DOZE

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O sol esquenta tanto meu rosto pela manhã que acordo com a sensação de ter dormido sobre uma frigideira. Merda. Eu sempre esqueço a droga da cortina aberta quando durmo na casa do Pedro, mesmo sabendo que o sol nasce bem acima das janelas do quarto. Então, quando abro os olhos, meu quarto todo está tão dourado e claro que eu resmungo e fecho os olhos, sentindo a claridade queimar meu olho também.

Que ótimo. Um excelente dia para se começar com um belo whiteproblem berrando na nossa cara.

Melhor ainda é saber que você perdeu a hora da sua aula, quando pega seu celular.

— Pedro! – eu xingo com o primeiro nome que me vem a mente.

A porta do meu quarto é arranhada por Vulcano e suas patas enormes, já que agora eu chamei o seu dono. Resmungo, mas antes mesmo de sair da cama e deixar que o cachorro do meu irmão a destrua (ele adora pular nos móveis quando Pedro não está olhando – e, na verdade, nas pessoas também), a porta se abre e meu irmão aparece carregando uma bandeja.

Os olhos dele estão tão claros que quase chegam a doer. Todos os Vale nasceram com olhos verdes, um acaso da genética que seria difícil de explicar se meus tios não fossem preconceituosos o bastante para ter focado sua busca em mulheres brancas e ricas, obviamente. Mas nenhum olho é tão claro e intenso como o do meu irmão.

— Bom dia, Pinguinho – ele diz, enquanto Vulcano o atravessa correndo até a cama.

— Eu perdi a hora da aula! – resmungo.

— Eu vi – ele dá de ombros.

— E você deixou?! – eu teria caído com essa frase, caso não estivesse sentada na cama.

Ele dá de ombros e coloca a bandeja sobre a cama.

— Achei que estava muito cedo para panquecas, já que você é uma atleta e tudo o mais – ele fala, sua bochecha ficando um pouco rosada – Então temos: cappuccino com a receita da Lua, embora não tão bom quanto o dela, é claro – dá de ombros – E um misto-quente.

Eu pisco, mas antes que respondo, Vulcano deixa algo cair sobre a cama e late duas vezes. Quando eu o encaro, ele late de novo.

— Ah, sim – Pedro sorri torto – Parece que Vulcano queria mesmo te entregar isso – aponta o jornal sobre a cama – Embora tenha babado em meio jornal na sua tentativa – faz uma careta.

Dou uma risada e abro o jornal, pelas partes que a língua de Vulcano não deixou molhada. Sinto um aperto no estômago porque não estou preparada para ver outra notícia idiota sobre mim, mas a manchete na seção de esportes, em letras garrafais preto me deixam tão zonza que eu seguro o lençol da cama com força.

DAFNE VALE: UMA ESTRELA EM ASCENÇÃO?

— Isso é sério? – eu falo, beirando a histeria.

Pedro tira o jornal da minha mão, coça a garganta uma vez e então lê:

— "Dafne tem muitos talentos, e isso é inegável. Talvez ela chamasse sua atenção pela beleza clássica e o jeito aristocrático que olha para as pessoas. Mas, no jogo contra o Rio de Janeiro, na pequena cidade de Ponte Belo, MG, não era a beleza de Dafne que estava em foco. Mas a sua intimidade com a bola. A garota, de apenas dezessete anos, foi a principal jogadora e, mesmo que seu time, o despretensioso Ponte Belo, que está no seu segundo ano na Liga Feminina de Vôlei, perdeu a partida para o Rio de Janeiro, a garota foi a maior pontuadora do jogo. Ao que parece, ninguém consegue parar Dafne Vale quando ela quer. "

Meus olhos enchem de lágrimas e meu irmão pisca para mim.

— Tem mais! – ele fala, empolgado – "Esse é o primeiro ano de Dafne no time principal, ainda que ela tenha brilhado nos times de base nos últimos anos e ganhado todos os títulos individuais que uma jovem jogadora pode almejar. Mas, se a garota estava nervosa por enfrentar o melhor time da Liga, não deixou transparecer hora nenhuma. A canhota de Dafne é, talvez, a coisa mais poderosa que uma garota de sua idade pode produzir. Seus ataques chegaram a uma velocidade de quase 90 km/hora. E ela pulava tão alto que, por melhor que o bloqueio do time adversário fosse, ninguém conseguia fazê-la errar. Dafne Vale é, talvez, a grande promessa do esporte no Brasil. Uma estrela em ascenção. Que não está disposta a parar até chegar no topo. Salve-se quem se meter em seu caminho!"

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