Capítulo 1 - Maryah

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Tudo que sei da minha vida é muito pouco. Na casa de órfãos, as assistentes sempre me contavam a mesma história. Ainda muito pequena fui deixada aqui, não sabiam quem eram meus pais mas tinham certeza de uma coisa, se eu estava aqui é porque eles tinham morrido ou porque são muito pobres.

Talvez eu fosse um pouco diferente dos demais, é como se eu já tivesse nascido com o medo dentro de mim. Sempre fui quieta, buscava sempre ser boa e obedecer, não queria que tivessem reclamações de mim. Porque? Os castigos eram muito cruéis.

Na escola me esforça para ser uma das melhores alunas, sendo muito esforçada e dedicada. Porém eu não era feliz ali. Como poderia ser? Sei que a intenção de todos os cooperadores eram as melhores, dar um lar para aqueles que de alguma forma não tinha mas eles não tinham o principal, não podiam dar amor e afeto a de duzentas crianças. Já viu um galinheiro? Colocam água e comida, e que se dane o resto. Eu me sentia assim. Todos os dias via várias crianças sendo adotadas mas eu? Eu nunca fui escolhida, nunca me olharam com olhos de amor e de esperança, talvez o problema fosse eu. Eu não queria mais viver essa vida de desprezo sem amor, queria saber a verdade sobre meus pais, eu precisava saber se estavam vivos, ou não e porque de fazer isso comigo, eu não merecia. Nenhuma criança merece crescer longe dos pais.

Por isso quando completei meus treze anos decidi fugir. Com certeza não foi a ideia mais sensata que eu tive mas eu tinha essa escolha ou apenas sentar e esperar completar a maior idade para viver minha vida, pois a chance de ser adotada com essa idade era praticamente nula.

Quando as luzes se apagaram, e todos já estavam dormido, eu sai da cama com cuidado para não fazer barulho, me arrastei pelo chão para não correr o risco de ninguém me ver. Eu corri até o muro de trás, subi na árvore que tem bem ao lado e conseguir pular. Claro que na hora de pular eu cai e me machuquei, mas foi apenas arranhões. Agora eu estava livre, eu corri pelas ruas da cidade feliz.

No primeiro dia que fugi do abrigo, acabei dormir no parque Barigui da cidade de Curitiba, nessa época do ano aqui é muito frio. Mas era melhor que ficar perambulando pelas ruas. Quando o sol nasceu, eu não precisava me preocupar em tomar banho, escovar os dentes ou até mesmo estudar. Coloquei meu plano em pratica. Eu passei todo meu dia batendo de porta em porta, perguntado as pessoas que me atendiam, se em a treze anos atrás tinham abandonado uma criança. As pessoas foram bem grossas e estupidas comigo, eles não entendiam que eu estava procurando meus pais. Quando a fome começou a bater, eu não tinha para onde correr, eu não tinha dinheiro, se voltasse para o orfanato iam me castigar.

Eu parei em um casa de uma senhora bem idosa, conversei com ela e disse que estava sentindo muita fome, ela com todo carinho me deu um prato de comida, em uma mochila me deu algumas peças de roupa, pacotes de bolacha e pão. Isso daria para me virar por uns dias. Já tinha anoitecido e pensei que seria melhor voltar para o parque. Comecei a dar uma volta pelo na esperança de me aquecer, acho que em algum momento me perdi e entrei num caminho fechado entre meio a mata. Tem um espaço do parque onde tem um grupo de mendigos, drogados e alcoólatras, eles me assustaram muito quando passei por eles mas não parei de andar, daqui eu já podia ver o bar do outro lado da rua depois que acaba o espaço do parque. Até então nem tinha me dado conta que um homem me seguia. Tentei me acalmar e não pensar assim, talvez como eu, ele estivesse só caminhando. Acreditei que poderia ser um daqueles homens do grupo.

Quando percebi que ele continuava atrás de mim, tentei correr mas o homem era mais rápido do que eu. Quando pensei que tinha conseguido me livrar dele, fui surpreendida um pouco mais na frente, ele me segurou pelos cabelos e me pressionou contra uma árvore, eu não conseguia parar de chorar e de pedir que me deixasse ir embora mas ele parecia não entender. O local estava muito escuro, eu não consegui ver seu rosto, mas de alguma forma sabia que aquele homem não era igual aos outros, vinha um cheiro de algo, mas também tinha cheiro de banho tomado, de perfume amadeirado. Eu não conseguia entender o porque de fazer isso comigo.

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