Capítulo 27

178 38 6
                                    


Cinquenta minutos para atravessar a cidade de carro. Geralmente, do subúrbio para o centro levaria menos tempo. Ao final da tarde, porém, o trânsito intenso e os engarrafamentos tornavam tudo mais difícil.

Com paciência, Lúcio Mauro chegou a uma das ruas paralelas à avenida mais movimentada daquela área. Era uma pequena região de residências no meio de um centro comercial.

De dia, as lojas abertas proporcionavam um grande movimento àquele lugar. Com o avançar da noite, porém, as portas fechadas do comércio praticamente ilhavam aqueles pequenos prédios residenciais. Logo, o rapaz deveria sair dali o mais cedo possível, a fim de evitar assaltos.

Principalmente, pelo local onde havia estacionado o seu carro. Nunca quis entrar naquele condomínio para que seu veículo não fosse reconhecido. Preferia, portanto, parar num local ligeiramente mais distante.

Talvez, isso fosse um excesso de zelo, pois aqueles prédios eram velhos demais para ter algum circuito de câmeras.

E como ali só moravam estudantes de fora e pessoas com menor poder aquisitivo, o condomínio nunca quis melhorar a vigilância. Contavam, portanto, apenas com um porteiro muito distraído.

Como em muitas das outras vezes, o vigia da porta deu boa-noite a Lúcio Mauro sem sequer olhar para o rosto do rapaz. O trabalhador apenas concentrava-se na sua pequena TV, assistindo à primeira novela do dia.

Lúcio passou pela grade, andando pelo pátio dos quatro prédios do condomínio. Por lá, outros trabalhadores também estavam chegando de seus serviços. Ainda, havia algumas crianças brincando ao redor, aproveitando enquanto suas mães não lhes chamavam para o jantar.

Misturando-se à multidão, o rapaz alcançou o quarto bloco. Como aquele prédio era antigo e não possuía o mínimo de luxo, não havia elevador. Os quatro andares de escada desafiaram o seu fôlego de estudante sedentário.

Ainda respirava intensamente quando chegou ao apartamento 446. Bateu à porta. Enquanto esperava ser atendido, tentava recuperar-se do esforço.

Sua frequência cardíaca ainda estava diminuindo quando a porta foi aberta. À sua frente, apareceu uma moça loira de cabelos longos e lisos. Era bem mais baixa do que o rapaz, contudo igualmente bela.

Na maioria das vezes, a jovem o recebia com um sorriso e um beijo. Dessa vez, porém, mostrava-lhe apenas uma face que ficava entre o aflito e irritado.

Por enquanto, Lúcio não ia tentar nenhuma forma de confortá-la. Apenas deu um boa-noite e entrou na casa. Não ouviu, contudo, uma resposta da sua anfitriã.

Fechando a porta, Ludmila voltou-se para o seu visitante. O universitário já estava no meio da sala, porém não havia se sentado.

A loira estava tão agitada que esquecera de toda a sua educação. Apenas precipitou-se na direção do outro, despejando:

— O que tá acontecendo? Eu vi hoje na internet a notícia que tua mãe matou o teu padrasto. Como assim?

Lúcio fechou os olhos, suspirando enquanto concordava com a cabeça. Descerrou suas pálpebras, vendo a face cada vez mais confusa e irritada de Ludmila.

— E agora? — Questionou a moça. — Como a gente vai continuar com o plano sem o teu padrasto?

O rapaz sentou-se, enquanto passava as duas mãos no rosto. Depois, começou a olhar os cantos do apartamento, como se estivesse procurando algo para dizer.

— Não sei. — desabafou Lúcio. — Carlos Henrique deu um bom dinheiro pra esse seguro já. Eu posso te dar a minha parte, mas não sei o que a gente pode fazer.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora