Jogada de mestre

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Estávamos todos reunidos na casa do bola, tinham denunciado o local das lutas e a polícia bateu lá. Foi a maior correria, agora ferrou tudo.

- Demoramos pra cacete até achar aquele lugar. Vamos perder vários apostadores por conta de um filho da puta x9. - Bola falava morrendo de ódio, na verdade todos estávamos putos. O merda que deu com a língua nos dentes iria pagar.

- Calma bola, nós vamos arrumar um outro lugar. - Igor diz, iria ser uma merda para encontrarmos um novo espaço para as lutas, e com isso é menos dinheiro que entra. Esse dinheiro que ganhei nessa última luta vou ter que economizar ao máximo.

- Vamos fazer assim, todos nós vamos atrás de algum canto quem encontrar fala com os outros. Não vamos perder tempo, enquanto isso, eu vou arrumando alguma luta pra você bad boy tranquilo? - Quase pulei de alegria.

- Agora metem o pé da minha casa. - Ele disse e nós fomos embora.

- Noitada na sexta? - Igor perguntou.

-Eu não devia, mas vamos. - Ele me deu um aperto de mão e foi embora.

Entrei no meu carro e dirigi o mais devagar possível até minha casa. Só em pensar que vou ter que explicar tudo pra Natália já me da uma canseira.

Quando entrei em casa, estava tudo silencioso, meus pais já estavam dormindo pois já era tarde, e a Natália tenho quase certeza que também estava.

Tirei meu tênis e blusa.

- Vai me explicar agora? - Levei um susto com a voz da Natália, que merda achei que ela estivesse dormindo.

- Vamos falar sobre isso amanhã..

- Amanhã porra nenhuma, aí você vai ficar me enrolando pra contar essa merda. - Respirei fundo e me sentei ao lado dela na cama.

- Vamos lá, o que você quer saber?

- Há quanto tempo você faz isso?

- Comecei com 19, nem faz tanto tempo. - Ela me olha e balança a cabeça sem acreditar, não entendi o espanto, fala sério eu estou com vinte e dois anos.

- E eu só fico sabendo hoje? Por favor né Arthur, cara... - Ela para de falar e passa a mão pelo cabelo.

- Pra que você se arrisca tanto? Aquela merda de luta ilegal é desnecessário e uma loucura. Você é mais maluco do que eu podia imaginar, e fique ciente que o pai e a mãe vão ficar sabendo. Agora eu entendo porque você chegava arrebentado em casa. - Agora essa garota cabeça dura me estressou, acho que ela está andando muito com aquela loirinha atrevida.

- Você não vai falar porra nenhuma, e não venha me julgar pois eu faço isso por todos nós. Ou você acha que aquela barraca do pai na feira consegue vender tudo aquilo que eu falo? Mais da metade do dinheiro que eu dou para o meu pai, é daquela loucura desnecessária que você está falando. Nós não conseguiríamos nos manter só com aquela barraca. - Falo morrendo de ódio pelo seu julgamento sem cabimento, ela não sabe de nada para está falando essas asneiras.

- Como assim? A barraca não da dinheiro?

- Sim, mas não o suficiente, temos uma porrada de coisa para pagar, e com o dinheiro que meu pai tira lá, não daria para pagar metade. Eu estou juntando dinheiro, meu pai precisa fazer a cirurgia de redução que o médico falou. Eu quero me mudar desse lugar também. - Natália fica me olhando e logo se joga em meus braços, ela me abraça fortemente.

- Me desculpa, perdão por ter te julgado. - Abraço ela de volta e respiro fundo, agora fodeu literalmente. O dinheiro para a cirurgia do meu pai iria ficar encalhado por enquanto, meu pai era "normal" até seus quarenta anos, depois disso começou a engordar de uma forma assustadora, e agora isso estava prejudicando sua saúde o médico que cuidava da saúde dele falou que ele iria precisar de uma redução de estômago para voltar a ter uma vida normal. E essa cirurgia não era muito barata, então eu comecei a juntar o dinheiro. Agora não sei como vai ser.

- Tudo bem Natália, agora pare de chorar.

- Depois que eu fui embora o que aconteceu entre você e a Camila?

- Aquela garota é uma atrevida. Ela... - Parei de falar e dei atenção a uma frase que a menina falou. "Menininha que vai fazer da sua vida um inferno." Será que essa menina teria coragem de denunciar a luta só para fazer valer suas palavras?

- Ela?

- O que essa menina faria com uma pessoa que afrontasse ela e o irmão? - Perguntei como quem não quer nada, eu tinha quase certeza que ela tinha denunciado a luta. Foi a primeira vez que ela foi até aquele lugar, eu expulsei ela, ela ficou muito puta. E eu tenho quase certeza que ela seria capaz de fazer isso. Como eu não tinha pensado nisso antes?

- Camila faria de tudo, ela é meio vingativa. Eu falo que ela consegue ser uma vaca quase sempre... - Minha irmã continua a falar, mas eu me desligo, agora eu tenho certeza que foi aquela vadia mirim que denunciou o nosso esquema. Mas se ela pensa que vai sair por cima está muito enganada, eu vou mostrar pra ela que comigo não se mexe.

- Eu preciso tomar um banho agora e dormir. - Dou um beijo em sua cabeça e vou pro banheiro.

Encosto minha cabeça no azulejo e deixo a água gelada cair nas minhas costa, aquela garota vai me pagar, ela não podia ter feito aquilo, que garota idiota. Eu tenho que confrontar essa Camila e fazer ela confirmar o que fez.

Depois que tomei banho, botei um short e me deitei. Peguei o celular da Natália e botei a senha, minha irmã já estava dormindo, ela não fazia ideia que eu sabia sua senha. Vou até o whatsapp e procuro o contato da menina...

Quando acho vejo que ela está online, então mando um "oi".

A resposta vem um tempinho depois.

C: Oi meu amorrr.

N: Vamos almoçar amanhã juntas?

Espero que ela não perceba que não é a Natália, tem pessoas que conseguem perceber quando não é a outra somente pela escrita.

C: Claro, podíamos ir no estrela do sul no shopping pode ser?

Estrela do sul era um restaurante bem carinho, não acredito que minha irmã costuma ir nesses lugares caros. E olha que nem dinheiro a bicha tem, essa riquinha do nariz em pé deve pagar tudo.

N: Pode ser, te encontro lá uma da tarde.

C: Está tudo bem?

Droga!

N: Sim.

C: Você está estranha Nat.

Deixa eu pensar em um jeito de acabar com a conversa e mostrar a ela que a "Natália" está normal...

N: Mila, eu estou legal. Estou com um pouquinho de cólica, vou dormir agora beijos.

Soltei uma risada pelo que eu tinha escrito, consegui me sair melhor do que imaginei, chamei ela de Mila pois a Natália costuma falar dela usando esse apelido. Agora sobre a cólica... Essa foi uma tacada de mestre.

Exclui a parte da nossa conversa, desliguei o celular e botei embaixo do meu travesseiro, se a Natália pegasse o celular ela iria descobrir o que eu fiz. Eu precisava esconder esse celular até depois do encontro com a menina, eu imaginava ser breve nas minhas palavras.

Bad boyOnde histórias criam vida. Descubra agora