Capítulo 11

228 48 14
                                    

ANTES


No início de seu caso com Ludmila, Carlos Henrique até procurava desculpas para justificar seus atrasos para chegar tarde em casa. Com o passar do tempo, porém, ele parou de inventar histórias para sua esposa.

Afinal, ela parecia não suspeitar de nada. Ainda, o marido achava que nada demais poderia acontecer com ele caso Vera Lúcia viesse a descobrir seu adultério. Carlos estava confiante de que sua esposa nunca se separaria dele, pois ela não tinha onde cair morta.

Não tardou muito, portanto, para que aquele homem relaxasse e começasse a curtir aquele pulada de cerca. Na verdade, estava tão despreocupado que até resolveu marcar aquele novo encontro num local a meia hora de sua casa.

Carlos estava sentado em um barzinho conhecido por muitos do seu trabalho. Às vezes, até mesmo ia às noites de sexta feira beber com alguns colegas por lá.

Não estava nem um pouco acanhado com a possibilidade de encontrar um companheiro de serviço por lá. Na verdade, até torcia por isso. Ficaria todo cheio de vaidade por exibir aquela loira jovem para os outros homens, como se fosse um troféu.

Não demorou muito, e Ludmila chegou. A garota começou a pedir desculpas pelo atraso, com aquele jeito doce e leve que sempre enlouquecia Carlos Henrique. O homem até mesmo sorriu, algo difícil de se ver naquela cara sempre tão cansada e carrancuda.

— Tem necessidade de se desculpar não, minha princesa — disse Carlos, envolvendo as mãos pequenas da moça entre as suas. — Por você, esperava até ano que vem.

A moça baixou a cabeça, dando um risinho de timidez. Uma mecha loira caiu sobre o seu rosto e ela a afastou. Esse gesto simples em conjunto com o acanhamento da garota fazia aquele homem se excitar ainda mais. Se não fosse crime de atentado violento ao pudor, a possuiria ali mesmo, naquela mesa de bar.

Recompondo-se, Ludmila tirou de dentro de sua bolsa uma pasta, entregando-a para Carlos. O homem afastou o copo de cerveja e limpou a mesa com o guardanapo. Depois, deitou objeto na madeira do móvel. Após abri-la, começou a paginar um conjunto de folhas grampeadas.

— Tá aí o contrato — disse-lhe Ludmila. — Claro que essa é uma cópia. E também não foi difícil colocar as rubricas da tua mulher na folha e a assinatura no final.

— E onde está aquele outro contrato que você tinha me pedido?

A moça esticou a mão para separar um outro conjunto de folhas. Só então Carlos Henrique percebera que ele acabou pegando os dois contratos de uma vez, fazendo parecer que era apenas um.

Fora com aquele último documento original que Ludmila conseguira falsificar a maioria das informações de Vera, inclusive a assinatura e a rubrica.

— Tá aqui o troco — disse a garota, colocando umas notas sobre a mesa.

Carlos Henrique pegou as cédulas e franziu o cenho. Vendo o estranhamento de seu namorado, a moça falou:

— Esse foi daquele dinheiro que você me deu pra eu molhar a mão do meu colega do cartório. Não dava pra fazer esse contrato sem o reconhecimento de firma da tua mulher, tá ligado?

Ele sorriu, não apenas pela "honestidade" de Ludmila ao lhe dar o troco, sim por ter recebido um dinheirinho a mais no meio de tantos gastos com aquele plano.

— Como você conseguiu que sobrasse? — indagou Carlos.

— O cara é velho conhecido meu da faculdade. Foi difícil não.

Nesse momento, ele desceu os papéis para a mesa, e a face daquele homem voltou à sua habitual carranca. Vendo os ciúmes de Carlos, Ludmila sorriu. Ela esticou a sua mão, e com a ponta dos dedos, coçou uma orelha dele. Aquele era um ponto fraco que imediatamente desarmava o trabalhador.

Deu certo, e a raiva de Carlos Henrique desaparece antes mesmo de manifestar-se de verdade. Ainda lhe fazendo carinho, Ludmila retrucou:

— Querido, não tem motivos pra você se preocupar. Só que eu tenho que manter contato com todo tipo de gente pra conseguir favores como esse. Se não fosse isso, os planos da gente não teriam saído do lugar. Eu fiz tudo isso só por você.

Carlos deu um sorriso minguado.

— O que foi? — questionou Ludmila. — Fiz alguma coisa de errado, meu amor?

— Não, não é isso — disse Carlos Henrique, passando a mão em sua própria face. — É que a carência desse seguro é muito grande, e eu ainda tenho que gastar mais com a mensalidade. Só que os caras tão na minha cola pra eu pagar o empréstimo. Eles me ameaçaram. Se tivessem ameaçado só a velha lá de casa eu nem tava preocupado... — e acabou dando uma risada — mais aí só seria bom se matassem ela depois da carência.

Ludmila correspondeu ao riso. Logo em seguida, fora a vez da moça envolver com suas mãos o punho daquele homem.

— Tenha calma, meu amor — disse a loira. — Esse tempo vai passar rápido, e depois disso é só esperar mais um pouco. Vai ter dinheiro pra você quitar sua dívida e vai sobrar muito mais até pra gente começar uma vida nova.

Bastou Ludmila usar as palavras mágicas "dinheiro de sobra" para que qualquer traço de receio evaporasse do rosto daquele homem. Um sorriso largo brotou nos lábios de Carlos Henrique, e ele começou a gargalhar alto.

O trabalhador estendeu a mão para o garçom, pedindo mais uma rodada de chope para ele e para Ludmila. Os dois brindaram às possibilidades de uma nova vida cheia de grana. Tão contentes que estavam alheios a tudo a sua volta.

Tanto que nem perceberam, há bons metros de distância, um celular apontando para os dois. Alguns toques na tela e aquela reunião era registrada com a câmera do aparelho. Quando havia provas o suficiente, o telefone fora guardado na bolsa.

Vera Lúcia ergueu um olhar incrédulo e cheio de fúria para o seu marido e a amante dele. Não podia mais se submeter a tanta humilhação. Estava na hora de ter um confronto definitivo com seu esposo.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora