Capítulo 38

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Lúcio soltou Ludmila de seus braços. O rapaz deu dois passos para trás. Sem grandes reações, os lábios entreabertos do rapaz apenas emitiam balbucios.

O filho de Vera encarava a sua cúmplice. A moça de cabelos longos, platinados e lisos o fitava de volta. Ela estava com a face tão plácida quanto aquela que Lúcio costumava ostentar quando estava sozinho.

Quando a encontrara naquela tarde, Ludmila parecia estar nervosa, quase desesperada. Naquele instante, porém, a garota estava tão calma que mais parecia que nenhum problema de fato a afligia. Com uma expressão e tom de calmaria, Ludmila continuou:

— Já cansei desse jogo, dessa enrolação. Agora, você vem com essa historinha de que os agiotas do teu pai tão te perseguindo. E eu nem sei se essa gravação é de verdade. Afinal, depois de tudo o que a já gente fez, sei que você é bem capaz de pedir pra alguém falar essas coisas, só pra você tentar ficar com minha parte.

Permanecendo com expressão estupefata, lentamente Lúcio negou com a cabeça. Como se despertasse de um transe, o rapaz tornou a aproximar-se de Ludmila.

Ainda com gestos suaves, o aspirante a farmacêutico pousou suas duas mãos nos ombros da loira. Com um ar de surpreso e apreensivo, o rapaz retrucou:

— Jamais, meu amor. Eu jamais seria capaz disso com você. E justamente depois de tudo o que passamos... eu nunca que iria largar tudo só pra ficar com um pouco mais de dinheiro. A gente já foi tão longe.

Ludmila ergueu a sobrancelha esquerda, e devolveu:

— Tem certeza que não seria capaz de fazer isso comigo? Tá me achando com cara de idiota? Acha que sou burra só por eu ser loira, querido?

Mais uma vez, Lúcio negou com a cabeça. Quando estava prestes a se defender, fora interrompido pela outra, que continuou:

— Se você foi capaz de fazer tudo isso com tua família, com teu padrasto, tua mãe, acha que eu confiaria totalmente em você? Só se eu fosse muito otária. E acredite, meu querido, não nasci pra ser a mocinha indefesa da história.

— Mas eu te amo...

Desmanchando sua face plácida, Ludmila deu uma risada. Ainda com um sorriso de dentes trincados, a dona daquele apartamento replicou:

— Você não ama nem a tua família, quem dirá uma estranha que conheceu na festa da universidade. Aliás, acho que você é incapaz de amar alguém. E, se fosse possível, não iria amar alguém com pepeca como eu.

— Como? — questionou o rapaz, mais estupefato ainda.

— Isso mesmo, querido. Você até que tentou, mas nunca me enganou. De forma nenhuma. Desde o início. — Colocou uma mão no queixo, assumindo um ar pensativo. — Se lembra daquela festa de calouros do ano passado, quando a gente se conheceu? Depois que ficamos, minhas amigas me contaram que você gostava de ficar com os boys ricos de medicina. Vi que tínhamos muita coisa em comum. E não é só gostar de homem, é gostar de dinheiro também. — Olhou pra baixo, na direção do ventre de Lúcio. — Pena que você não tenha útero pra garantir a pensão, né, meu amor?

Lúcio tornou a afastar-se, ainda sustentando uma face chocada.

— Não faz essa cara que comigo não funciona — advertiu Ludmila. — No começo achei que você era bissexual, mas com o passar do tempo vi que você só queria me usar mesmo nesse teu plano. E eu achei até muito bom. Tava necessitada de grana, a ideia era boa. — Deu de ombros. — Pensei comigo; por que não?

— Mas você foi pra cama comigo...

— Por que você é gostosinha, tem um cacete delícia. Meio pálido demais pro meu gosto, mas fazia tão direitinho. — Cruzou os braços, fazendo uma expressão confusa. — Me responde uma coisa; como você conseguiu pegar mulher se tua preferência é sarrar de costas? Olha, que se eu fosse burra ia até acreditar em você.

Parente Serpente [Livro Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora