Capítulo 34 - Sacudindo as paredes e soltando fogo pelos olhos

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Sabrina estava se achando a líder das Três Espiãs Demais. Esgueirando-se pela parede, andando sorrateiramente.

Eu me sentia como um personagem de filme de perseguição fugindo com um bebê nos braços. Olhando para todos os lados como um verdadeiro gênio do crime.

Do nada, uma barreira vermelha apareceu em minha frente.

— Mas o que vocês estão fazendo?!

Era Cláudia dentro do berrante vestido longo.

— Estão brincando, é? Não têm vergonha na cara, não?

— Fala baixo! — Sabrina gritou.

Sabrina gritou, rapaziada, vê se pode? Era uma missão secreta ou não?

Algumas pessoas olharam, mas não deram muita importância. Já estavam acostumadas a ver os noivos fazendo coisas sem sentido ou maturidade alguma.

Leandro apareceu para nos "salvar".

— Venham! Eu consegui o carro para vocês escaparem! — ele gritou.

Não se faz amigos como antigamente.

— VOCÊS VÃO FUG... — Sabrina tapou a boca de Cláudia a tempo.

Por fim, conseguimos convencer Cláudia a nos deixar ir sem fazer grandes cenas.

A festa estava legal? Sim. Queríamos abraçar todo mundo? Também. Mas o que queríamos mesmo era ir para casa. Aproveitar a companhia um do outro. Nós três. Finalmente aquilo estava acontecendo.

Além do mais, a festa de casamento não é para os noivos. É para os pais dos noivos. Para os amigos dos pais dos noivos. Para os amigos dos noivos. E para os penetras.

Veja bem: os noivos não comem. Não sentam. Ficam de lá para cá sorrindo para as pessoas até os músculos do rosto arderem. A festa não acaba quando os noivos vão embora. A festa acaba depois do bolo. Se nós fossemos esperar aquele bolo de um grilhão de andares acabar, só iriamos para casa depois das três.

Entramos os quatro — e meio — num carro que eu não fazia ideia de quem era.

Sabrina deitou a cabeça no meu ombro, a mão descansando na barriga do Eduardo, que estava no meu colo.

Ele estava acordado, me olhando. A mãozinha estendida para o meu rosto tentando alcançar meu nariz.

Aquela interação do Eduardo comigo me despertava sentimentos tão fortes que eu os estranhava. Era estranho, mas bom. Eu certamente não saberia explicar, mas se fosse tentar, eu diria que era como se uma parte do meu coração batesse fora do peito.

Eu tinha um filho. Eu tinha dezoito anos e tinha um filho. E era casado. Tudo era tão novo, tão estranho. Mas eu tinha a plena certeza de que queria acompanhar de perto cada etapa da vida daquele ser em meus braços.

Eduardo sorriu para mim. Bobo, pensei. Mas eu estava era sorrindo de volta.

— Ele tem o seu sorriso. — Sabrina disse, me fazendo perceber que reparava em nós.

Engraçado ela falar isso, pois eu descobri, com a ajuda do tradutor, o que ela me disse em francês naquele restaurante, na noite em que a pedi em casamento. "O seu sorriso é o meu lugar favorito no mundo", era a tradução.

Abri a boca para responder que ele tinha os olhos dela, mas a voz de Cláudia me interrompeu:

— Ei, não é engraçado?

— O que é engraçado? — Leandro perguntou, dobrando a rua.

Ela se virou no banco para olhar todos nós.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora