Enfrentar o passado

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Ás 14:00 em ponto dou inicio á video conferência. Mantenho a minha câmara desligada e por 1 minuto oiço o burburinho do auditório. Realmente, muito gosta o português de falar e pensar no que não lhe diz respeito. Ligo a minha câmara e começo.

- Bom dia a todos.

De repente fez-se silêncio no auditório e todos olharam para mim através da projeção.

- Bom dia.- Responderam todos juntos.

- Eu pedi para se reunirem todos aqui para esclarecer alguns factos. Espero que todos me ouçam e não me interrompam. No fim responderei a algumas questões. posso começar?

- Sim, responderam todos novamente

- Como é do conhecimento de todos, o Sr. Fonseca saiu da editora vendendo uma parte da participação á Lehto Publishing. Como era necessário estar um representante com um valor minimo de participação na sede, fui enviada para Helsinquia. Apenas quando aqui cheguei tive conhecimento de tudo isto, e continuo a desconhecer os motivos que levaram o sr. Fonseca a fazê-lo. Apenas sei que essa editora era o sonho e a vida do sr. Fonseca. Da mesma maneira que sei que esta editora é também o nosso emprego e o nosso ganha pão. Como sabem, foi contratada uma empresa de consultadoria para ficar na empresa até ser contratado um assessor que vai ficar á frente  dessa filial da Lehto Publishing, que por enquanto continuará como LisEdict. Ontem no decorrer de entrevistas para novos editores e tradutores o consultor agiu de má fé levando-nos a desconfiar de que algo não estava bem. Para além da má fé esse senhor assediou e intimidou as candidatas, o que nos levou a tomar de imediato a providência de o afastar da nossa empresa. Sim, porque a LisEdict é nossa, dos editores, tradutores, secretários, de todos os que de alguma forma dependem da empresa. Nós não esperávamos a atitude que o senhor teve, e menos ainda eu esperava a atitude que a nossa colega Carla teve. Após isso foi descoberto que os 2 estavam metidos em mais alguma coisa. Essas 2 pessoas desfalcaram a empresa em mais de 100 000€ em apenas uma semana. - vejo os meus colegas a ficarem inquietos.- Peço que tenham calma e não se preocupem, apesar do dinheiro que tiraram nada vai mudar e ninguém está em perigo. Após reunir com o dr Lehto, contabilistas da LisEdict e com o responsável financeiro da Lehto Publishing chegamos á conclusão que nada está em risco e continuaremos com os planos inicialmente traçados. A unica alteração é que em vez de contratarmos mais 3 editores, vamos ter de contratar 4 para substituirmos a Carla. Serão também contratados 4 tradutores. O novo assessor chegará hoje a Helsinquia para iniciar a sua formação e começará em Lisboa no dia 1 de Julho. Até dia 1 de Julho será a D. Marilia que estará a representar a presidência. Algum assunto será reportado a ela que reportará se necessário a mim e ao dr Lehto. Segunda feira de manhã terão formação devido ao novo sistema informático que será colocado em vigor. Como também já perceberam, a editora será alargada como podem ver pelas obras de renovação. Por mim é tudo, agora estou aberta a tirar as vossas duvidas.

Após uns instantes de silêncio vejo a primeira mão levantar. Como não sei o nome de todos e as suas funções peço que se identifiquem e informem a função.

-Magda, recepção. Então, apesar do desfalque, não há risco de despedimentos?

- Não, todos vão continuar com os vossos trabalhos desde que o queiram. Como informei, vamos inclusivé aumentar o quadro de editores e tradutores.

- Ricardo, editor. E esses novos editores não virão para nos substituir?

- Não, vêem apenas reforçar. Assim poderemos continuar com o nosso trabalho. E conto com vocês para os ajudarem a ambientar-se. Todos juntos podemos tornar a LisEdict ainda maior e melhor.

- Sandro, tradutor. Vamos aumentar a capacidade de obras?

- Sim, essa é a nossa intenção. Aumentar as obras, abrirmo-nos a novos escritores e alcançar mais leitores.

Fiz uma pausa.

- Sinceramente, o que desejo neste momento é que para além de uma editora, a LisEdict se torne uma editora mais familiar e profissional do que já é. Quero continuar a ter a confiança de escritores e leitores. E quero acima de tudo, que vocês queiram isso comigo, que trabalhemos todos juntos. Aceito qualquer sugestão. Agora o que eu quero mesmo saber é se posso contar com todos vocês.

-Sim, - ouvi o coro.

- Então, vamos lá fazer o que fazemos melhor, levar livros ao mundo. Obrigado a todos e alguma coisa não hesitem, contactem-me. Mais uma vez obrigado e até breve.

E assim encerrei a minha ligação e respirei. Acho que parei de respirar no inicio e só voltei agora. Correu melhor do que eu pensava. Olho para o relógio e vejo que está na hora de seguir para o aeroporto. Apanho as minhas coisas na minha sala e sigo para casa para poder apanhar o meu carro. Quando ia a caminho de casa o Markus ligou-me. 

- Boa tarde enkelini, como estás?

- Boa tarde Markus, estou a caminho de casa para apanhar o carro e ir para o aeroporto. E tu?

- Com saudades e feliz por saber que também tens saudades minhas.- Agora corei, sinto a minha cara em brasa. Se fosse só a cara...- Soube que falaste com os funcionários de Lisboa.

- Sim, havia demasiada especulação pelos corredores e eu achei melhor esclarecer as coisas. Achas que fui precipitada?

- Não, acho que fizeste bem. Ansiosa para ver a tua amiga?

- Sim, muito.

- Eu tenho que ir, já me estão a chamar. Mas precisava de ouvir a tua voz. Só a tua voz me relaxa. Mas tenho uma proposta para ti. O que achas de jantar comigo na sexta. Eu chego por volta das 18:00 e apanhava-te as 19:00, que dizes?

- Vou aceitar a proposta. Estarei pronta a essa hora. Agora vai, antes que atrases. Beijo

- Obrigado enkelini. Beijo, Tenho saudades

Assim que desligo a chamada fico a sorrir para o telemóvel. Realmente, estou a ficar uma boba com este homem.

Apanho o carro e sigo para o aeroporto. Depois de estacionar vejo que está na hora do avião chegar e sigo para a zona de chegadas, passo pela starbucks e apanho um machiato de caramelo e espero pela Inês. De repente vejo os seus cabelos castanhos a sair da porta. Empurra um carro com 2 malas e uma mini-Inês vem sentada em cima das malas. Deixo o copo no lixo e dirijo-me a ela. Olhamos uma para a outra e de repente abraçamo-nos com muita força enquanto algumas lágrimas rolam pelas nossas caras. A pequena boneca olha para nós e ri. Logo estica os bracinhos para a mãe e a Inês apresenta-nos.

- Catarina, esta é a Ana, a amiga que a mãe te falou...

- A minha madinha, mãe?

- Se ela aceitar, sim, é a tua madrinha. O que dizes, queres pegar na tua afilhada?

Eu olho para elas e as lágrimas caem.

- Claro que aceito amiga. Que afilhada mais linda eu tenho.- A pequena salta para o meu colo e abraça-me com aqueles bracinhos pequenos e gordinhos e estala um beijo na minha cara. A Inês pega no carrinho das malas e seguimos para o meu carro. Depois de colocarmos as malas e largar o carrinho seguimos.

A caminho de casa, com a Catarina a falar pelos cotovelos com a Inês sobre tudo o que vê sinto-me feliz. É bom ajudar uma amiga como a Inês.


Paixão em HelsinquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora