É possível haver recomeço depois de uma vida de tantas mentiras? Lívia queria acreditar que sim. Até porque o que tinha vivido a sua vida inteira foi uma farsa. Se sentia enganada, e o sentimento não era nada reconfortante.
Mas agora, dois anos depois de tudo o que passou e causou, ela queria esquecer.
Iria ser fácil. Tinha que ser.
Lívia olhou para o teto. Havia acordado antes do horário, então, ficou na cama esperando dar a hora de se aprontar para a aula.
Quando deu, foi para o banheiro, tomou seu banho e vestiu-se. Ao olhar para o espelho, tocou no bordado do uniforme da Escola Americana do Recife. Depois encarou seus olhos, e enxergou uma nova pessoa. Aquele era o primeiro dia de um recomeço. Sem os erros do passado.
Dessa vez seria diferente.
Ela finalmente conseguiu ver, enquanto escovava seus cabelos dourados, uma nova Lívia. Sorriu para si mesma, pois gostou disso.
Havia chegado na cidade a poucos meses, e não conhecia ninguém. Aliás esse era o principal motivo da nova vida. Sua família queria recomeçar em outro lugar, e embora o passado ainda assombrasse Lívia, ela não corria o risco de estar na rua e ser vista por alguém que pudesse a reconhecer e chamar-la de mentirosa, falsa ou até mesmo criminosa.
Ela não era nada daquilo.
Ao pensar nisso, engoliu qualquer indício de choro, já havia chorado demais por todo aquele sofrimento.
E agora, as pessoas a conheceriam por quem ela era de verdade, transparente e autêntica.
Seu pai a levou de carro para a escola, e como morava numa casa à beira mar, o caminho parecia não ter fim, ou ela apenas estava ansiosa.
Mas enfim chegou.
Entrou e logo na entrada havia uma multidão de pessoas querendo saber sua sala nas listas pregadas num grande mural na recepção da escola.
— Boa sorte, filha. — disse seu pai, beijando-lhe o topo da cabeça e se retirando em seguida.
— É o que eu espero — sussurrou.
Quando o grupo diminuiu, se aproximou até achar a lista das turmas do segundo ano.
Sala 13. Saiu a procura da sala, que ficava logo no primeiro corredor.
Avistou de longe o grande pátio e pode ver as pessoas conversando, se cumprimentando, e sentiu falta daquilo. Dos bancos velhos, das árvores, da arquibancada, da cantina, das aulas e até das provas.
Só riu consigo mesma ao ver que sentiu falta de fazer avaliações. "Logo, eu não sentirei mais". Pensou.
Ao adentrar na sala e sentar-se numa carteria lateral ao fundo, uma garota com cabelos numa trança lateral muito bem feita, com óculos redondos e um papel na mão sentou na cadeira à sua frente.
— Você é Lívia Uchôa, certo? Muito prazer, sou Mabel.
Lívia se assustou ao ouvir seu nome completo, mas viu que a menina tinha escrito no seu papel.
— Olá — ela disse apertando sua mão.
— Bom, estou falando com todos os novatos da turma, por que fui a representante no ano passado, e se for esse ano de novo, hum, quero estar bem na fita.
— Bom, você já tem o meu voto.
— Nossa, não! Não estou fazendo boca de urna pra você, avalie os outros candidatos também. Só quis vir me apresentar.
— Eu sei.
— Seja bem-vinda, Lívia.
— Obrigada.
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Garotas e Segredos
Teen FictionA vida de quatro garotas se cruzam e elas possuem algo em comum: são alvos de Angelina, uma garota que adora fazer jogos e criar rivalidade. Para o azar delas, uma noite revira tudo de cabeça para baixo e uma série de acontecimentos estranhos começa...