Capítulo 13 - Rose, do Titanic

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— Está pronta?

Sabrina encheu o pulmão de ar e respondeu seriamente:

— Não.

— Nem eu — abri a porta.

Agora não tinha mais volta. Adiamos aquele momento o máximo que pudemos. Três meses. Era a hora da verdade.

Na verdade, três meses era muito além do aceitável. Eu precisava levar Sabrina ao médico e, por acaso, ela era menor de idade e precisava da autorização de seus responsáveis para realizar qualquer tipo de exame.

Por mim teríamos contado aos nossos pais no mesmo dia em que fiquei sabendo, porém ela disse que não estava pronta. Convencê-la de que nunca estaríamos de fato preparados para dar aquela notícia não foi fácil, mas ela finalmente compreendeu que orientações médicas da internet já não eram suficientes.

Eu só parei de nutrir a ilusória esperança de que os onze testes positivos estavam enganados depois de presenciar o que os hormônios da gravidez estavam fazendo com a cabecinha doida da minha namorada: ela chorava litros assistindo filmes de desenho animado e ria feito condenada com filmes de drama.

No primeiro mês, ela só sabia vomitar, por isso a presença de Cláudia foi tão importante, pois lhe dava cobertura em casa para que os pais não desconfiassem.

No segundo mês, ela já estava tão envolvida com a ideia de ter um bebê que não conseguia falar de outra coisa, por isso o gramado do fundo de sua casa virou o confessionário, onde mantínhamos conversas sussurradas sobre o assunto ultra secreto nas noites em que eu ia visitá-la.

No terceiro mês, o atual, começaram os desejos, mas é óbvio que eu não ia permitir que ela comesse terra com mel.

Basicamente, as férias escolares de Sabrina se resumiram a vomitar, dormir o dia inteiro, ler livros repetidos (ela cismou que não consumiria conteúdo novo para não arriscar ler algo que chateasse o bebê) e adicionar artigos infantis em um carrinho de compras virtual infinito (como se eu fosse milionário).

A parte da choradeira e da gargalhada doida com filmes de animação/drama, ocorria nos finais de semana no sofá da casa dela. E mesmo após o almoço de domingo quando seus pais tiravam uma soneca, evitávamos ir para o quarto. Não é como se Sabrina fosse ficar mais grávida do que já estava, é que ainda havia a regra da "porta aberta" imposta pelos pais (coitados, nada sabiam).

Antes do acampamento, fizemos aquele joguinho perigoso dos beijos não comportados enquanto os pais dela não estavam de olho. Mas agora seus hormônios estavam atacados e faziam as esferas verdes me olharem com um desejo intenso.

Se eu não fui capaz de manter o autocontrole enquanto ela não tinha uma legião de hormônios dominando seus sentidos, o que seria de mim quando aquela grávida hormonalmente afetada (para não dizer tarada) inventasse de subir no meu colo para me beijar? Eu não era de ferro nem nada, sabe? E o quarto dela definitivamente não era o lugar.

O meu seria, mas Sabrina raramente ia em minha casa, já que precisava de autorização para sair e, quando conseguia, eu queria levá-la a lugares interessantes para passar algum tempo de qualidade.

Com o retorno das aulas, as coisas ficaram mais complicadas. Terceiro ano do ensino médio, pressão do vestibular, e eis a minha namorada surtando mais do que qualquer outro adolescente não-grávido surtaria.

E foi por isso que estabeleci que, na escola, o assunto gravidez seria ultra proibido. Uma forma de garantir que ela se concentrasse apenas na vida de estudante, ao menos por algumas horas do dia.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora