Capítulo 42

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Fechou os olhos, inclinando o tronco um pouco para frente. As gotas de água bateram em seus cabelos negros, escorrendo por sua pele alva e lisa. Deixou a corrente envolve-lo por inteiro, relaxando cada fibra dos seus músculos.

Ficou um tempo imóvel, debaixo da água do chuveiro. Apenas sentia a água fluir, livrando-lhe de todo suor, poeira e terra acumulados durante aquele dia. Um dia que mais lhe parecera uma semana, após tantas reviravoltas.

Seu corpo, então, ficou limpo. Bastaria, portanto, mais uma noite de sono para encerrar mais aquele capítulo.

Fechou o registro do chuveiro, apanhando a toalha pendurada. Sem pressa, Lúcio Mauro passou o tecido felpudo em toda a extensão de sua carne. Quando se achou suficientemente seco, saiu do banheiro.

Não se cobriu. Afinal, para todos os efeitos, morava agora sozinho. Pendurou a toalha de volta, e depois caminhou nu para o seu quarto.

Trancando-se em seus aposentos, deitou-se na cama ainda no escuro. Deixou que o enfado escorresse pelo seu corpo, enquanto as cobertas envolviam a sua pele.

Até pensou em dormir, entretanto faltava alguns pequenos detalhes para encerrar aquele dia.

Sentou-se na cama, acendendo o abajur de sua mesa de cabeceira. A lâmpada iluminou dois objetos aos pés daquela luminária.

Antes do banho, Lúcio os havia depositado ali. Um era o seu celular. O rapaz tomou em mãos o segundo.

Levantou-se da cama, afastando-a um pouco. Agachou-se, levantando o tapete que usava para colocar os pés ao acordar. Tateou um pouco, achando um azulejo solto do piso.

Com as pontas das unhas, ergueu o objeto branco, revelando um buraco secreto no chão. De lá, tirou uma caixa de madeira de tamanho relativamente pequeno.

Com a caixa em mãos, sentou-se na cama. Repousou o recipiente em seu colo. Voltou-se para frente, elevando a altura de seus olhos o segundo objeto trazido consigo.

Era a pulseira de metal de Ruth.

Pensou em guarda-la de vez e ir logo dormir, pois estava cansado demais. Essa ideia, porém, não lhe era de too agradável.

Se assim o fizesse, iria passar o resto da noite com uma estranha sensação de que lhe faltava algo. Era como se não tivesse finalizado.

Resolveu, portanto, ceder ao ritual. Colocou o seu celular num tripé e começou a se filmar, documentando mais um grande feito.

Nem se preocupou em se vestir, pois o ângulo de captura seria apenas de sua cintura para cima. Como era um rapaz em forma, também não tinha vergonha de mostrar-se sem nada.

— Mais um dia, mais um pra coleção. — Disse Lúcio para a câmera, erguendo em seguida a pulseira de Ruth. — E olha que eu nem planejava pegar esse troféu aqui, foi totalmente sem querer. De qualquer forma, ainda bem que eu peguei... ia ficar muito chateado se não conseguisse. Nunca fiquei sem um souvenir. — Abriu a caixa, vasculhando o conteúdo. Tirou de lá de dentro um relógio de metal, mostrando-o para lente. — Se até daquele homem da feira eu peguei, ia ficar chateado se não pegasse o de titia também.

Ficou observando o relógio por um tempo, com o olhar perdido em suas lembranças. Depois, voltou-se para o seu celular.

— Fernando era até bem atraente pra quem tava atrás de um balcão de frutas. Tanto que conseguiu encantar uma mulher carente de atenção como a minha mãe. Mesmo se ela se livrasse de Carlos Henrique, já ia ter outro na fila. — Deu de ombros. — De qualquer forma, não foi tanto por isso que me livrei dele. Precisava colocar mais lenha na fogueira na paranoia dela, fazer ela acreditar que seu marido era realmente um assassino, e ela seria a próxima. Queria deixar mamãe tão desesperada pra se livrar de Carlos que ela toparia tudo, até mesmo acobertar meu crime.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora