A despedida

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Acordei e arrumei a minha cama.

Gabriello estava chorando olhando para cama.

“O que foi?” Perguntei me ajoelhando para ficar na altura do menino.

“Não consigo dobrar o  meu lençol. Todo o dia a tia Célia briga comigo, diz que eu sou um inútil, que eu não sei fazer nada.” O menino cruzou os braços.

“Quando anos você tem?” Perguntei ainda incrédulo com a confissão do menino.

“6.” Ele respondeu.

“Vamos fazer uma coisa? A partir de hoje, eu arrumo a sua cama. Você é novo, logo vai aprender a fazer tudo.” O menino sorriu e me abraçou forte.

“O último a chegar no refeitório é mulher do padre!” Disse já correndo.

“Salvatore, não pode correr aqui!” Célia disse em tom de repreensão.

“Desculpa.” Pedi.

“Tudo bem. Você chegou ontem e eu acho que me esqueci de te informar dessa  regra, mas o Gabriello sabe disso. Por isso ele está  de castigo, sobe agora!” Ela disse olhando para o menino que abaixou a cabeça.

“Foi a minha culpa, ele estava triste e eu resolvi brincar com ele. Não o deixe de castigo.” Pedi.

“Gabriello, ainda está fazendo o que aí parado? Está de castigo. Não vai comer hoje.” Ela me ignorou totalmente e ele subiu chorando.

Parabéns para mim.

Célia saiu, o Costa se aproximou, bateu no meu ombro com força e disse: “Fica longe dele, seu merda.”

Ele aparenta ter uns 11 anos, é gordo e se acha valentão. Poderia dar um soco nele, mas não vou bater num pirralho.

Entrei na fila para pegar o meu lanche e sentei numa mesa.

Vi que uma menina estava em pé me olhando. Ela era bonita e aparentava ter mais ou menos a minha idade.

“Quer sentar? Ou é proibido uma garota sentar junto com um garoto aqui? Eu sou novo e ainda não sei direito as regras.”

“Podemos sentar sim.” Ela sorriu envergonhada e sentou do meu lado.

“Qual o seu nome?” Perguntei.

“Marinne e o seu?”

“Salvatore. Tem quantos anos?”

“14 e você?” Ela perguntou.

“16.” Disse.

Ela ficou me olhando e um silêncio dominou o ambiente.

“Já comeu?” Perguntei ao notar que ela não estava comendo nada.

“Célia ainda não te contou? Todas os adolescentes a partir dos 13 anos comem um dia sim um dia não, além disso, tem que cozinhar e a varrer o orfanato. Bom, é um sistema rotativo. Um dia eu faço, outro dia é você. Mas é um saco.” Ela revirou os olhos.

Segreto PiacereOnde histórias criam vida. Descubra agora