Capítulo 43

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Tac. Tac. Tac. O ritmo era o mesmo, como das diversas outras vezes. A velocidade, porém, agora estava muito maior do que o normal.

A delegada Taís Ramos já perdia a paciência com aquele beco-sem-saída. Era muito óbvio que Vera não agira sozinha. Também, era bastante claro que a morte de Maria Efigênia fora por demais conveniente.

A jovem agente da lei quase podia ver as cordas, contudo não conseguia ter provas ainda que Lúcio Mauro era o verdadeiro mentor de tudo. Não haveria, no entanto, tempo suficiente para Taís conseguir apanha-lo.

Por mais que quisesse cumprir com seu dever, a delegada não queria complicar a vida de uma pobre dona de casa.

Taís estava ciente de que Vera cometera o crime de falso testemunho, todavia ela poderia muito bem responder a esse crime em liberdade.

A situação da dona de casa, contudo, complicava-se quando se somavam os crimes de assassinato e ocultação de cadáver. Sendo ré confessa desses delitos, Vera não iria se livrar tão fácil da condenação.

O que de fato agravava essa situação era o outro processo sofrido pela viúva; o da morte acidental de Maria Eduarda. Na época, o juiz acabou por considerar que a sua perda fora condenação o suficiente.

Ademais, o quadro de depressão pós-parto serviu para amenizar a situação daquela mulher. Um segundo processo, no entanto, não teria a mesma benevolência.

O tempo estava passando, e logo Vera teria que ser encaminhada para o presídio. Já havia permanecido além do necessário naquela delegacia.

Em breve, Taís não teria mais opção a não ser transferir aquela senhora para a penitenciária feminina.

Um policial de plantão bateu em sua porta. Vinha lhe avisar que um homem viera dar queixa do desaparecimento de sua namorada. Taís autorizou.

Era Roberto, comunicando o sumiço de Ruth. A mulher havia pedido a sua moto emprestada para ir atrás de Lúcio Mauro há dois dias.

***

Atrás das grades da cela, Vera deu dois passos para trás. Arregalou os olhos, boquiaberta. Ouvira cada palavra do que a delegada lhe dissera, contudo não conseguia absorver direito.

Ruth estava seguindo Lúcio Mauro, disposta a provar que o sobrinho era o verdadeiro culpado de tudo. Ela desaparecera.

O filho de Vera, por sua vez, estava viajando, de acordo com o porteiro de Vila Margarida.

Não, a dona de casa não podia acreditar que seu menino poderia ir tão longe para ocultar o segredo dos dois.

Sabia que ele tivera coragem de matar Carlos Henrique, contudo fora apenas para livra-la daquele monstro. Agora, a sua irmã...?

Vera ergueu o olhar, ainda incrédula. Taís já se afastava, caminhando pelo corredor das celas. A dona de casa chamou pela delegada. A moça voltou-se para a mãe de Lúcio.

Ainda atônita e sem saber o que fazer direito, Vera pediu:

— Por favor, eu quero falar com meu advogado... vou pedir o meu habeas corpus.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora