Giulia percebe sua natureza

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Acreditava que ainda seriam 20:15 da noite, na verdade estava inconsciente a horas. Marcus está a meu lado, o dia está amanhecendo.

- Finalmente você voltou amigo, já começava a me culpar por ter deixado você se arriscar.

- Não se preocupe já tenho memorizado a localização de Etar, ele não é um fantasma ou demônio, pois possui um corpo num local no espaço tempo, só não sei que tipo de anomalia ele se tornou.

- Mas você não pode ir agora, é preciso descansar e o aparelho tem que ser recarregado.

- É... Eu sei sei disso. Temos que recarregar a máquina. E tão logo façamos isso vou atrás de Etar.

- Não sei que desculpa dava para Giulia ela te ligou várias vezes, é melhor você ir ficar com ela.

- Está certo, já é hora dela saber a verdade.

-Você poderá perdê-la.

- Eu sei disso também, mas o que me importa é que nada de mal lhe aconteça.

Manhã gelada, chego a meu apartamento são 7:30 dá manhã, para minha surpresa, Giulia está deitada na cama, ela tinha uma cópia da chave desde que começamos a dormir junto, parecia ter me esperado a noite toda pois ainda estava calçada de botas, jeans, jaqueta e moletom com cabeça no travesseiro e uma perna para fora da cama.

Tiro­-lhe as botas, e afago seu rosto de menina mulher, a observo pergunto-me: Se ela for mesmo um anjo, teria ou não consciência disso? Ela acorda, me olha ainda sonolenta e vai logo perguntado

- Onde você estava amor?

- No laboratório, fiz um teste em nosso aparelho e fiquei inconsciente por horas.

- Giulia senta na cama e fica assustada, olha para o lado, pensa um pouco e me pergunta aparentando estar irritada.

- Porque o Marcus não me disse nada?

- Ele não quis te preocupar amor.

Ela se levanta, e arqueando a sombrancelha lança um olhar de dúvida, ensaia apontar o dedo, tenta falar alguma coisa

- Você.... - Mas não consegue, sua voz não sai por mais que tente falar, fica furiosa e então senta na beira da cama e começa a chorar escondendo o rosto com as mãos quando todo seu corpo começa a ficar envolto numa aura luminosa, ela me olha assustada e só então consegue falar.

- O que está acontecendo comigo?

- Calma amor, só fique calma, juntos vamos descobrir o que está acontecendo.

- Corro e seguro seus braços tentando acalma-la. Neste momento sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo como se levasse um choque, ela também sente o mesmo.

Momentos depois já sem aura luminosa. Estamos em pé, um frente ao outro e temos nossa primeira discussão como casal por ser absolutamente complicado tentar explicar à Giulia que meu objetivo na construção deste aparelho, estava relacionada ao fato de um ser, que eu não tinha muita noção do que era, seria uma ameaça a ela pelo simples fato dela poder ser um anjo, o que ela achou ser loucura, que eu a estava traindo e dizendo disparates que não a convenciam de forma alguma e
quase perde a calma novamente, e só não perdeu porque ficou com medo de ficar sem fala e o fenômeno acontecer novamente.

- Então você acredita que eu sou um anjo... Anjo? ... Isto não faz nenhum sentido. - Balançando negativamente a cabeça.

- Sim, acredito, sua essência é diferente da minha.

- Sou apenas uma garota comum, deixe de bobagem Gustavo. - Diz isso já sem muita convicção.

- Ela muito nervosa, coloca as mãos nas têmporas, respira fundo, olha para cima, depois se senta e se posiciona na poltrona abraçando as pernas com a cabeça baixa pensando, estica as pernas e olhas as botas parecendo decidida a ir embora.

Me adianto é coloco as mãos sob seus joelhos e digo.

- Amor olha para mim - ela vira o rosto.

- Por favor Giulia - ela após uns instantes de reflexão cruza os braços e me encara com um olhar de desafio.

- Tenho uma ideia. Vamos fazer uma caminhada até o Parque das Flores que você tanto gosta?

- Só então ela demonstra alguma animação. Fomos caminhando pela rua, ela de óculos escuros para esconder os olhos vermelhos, chama atenção pela beleza a quem passa, caminhamos calados um ao lado do outro, ela não quis me dar a mão e algumas quadras adiante chegamos ao Parque das Flores onde, como o próprio nome já diz, existe um grande jardim florido.

Pego uma flor que está murcha e seca e entrego a ela, ela pega a flor um tanto apática, balança a cabeça num gesto de negação, retira contrafeita os óculos, firma a visão e olha a flor com um jeito sério, seus olhos azuis adquirem um brilho, mas ela não percebe isso, ela já ia jogar fora a flor quando, começa a transformação, e a flor começa a recuperar sua cor e beleza como se acabasse de ser colhida, ela me olha assustada, seus olhos já estão normais.

- Como isto é possível? Pergunta, mostrando-me a flor.

- Talvez você possa ser um anjo Giulia.

- Ela faz um gesto de desdém, mas permanece com a flor na mão e aproxima das narinas, então me olha de forma enigmática, e coloca a flor junto às outras do canteiro.

Digo - vamos a outro lugar - caminhamos mais um pouco e entramos num hospital, ela diz:
- Ah não! E tenta dar meia volta, eu a pego pelo braço e gentilmente a faço voltar e entrar.

- Ela olha curiosa as pessoas esperando serem atendidas, caminhamos pelos corredores e vemos velhinhos sendo levados em cadeiras de rodas, enfermeiros passando e de repente, ela vê uma criança pelo vidro da porta de um quarto respirando por aparelhos, é um menininho de uns sete anos, médico balança a cabeça e sai com a mãe chorando, percebo que nesta Terra por mais evoluída que seja, as pessoas ainda ficam doentes.

Pergunto - você alguma vez já esteve doente?

Ela para, pensa e responde constrangida - não que me lembre.

- Olha para o quarto onde está a criança e resolve entrar, eu a sigo, que ela se aproxima do leito onde está a criança e toca em sua cabecinha e após alguns instantes a criança começa a perder sua aparência pálida e doentia e recupera sua cor normal, Giulia tira o respirador dele e o menino sorri, ela sorri também, saímos rapidamente antes que voltassem, e alguns passos adiante ao me voltar para o corredor do hospital, ouço alegria da mãe.

Na volta chamamos um táxi onde ela permanece calada por todo o percurso segurando minha mão e olhando a paisagem, novamente com os óculos escuros, pede para paramos num lugar próximo ao prédio onde moro onde há uma pracinha frente ao mar, ficamos uns instantes em silêncio, só então ela começar a falar olhando para o chão.

- Quando eu era menina, certa vez, eu encontrei um passarinho morto no gramado em frente de casa, ele ainda estava sangrando, então eu o segurei e ele começou a se debater e voou, eu senti medo e corri para dentro.
Eu sempre me senti diferente das outras crianças, por isso eu era triste até conhecer você, você me fez sentir ser uma pessoa normal.

- Retira os óculos e só então olha para mim.

- Eu não sou um anjo Gustavo, eu não quero ser um anjo, só quero ser uma pessoa normal.

- Percebo que seus olhos ainda estão vermelhos e seu rosto jovial apresenta um ar cansado que eu ainda não tinha visto.

- Está tudo bem, você é só minha Giulia e você pode ser o que quiser, fique comigo hoje, também estou muito cansado e só quero você a meu lado.

- Ela me olha com ternura, me levanto e lhe estendo a mão que ela segura, levanta e coloca a cabeça no meu ombro e começa a chorar baixinho.

- Digo-lhe que sou capaz de dar minha vida para que nada de mal lhe aconteça, espero algum tempo até conseguir alegra-la novamente quando ela recupera seu aspecto normal.

À noite, não falamos em nada do que havia acontecido na manhã. Somos apenas um casal normal, eu faço o jantar, ela me elogia por este talento.
Assistimos a um filme no Blu-ray, uma comédia, que nos rende boas risadas, eu não penso em viagens no tempo, na condição dela ou na minha, nem penso em anomalias.

- Só queremos ser um casal de namorados absolutamente normal, o sono chega cedo e dormimos abraçados de conchinha, eu segurando sua mão.

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