Capítulo 39

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Sem insistir muito, Ruth conseguiu emprestada a moto de seu companheiro Roberto. A maquiadora até pensou em usar o seu capacete cor de rosa, contudo achou melhor pegar emprestado o do rapaz. Afinal, era escuro com a viseira espelhada. Ideal para ocultar sua identidade.

Não demorou, e voltou para as imediações de Vila Margarida. No caminho, lembrou-se que mais cedo, de manhã, havia uma aglomeração na entrada da vila.

Também, recordou-se de ver o seu sobrinho chegando a pé. Logo, era bem provável que ele houvesse estacionado o carro do lado de fora, em alguma rua paralela.

Como suspeitava, Ruth acabou por encontrar o veículo parado perto da entrada de Vila Margarida. Afastou-se um pouco mais, indo para a esquina, esperando o sobrinho voltar.

Estava quase desistindo, porém ficou em alerta ao ver um táxi parando na outra esquina, na entrada daquela pequena rua. Viu o filho da irmã descer do veículo.

Ruth franziu o cenho. Afinal, da última vez que o havia visto, ele estava em casa. Mesmo que houvesse saído, não fazia sentido ir de táxi já tendo um carro.

Por um instante, ela ficou receosa, questionando-se se ele sabia que estava sendo seguido. Não tardou, e a maquiadora dissipou aquele pensamento, pois não tinha começado ainda a persegui-lo. Logo, não havia como ele já suspeitar desse fato.

De certo, aquele estudante havia ido aprontar algo, ou queria despistar alguém. Aquele comportamento, portanto, duplicou a desconfiança de Ruth. Era fato; Lúcio estava tramando alguma coisa.

Quando o rapaz deu a partida, ela demorou-se um pouco para segui-lo. Ao sentir-se segura o suficiente, começou a sua caçada.

Primeiro, ele foi para um conjunto habitacional perto do centro comercial da cidade. Demorou por lá uns quarenta minutos. Finalmente, voltou para o carro, dirigindo-se para a área mais nobre da metrópole.

Chegou até uma pequena rua simpática de paralelepípedos. Era como um oásis no meio daqueles arranha-céus de apartamentos caríssimos.

De um lado, muitas árvores de copa alta e cheia, jogando sombras naquela passagem. Do outro lado, várias casas históricas, de paredes coladas umas nas outras. As construções estavam restauradas e transformadas em bares, restaurantes, cafeterias.

Lúcio estacionou numa transversal. Desceu do veículo, andando por aquela simpática rua. Chegou a um café. Acomodou-se numa das mesas que ficava do lado de fora, na varanda coberta do local.

Ruth posicionou-se longe o suficiente para conseguir observa-lo sem ser vista. Posicionou-se atrás de uma árvore, fingindo olhar no celular. Como estava de óculos escuros, conseguia ver o seu sobrinho sem indicar para onde ela olhava.

Uma garçonete sorridente abordou Lúcio Mauro, oferecendo-lhe o cardápio. O rapaz agradeceu-lhe, contudo disse-lhe que não iria pedir logo, pois estava esperando uma pessoa.

A garçonete retirou-se, deixando-o em paz. Lúcio olhava atentamente o cardápio, contudo já sabia que iria pedir café com leite e canela.

O aspirante a farmacêutico ergueu o olhar ao ver uma sombra aproximar-se à sua frente. Franziu o cenho ao ver um rapaz alto, provavelmente de um metro e oitenta e cinco.

Usava um jeans escuro e uma camisa de botão azul-marinho dobrada até os cotovelos. Tinha cabelo loiro-cinza e a barba por fazer.

Sua pele bronzeada lhe dava um aspecto jovial, apesar de ele já ter passado bem dos trinta anos. E os óculos de grau de armação preta grossa não conseguiam esconder seus olhos de um verde-claro.

Com um sorriso largo e cheio de dentes, o homem estendeu a mão para Lúcio, apresentando-se como Túlio Farias, produtor de jornalismo da maior emissora de TV do país.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora