Capítulo 35

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Ruth apertou os olhos. Mal podia acreditar no quadro que as suas retinas estavam captando.

Maria Efigênia era a única testemunha ocular de um possível envolvimento de Lúcio Mauro no assassinato de Carlos Henrique.

Aquela senhora fofoqueira poderia ajudar Ruth a amenizar a pena da irmã. Talvez, até mesmo revelar Vera como inocente desse crime.

Agora, essa testemunha estava morta. Justamente quando estava prestes a prestar um depoimento que salvaria a irmã de Ruth. Algo descaradamente conveniente para o seu sobrinho.

E, para completar, o desgraçado estava bem ali, a poucos metros da mulher que acabara de assassinar. O ar cansado de Madalena arrependida, a voz baixa e mansa, um olhar de quem não estava entendendo nada.

Tudo em Lúcio parecia indicar inocência. Ruth, no entanto, não tinha a mesma tendência de sua irmã para acreditar em tudo aquilo dito por aquele rapaz.

A maquiadora apertou os punhos, controlando-se para não avançar em cima do sobrinho. A sua fúria, porém, era tanta que não conseguiu disfarçar o rubor em sua face.

Estava pronta para colocar-se na frente daquele rapaz e confronta-lo ali mesmo, no meio da rua. Um vulto ergueu-se na sua visão, impedindo-a.

Ruth deu um passo para trás, dando espaço para alguém muito mais competente do que ela.

A delegada Taís, mais uma vez, ficou frente a frente com Lúcio Mauro.

— Onde você estava das 18 horas de ontem até as 9 horas da manhã de hoje? — indagou Taís, porém num tom mais agressivo do que o que gostaria de transparecer.

— Como? — questionou Lúcio, com uma face confusa.

— Esse foi o intervalo da possível morte de Maria Efigênia. Onde você estava.

— Olha, eu passei o dia ontem no hospital, conversando com os amigos, ajudando algumas coisas. Tô de licença médica, mas queria sair um pouco. Não tava aguentando ficar em casa. Depois, voltei, cozinhei uma torta salgada pra jantar, assisti um pouco de TV e fui dormir.

— Notou algum movimento estranho na casa de Maria Efigênia durante a noite?

— Não, não notei. Eu geralmente fico trancado no meu quarto, estudando ou navegando na internet. A minha janela é voltada pra parte de trás de casa, não dá pra ver a rua ou a casa dela.

— Tem alguém que corrobore a sua história?

— Não... — parou para pensar um pouco — mas tem o histórico de internet do meu computador. Se a senhora quiser dar uma olhada, vai ver que eu tava vendo uns vídeos e conversando no bate papo durante a noite toda.

Sim, porém através de um aplicativo de celular que controlava computador à distância.

Poderia ser um álibi simples, até mesmo frágil, contudo fora o que havia conseguido. Afinal, dessa vez não dava para usar um plantão no hospital como desculpa, pois seu corpo não estava nos dois lugares ao mesmo tempo.

Taís fechou os olhos, respirando fundo. Sua vontade era a de prender aquele rapaz ali mesmo, entretanto não podia se precipitar. Não podia cometer falhas justo no seu primeiro caso.

Sem paciência, Ruth se adiantou:

— Delegada, não vai prender ele?

— Como? — indagou Lúcio, de olhos arregalados e boquiaberto. — O que foi que eu fiz?

— Você matou ela — acusou Ruth. — Eu sei que foi você.

— Tenha calma — avisou Taís. — Tudo indica que Maria Efigênia teve uma parada cardíaca. Estava completamente cianótica por conta da parada cardiorrespiratória. Sem marcas de dedo ao redor do pescoço. Logo, não foi estrangulada. — Voltou-se para Lúcio. A mulher não conseguia esconder a raiva em seu rosto. — Uma fatalidade.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora