Capítulo 54

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Talvez um dos maiores esforços de sua vida fosse abrir os seus olhos naquele momento. Sentia como se quilos estivessem atrelados as suas pálpebras, pois as abria com muita dificuldade.

Suas córneas ardiam. Piscou para tentar reduzir a irritação. Primeiro, viu apenas as trevas. Aos poucos, sua vista começou a acostumar-se com as formas ao seu redor.

Estava acordada ou aquilo era um sonho? Aliás, as últimas semanas foram reais, ou não passaram apenas de um pesadelo? Não conseguia saber ao certo, pois sua mente estava severamente lentificada.

Vera, portanto, ficou um tempo quieta, olhando apenas para o teto. Percebeu-se repousando em algo macio. Era uma cama? Que lugar era aquele?

Tentou passar a língua nos lábios para umedecê-los. Não conseguiu. Alguma coisa a impedia. Havia uma fita adesiva em sua boca.

Quis erguer um punho para tatear o plástico em seus lábios. Também estava impedida. Ainda, quis mexer a outra mão. Igualmente não podia. Estava amordaçada e amarrada.

Ergueu a cabeça, olhando ao redor. Ficou zonza, voltando a quedar-se no travesseiro. Antes de cair, porém, reconhecera de imediato onde estava. Aquele era seu quarto. Estava presa em sua cama.

Mesmo sem muita força, começou a mexer o pulso. Com esses movimentos, sentiu algo espetando em seu braço. Voltou a cabeça na direção do estímulo.

Estava com uma agulha e com um equipo de soro fisiológico. Acoplada a esse equipamento, viu uma mangueira. Percorreu o olhar, vendo ao final desse tubo uma bolsa com o líquido, segurada por um pedestal.

Alguém entrava em seu quarto. Uma sombra posicionou-se bem ao seu lado. Vera tentou gritar, contudo a fita em sua boca impedia-lhe.

A figura sentou-se na cama, do lado da cabeça da mulher. A luz do abajur fora acesa, jogando luz no rapaz que continuava trevas.

Lúcio Mauro desceu a mão nos cabelos da mãe. Ao toque da mão do filho, a dona de casa prendeu sua respiração.

— Calma — disse-lhe o jovem, com sua face suave de sempre e sua voz mansa. — Tudo já acabou.

O rapaz inclinou-se, tirando a agulha do braço da mãe. Depois, ele soltou os braços de sua genitora. Por fim, libertou-a da fita adesiva de sua boca.

Vera tentou sentar, contudo conseguiu erguer o trono apenas pouco centímetros de seu leito. Se antes abrir as pálpebras já era uma tarefa difícil, levantar-se era definitivamente impossível.

Lúcio acolheu-a, abraçando-a.

— Não faça esforço, mãe. O sedativo que dei pra senhora não era fraco, e você fico muito tempo aí, só deitada.

Em outros tempos, aquele gesto poderia significar carinho, afeto. Após tudo pelo que passara, porém, Vera apenas sentia-se em perigo ao lado daquele homem.

Tornando a acarinhar os cabelos da mãe, o jovem dizia:

— É uma pena que a senhora tenha perdido minha colação de grau ontem. Infelizmente, foi o jeito. Pelo menos tirei fotos pra te mostrar.

Lúcio tirou o celular do bolso, ligando a tela e exibindo-a para sua mãe. Começou a passar as imagens de sua cerimônia de conclusão de curso.

Com olhos embaçados pelo longo período de sono, Vera pôde ver o auditório. Viu também os formandos vestidos com a beca. Por fim, o seu filho recebendo o seu certificado de conclusão.

— Agora — continuou Lúcio —, a senhora tem um filho formado. E famoso também.

— Quan...

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora