Tac. Tac. Tac. O ritmo era o mesmo, como das diversas outras vezes. A velocidade, porém, agora estava muito maior do que o normal.
A delegada Taís Ramos já perdia a paciência com aquele beco-sem-saída. Era muito óbvio que Vera não agira sozinha. Também, era bastante claro que a morte de Maria Efigênia fora por demais conveniente.
A jovem agente da lei quase podia ver as cordas, contudo não conseguia ter provas ainda que Lúcio Mauro era o verdadeiro mentor de tudo. Não haveria, no entanto, tempo suficiente para Taís conseguir apanha-lo.
Por mais que quisesse cumprir com seu dever, a delegada não queria complicar a vida de uma pobre dona de casa.
Taís estava ciente de que Vera cometera o crime de falso testemunho, todavia ela poderia muito bem responder a esse crime em liberdade.
A situação da dona de casa, contudo, complicava-se quando se somavam os crimes de assassinato e ocultação de cadáver. Sendo ré confessa desses delitos, Vera não iria se livrar tão fácil da condenação.
O que de fato agravava essa situação era o outro processo sofrido pela viúva; o da morte acidental de Maria Eduarda. Na época, o juiz acabou por considerar que a sua perda fora condenação o suficiente.
Ademais, o quadro de depressão pós-parto serviu para amenizar a situação daquela mulher. Um segundo processo, no entanto, não teria a mesma benevolência.
O tempo estava passando, e logo Vera teria que ser encaminhada para o presídio. Já havia permanecido além do necessário naquela delegacia.
Em breve, Taís não teria mais opção a não ser transferir aquela senhora para a penitenciária feminina.
Um policial de plantão bateu em sua porta. Vinha lhe avisar que um homem viera dar queixa do desaparecimento de sua namorada. Taís autorizou.
Era Roberto, comunicando o sumiço de Ruth. A mulher havia pedido a sua moto emprestada para ir atrás de Lúcio Mauro há dois dias.
***
Atrás das grades da cela, Vera deu dois passos para trás. Arregalou os olhos, boquiaberta. Ouvira cada palavra do que a delegada lhe dissera, contudo não conseguia absorver direito.
Ruth estava seguindo Lúcio Mauro, disposta a provar que o sobrinho era o verdadeiro culpado de tudo. Ela desaparecera.
O filho de Vera, por sua vez, estava viajando, de acordo com o porteiro de Vila Margarida.
Não, a dona de casa não podia acreditar que seu menino poderia ir tão longe para ocultar o segredo dos dois.
Sabia que ele tivera coragem de matar Carlos Henrique, contudo fora apenas para livra-la daquele monstro. Agora, a sua irmã...?
Vera ergueu o olhar, ainda incrédula. Taís já se afastava, caminhando pelo corredor das celas. A dona de casa chamou pela delegada. A moça voltou-se para a mãe de Lúcio.
Ainda atônita e sem saber o que fazer direito, Vera pediu:
— Por favor, eu quero falar com meu advogado... vou pedir o meu habeas corpus.
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Parente Serpente [Livro Completo]
Mystery / ThrillerVera Lúcia é uma dona de casa moradora de uma simpática vila de subúrbio. Essa mulher, porém, vive um pesadelo nas mãos de um esposo violento e agressor. Sua história seria apenas mais uma no meio das estatísticas de violência doméstica... se não fo...