ficar, mas ao mesmo tempo sinto que não deveria aceitar. Estou arriscando de mais.
- Então, por que esta pensando tanto?- ele senta ao meu lado, e pega a taça da minha mão. Bebe um gole demorado, e pisca o olho para mim.
- Eu fico. - respondo, com um sorriso.
- Ótimo! Vamos para o quarto.- ele fala, segurando a minha mão. Arregalo os olhos, surpresa e paro de andar. Seus olhos encaram os meus.
- Lá tem televisão, Ary. Não disse no duplo sentindo. - Ele avisa, dando risada. Que pensamento malicioso eu tenho. Começo a rir com a minha idiotice, e vou para o seu quarto.
Deito na imensa cama, e o observo pegar o controle da televisão.
- Tem como você me levar para a casa amanhã antes do trabalho? Não sabia que ficaria aqui, então não trouxe nada. - peço, com uma voz de dengo. Nicolas desliga a luz, e deita ao meu lado.
- Claro que sim. - Sorrio. Cubro os nossos corpos com o um cobertor grosso, e deito em seu peito assim que o filme começa.
- É de romance? - pergunto, sorrindo.
- Não, de terror.- Nicolas responde, em voz baixa.
- Melhor assim, não quero chorar hoje. - afirmo. Ele rir, e me olha confuso.
- Você chora assistindo filmes?
- Claro. Filmes de romances sempre tem uma emoção.- confesso.
{...}
~*~
Acordei com minha perna em volta da cintura do Nicolas o encontrando dormindo. Nossa! A única reação que tive foi retirar ligeiro antes que ele acordasse. Fiquei muito envergonhada. Não demorou muito para sairmos já que pedi que me levasse cedo.
Estou na frente da minha casa com uma cara de sono terrível. Preciso dormir depois do trabalho. Tiro o cinto de segurança, e sorrio em agradecimento.
- Muito Obrigada. - eu disse, abrindo a porta.
- Disponha. Vou para a empresa agora, assim que estiver pronta me avisa que venho busca-la. - ele avisa, sorrindo.
- Tudo bem. - respondo, saindo do seu carro. Percebo a porta da minha casa entreaberta. Que estranho.
- Não esqueça de me ligar. Estarei esperando. - Nicolas avisa, ligando o carro.
- Está bem, tchau. - Aceno com a mão.
Viro a cabeça para a porta, e vou me aproximando lentamente. Assim que entro em casa vejo a minha mãe no centro da sala com um papel nas mãos. Posso ver que está chocada com alguma coisa. Ando na sua direção.
- Que cara é essa, mãe? - Pergunto, preocupada. Seus olhos ainda permanecem fixos no papel.
- Isso não esta acontecendo. - ela sussurra.
- Do que está falando? - pergunto, em voz alta.
- Te-te-temos uma... Casa.- Cris responde, com dificuldade. Franzo a testa.
- Não estou entendendo nada, mãe. É alguma brincadeira? - pergunto, tirando o papel da sua mão.
Leio apressadamente vendo o nome da minha mãe escrito logo acima na parte direita da folha como proprietária de uma casa em um endereço que desconheço. Fico de boquiaberta. Todos os documentos da casa estão grampeados junto. Olho para a casa alugada.
- Quem te deu isso? - pergunto, perplexa.
- Não sei, colocaram por baixo da porta. - minha mãe responde, nervosa.
- Só pode ser falso. Algum maluco não tem o que fazer. - murmuro, jogando o papel no sofá.
- Não parece ser falso, filha. Tem meus dados, o meu nome completo.- Cris avisa, pegando o papel em cima do sofá novamente.
- Isso é impossível, mãe. Não comprei uma casa e nem a senhora. Quem foi?- pergunto exaltada cruzando os braços.
- Seu amigo, Nicolas? - ela indaga, confusa. Nego com a cabeça.
- Acho que não. Passei a tarde inteira ao seu lado e não me disse nada e ele não sabe de muita coisa sobre esse assunto.- respondo, voltando a examinar o documento da casa. Alguém toca a campainha. Minha mãe e eu nos olhamos. Caminho até a porta em silêncio, e abro-a de imediato vendo um caminhão parado na frente da casa.  Quatro homens descem fardados com um boné na cabeça como se fossem funcionários de algum lugar.
- O Luís vai se mudar? - cochicho.
- Tudo indica que sim.- Cris sussurra, em resposta atrás de mim.
- Bom dia, senhoritas. - O rapaz cumprimenta com um sorriso admirável ao se aproximar.
- Bom dia. - respondo, desconfiada.
- Viemos buscar somente o necessário. O que desejam levar? - ele pergunta, com um semblante sério.
- Opa, opa! Calma meu rapaz, não estou entendendo nada. Pode explicar? - pergunto, gesticulando. O celular do rapaz começa a tocar.
- Um minuto, senhorita. - ele avisa, se distanciando. 
- Isso é algum tipo de brincadeira maldosa? - Cris pergunta, abismada.
- É o que pretendo descobrir.- sussurro. O rapaz não demora muito para encerrar a ligação se aproximando de nós.
- Estamos aqui para levar o que as senhoritas querem para a casa nova.- ele avisa sem explicações o que me deixa confusa.
- Calma... Como você quer que a gente faça algo se não estamos entendendo nada? - pergunto, pasma. Um carro preto se aproxima parando logo atrás do caminhão. Franzo a testa ao reconhece-lo. Não pode ser. Oliver desce do carro ajeitando seu paletó com um semblante sério. Arregalo os olhos. Me afasto da casa a passos largos indo na sua direção.
- É o autor disso tudo? - pergunto, perplexa. Seu cheiro delicioso exala o ambiente o que me deixa um pouco desnorteada. Foco, Ariella. Mantenha o foco.
- Sim. - Ele responde, secamente.
- Ficou louco? - pergunto, chocada. Oliver coloca as mãos no bolso da calça, e me olha. Seus olhos azuis transmitem uma intensidade indecifrável, mas faz meu corpo todo se arrepiar. Ficamos nos olhando por alguns minutos em silêncio.
- Ariella... - ele inicia olhando para o caminhão.
- Por que fez isso? - Pergunto com a voz embargada.
- Porque eu quis fazer. - Ele responde, dando de ombros. Cruzo os braços.
- Isso não é resposta. Tem noção do que fez? - pergunto sem acreditar que isso realmente está acontecendo.
- É melhor se apressar, Ariella. - Oliver ordena, irritado.
-  Sentiu pena da minha história de vida? É isso que aconteceu? - Franzo a testa.
- Não fiz por pena, Ariella.- ele responde se sentindo ofendido ou finge estar. Dou um passo para frente, e deixo nossos rostos a um palmo de distância.
- Por que fez isso? - insisto. Ele suspira profundamente antes de olhar nos meus olhos.
- Não me faça perguntas. - reviro os olhos com a sua resposta.
- Tudo bem. Não posso aceitar, obrigada.- Fico de costas quando sinto sua mão segurar meu pulso. O encaro no mesmo instante ao sentir seu toque.
- Eu fiz você perder o teste que tanto queria. Apenas estou... Recompensando. Aceite. - Oliver finalmente explica soltando a minha mão. Meus olhos ficam marejados.
- Pensei que tinha sido recompensada com o emprego. Isso é uma casa... Não posso aceitar algo assim. - respondo, em voz baixa.
- Prefere morar na rua? Olha a sua situação, Ariella. Pare de ser orgulhosa. - ele reclama, impaciente.
- Só que...- tento dizer algo.
- Não, não quero perguntas. A casa é de vocês, assunto encerrado.- Oliver passa por mim.
- Talvez, eu nunca saiba o verdadeiro motivo para esse gesto, mas serei eternamente grata.- murmuro. Ele para de andar assim que ouve minha voz, e olha para baixo sem dizer nada. Fica alguns segundos na mesma posição, antes de se afastar para ir até a minha mãe que continua imóvel. Fecho os olhos. O que está acontecendo? Oliver deu uma casa para nós. Depois de tudo o que fiz, me sinto um verdadeiro lixo. Engulo em seco. Observo minha mãe começar a chorar de alegria, e fico sem jeito. Nunca irei me perdoar, pelo que fiz. Apesar de não ter o dispensado como disse para a Karen, eu mentir para todos. Concordei em fazer algo ruim e não me orgulho disso. Me aproximo deles que conversam algo que não consigo ouvir.
- Aqui está a chave da casa. - ele avisa, colocando um chaveiro na minha mão. Lágrimas escorrem copiosamente pelo meu rosto.
- Obrigada. - minha mãe agradece diversas vezes, ainda em estado de choque. Não dá para acreditar. Parece que estamos tendo o mesmo sonho. A vejo seguir os rapazes para dentro da casa, enquanto Oliver faz menção de voltar para o seu carro. Sem perder mais tempo o abraço por trás colocando minhas mãos em volta da sua cintura o impedindo de continuar.
- Não tenho palavras para agradece-lo. Obrigada, obrigada... Muito obrigada.- sussurro, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Ele se vira devagar. Pela primeira vez o vejo me olhar com ternura. Seus dedos passam pela minha bochecha para secar as lágrimas.
- Quero que saiba que não fiz por pena. Fiz porque você merece. É batalhadora e eu admiro isso em você, Ariella. Se eu tenho condições de fazer, eu faço.- Oliver responde me deixando sem reação. Não esperava ouvi-lo dizer isso.
- Obrigada, Senhor.- murmuro. Ele assente em silêncio e da um sorriso de canto antes de me dá as costas para ir embora.
- Não precisa ir para a empresa hoje.- Ele responde com um semblante leve e entra no carro. Fico parada na frente de casa observando o automóvel sumir da minha vista. Sinto um aperto no peito.
Encaro a chave da casa nova na minha mão demoradamente.
- Oliver é um homem surpreendente. - Sussurro, sozinha.

Ariella - Uma Escolha (1° LIVRO) Onde histórias criam vida. Descubra agora