Capítulo 27 - Onde tudo isso vai...

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Como se estivesse ali, me esperando entrar em casa, foi só eu fechar a porta, me virar e...

— FERNANDO!

Que Deus me ajudasse.

— Onde você se meteu, garoto?! São quase seis da noite e você ainda me aparece com roupa suja e essa cara rasgada?! VOCÊ SE ENVOLVEU EM BRIGA?!

Como diz aquela música mesmo? Algo como: "pra que falar se você não quer me ouvir?". Minha mãe nunca me escutava, então por que eu deveria tentar?

Caminhei até o sofá e me larguei. A impressão que eu tinha era a de que minha cabeça ia explodir de dor.

Ela parou na minha frente e continuou:

— Eu juro que não sei mais quem é você — meneou a cabeça em reprovação. — Depois que começou a namorar aquela garota você só vive me dando dor de cabeça e preocupação. Acha isso certo?! Eu sou a sua mãe — ela apontou para si mesma, batendo o dedo no peito vezes seguidas — Mãe. Sabe o que quer dizer isso? Você ao menos pensou em atender as minhas ligações?!

Fechei os meus olhos porque não aguentava mais o fogo dos dela cravados em mim com tanta repreensão.

— Onde tudo isso vai parar, Fernando?! Não tem um dia se quer que você chegue cedo em casa. Fica até tarde na casa daquela Sabrina tendo que suportar o desprezo daquele homem bruto que, se pudesse, te matava com as próprias mãos. Como você acha que eu fico com toda essa situação?! Eu sou sua mãe! Isso não significa nada para você?!

Devia ter alguma coisa errada comigo. Eu era cobrado no trabalho, na escola, em casa, no relacionamento. Parecia que eu não conseguia dar conta de nada. Como, como, eu ia dar conta de educar uma criança?

— De quem é esse sangue na sua camisa, Fernando?!

Daquele desgraçado.

De olhos fechados, as cenas da briga retornaram à minha mente:

O primeiro golpe o derrubou na hora. Fui para cima dele e comecei a socar sua cara com toda a raiva que havia dentro de mim. Ele tinha feito Sabrina, a minha namorada grávida, chorar.

— Você vai matar ele! — O grito de Sabrina veio quando quebrei o nariz dele. A quantidade de sangue que jorrava para a boca dele a fez entrar em pânico.

Foi ao me distrair com Sabrina que o imbecil, em uma súbita fúria pela dor do nariz quebrado, começou a me socar para valer, arrancando sangue da minha boca. Bem aí, Sabrina caiu.

Eu não vi direito. Escutei o grito agudo das garotas e só entendi do que se tratava quando começaram a gritar o nome da Sabrina.

Eu estava prestes a levar outro soco quando um grito saiu rasgando minha garganta: o nome dela. Quando ele viu Sabrina estendida no chão, seus movimentos travaram. Minha vontade naquele momento era voltar a socar a cara dele até enfiar seu crânio no concreto. Não o fiz porque Sabrina era mais importante e precisava de mim. Então ele empurrei para o chão e me apressei até ela, mas já estava desacordada.

— Vem aqui, vou cuidar desses machucados — minha mãe me pegou pela mão e me arrancou do sofá.

Ela me arrastou até o quarto, onde meu pai dormia. Ele despertou com o barulho dela abrindo e fechando as portas do armário, em uma busca frenética pelo kit de primeiros socorros. Meu pai se sentou na cama, olhou para ela com uma visível cara de confusão, depois me viu encostado no batente da porta e franziu a testa.

— Fernando? — ele espremeu os olhos para ver melhor, estava sem os óculos. Me avaliou de cima a baixo e perguntou: — Você está bem, meu filho?

Soltei um pesado suspiro de cansaço.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora