VINTE E UM

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— Porra – é o que minha cunhada diz, abaixo de mim – Tá indo tirar quem da forca?

— Ninguém – resmungo, me levantando. Pelo menos, dessa vez, ninguém caiu sobre a lixeira da rua – Você machucou?

— Sou mais forte do que tu pensa – ela faz uma careta, levanta e então me sorri – Mas agora que te encontrei, por que não vamos beber?

— Ahn... porque sou menor de idade?

— Bobagem. Umas doses de álcool não matam ninguém. E, pelo jeito com que você estava fugindo, deve estar precisando de álcool tanto quanto eu.

— Não estava fugindo.

— Sim, e nem eu estava indo para um bar encher a cara até esquecer do babaca do seu irmão, e ele aparecer puto de raiva comigo por estar bebendo como se não houvesse amanhã, porque na verdade eu quero irrita-lo – ela levantou as mãos – Dito isso, agora que já esclarecemos o que não estamos fazendo, já podemos ir beber.

— Vênus!

— Dafne!

— Eu achei que você tinha aprendido que não pode resolver os problemas da vida com bebidas.

— Não. Eu aprendi que não dá para resolver com drogas. Mas uma amnésia com álcool nunca é, realmente, algo tão ruim.

Dou uma risada, porque essa era a única coisa que dava para fazer no momento. A inconsequência de Vênus era uma coisa que, como sempre, causava espanto em qualquer pessoa. Mesmo a mim, que achava que já havia me acostumado a todo o furacão que essa garota causava.

— Achei que vocês já tinham se resolvido.

— Ora, por favor! – ela bateu na calça jeans, desviando o olhar – Tu conhece teu irmão melhor do que eu. Parece a mocinha de um filme de terror. A mocinha burra. Aquela mesma, que vai ter uma morte idiota por ser teimosa o suficiente para fazer algo inteligente – ela diz, segurando no meu braço e me levando com ela. Como parecia que ela não conseguiria mesmo fechar a boca até descarregar toda sua raiva com meu irmão, a deixei continuar seu discurso sem sentido – Ele vai me enlouquecer, juro que vai! Você tem noção do que ele acabou de dizer para mim? Que enquanto eu não assumir que estou errada, ele não quer falar comigo? Que tipo de namorado fala isso pra namorada? Sinceramente! Ele não quer um motivo pra me acusar de estar errada? Então, estou indo dar um motivo para ele achar isso. Aliás, melhor, porque com você comigo estarei dando dois motivos para ele ficar bravo comigo. Eu sou mesmo maravilhosa! Obrigada por sua existência, Dafne!

— Vênus! – segurei no braço dela, a sacudindo – Você tem noção do que acabou de dizer?

— Claro que tenho.

— Se você irritar meu irmão, só vai piorar tudo.

— Não. Eu vou fazê-lo falar comigo. O que, nessa altura do campeonato, é a melhor coisa que pode acontecer.

— Hm, você já pensou em... não sei, que tal pedir desculpa?

— Pedir desculpa pelo que, minha deusa? Por ajudar uma amiga?

Reviro os olhos, cansada. Não só daquele assunto, como de todo esse longo dia. Meus braços e pernas estão pesados, e minha cabeça está um caos, tudo o que queria era minha cama e uma excelente noite de sono. Mesmo assim, deixo que Vênus me arraste pelas ruas da cidade, porque não tenho coragem de deixa-la sozinha no estado raivoso que ela está.

Quando estou com raiva, eu quebro as coisas. Quando meu irmão está com raiva, ele resmunga e dá socos na parede. Mas quando Vênus está com raiva... ela faz coisas inconsequentes e absurdas. Não dava para confiar naquela garota, no jeito que ela está.

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