Capítulo 2: Celina

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Celina precisava voltar para a sua pequena experiência. Passou a manhã toda com uma garota nova do seu prédio, que se chamava Marjorie, e acabou perdendo a noção do tempo. Tinha que aproveitar o tempo em que seus pais estavam fora, para se divertir um pouco.

Mas mesmo assim, havia gostado da sua nova vizinha, e esperava que ficassem amigas.

Agora, após colocar uma lasanha pronta para descongelar no micro-ondas, ela tirava o lençol de cima da sua mesinha, no seu quarto.

Desde que se apaixonou pela física, ela começou a ver experimentos nos livros e na internet para praticar em casa.

Mas nem sempre podia fazê-los, uma vez que seus pais não sabiam que ela não iria fazer medicina. Ela ainda nem fazia ideia de como iria contar, mas, enquanto isso, estudava sua matéria favorita na ausência deles.

Após comer sua lasanha, ela começou a mexer no pequeno campo magnético que estava criando. Até agora, nada deu errado, porém só havia testado com objetos pequenos. Queria colocar uma bola de boliche para flutuar. Seria fantástico. Ela se animava só de pensar.

Pegou o telefone e discou o número.

— Ramona, vem para cá, já acabei.

— Posso levar meu aparelho de som?

— Não, né. Você tem que trazer objetos pequenos.

— Tá bom.

Desligou o telefone e anotou as informações a partir do que já tinha analisado.

Pegou o livro de física e ficou lendo tudo pela décima vez, para que não tivesse nenhum erro.

— O que você explodiu dessa vez? — Ramona brincou ao entrar no quarto.

— Até agora nada. Mas não descarto a possibilidade.

— Então tchau. — ela disse se virando para a porta.

Celina sorriu. — Volta agora.

Ela ajeitou uma coisa e outra no seu experimento, o sorriso de empolgação e medo ao mesmo tempo, pegou seu controle improvisado e apertou o botão. A bola de metal começou a flutuar, e as duas contemplaram, ainda receosas de que algo pudesse dar errado.

Não era grande coisa, e Celina sabia disso, mas, mesmo assim, era o início de uma paixão inexplicável pela física, e tudo o que ela pensava era em poder fazer grandes descobertas na ciência.

— Você conseguiu. Bem melhor que a pilha de batata da semana passada. — disse Ramona.

— É, né. — ela respondeu, feliz. — Por favor, vê se não solta isso quando meus pais voltarem. Da última vez eles ficaram vasculhando minhas coisas, dizendo que robótica era coisa de quem não tinha o que fazer.

— Relaxa, nem venho aqui nos próximos dias, para não arriscar. Mas também, você tentou fazer um robozinho!

— Um robozinho fofo, e você adorou a ideia.

— É. Pena que ele morreu.

Após aproveitarem o brinquedo novo, Celina o pôs num fundo de um armário que tinha no seu quarto. Na frente, havia brinquedos e livros que guardava desde sua infância, mas, no fundo, havia todas as suas bugigangas, que esperava fielmente que lhes fossem úteis algum dia.

Fazia anos que Ramona era sua melhor amiga, daquelas de fazer tudo juntas. E aquele dia era o dia de assistirem a série favorita delas, Gilmore Girls. Jogadas no sofá dividindo um pote de sorvete, ainda estavam no primeiro episódio, quando Ramona perguntou:

— E aquele garoto do ano passado?

— Hein? — Às vezes era difícil para Celina interpretar as coisas que Ramona falava. E dessa vez ela realmente não havia entendido.

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