Capítulo 43 - A mamãe gosta do nosso cabe...

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Por que eu estava me importando tanto? Estávamos separados, afinal. Tínhamos que seguir com as nossas vidas, certo?

Errado. Eu me importava sim, porque para alguém que me prometeu amor eterno, um ano era cedo demais para dar o amor eterno para outra.

E o Eduardo? Ele queria confundir ainda mais a cabeça do nosso filho? Já não era bastante para ele? Meu filho não ia ter porcaria de madrasta nenhuma se achando no direito de dar palpite sobre a educação dele.

Durante todo o trajeto de carro eu não disse uma só palavra. Ao contrário de mim, Eduardo falava sem parar. Fazia planos para todos os dias da semana que incluíam ele e o pai.

No apartamento as coisas ficaram ainda piores. Quando Fernando me mostrou qual seria o "meu" quarto, me senti tão humilhada que tive que fazer um esforço sobre-humano para não chorar.

Eduardo, feliz da vida, me mostrou seu quarto com detalhes. A cama era bem maior do que a que ele tinha na outra casa. Eu não conhecia aquelas peças no guarda-roupa. Muito menos todos os brinquedos na estante. Roupas melhores, brinquedos melhores, um computador só para ele, Eduardo tinha outra vida na casa de Fernando.

Mais tarde, quando Fernando pediu comida, não esperei acordada. Duvidava que o bolo na minha garganta deixaria algo passar.

Apesar de a "minha" nova cama ser muito confortável, meu corpo estranhou. Por conta disso acordei mais cedo que de costume e a primeira coisa que me veio à mente foi que eu estava na casa de Fernando. Essa informação chegou como um golpe e me fez querer ficar no quarto até ele sair para trabalhar, algo que tentei fazer pelo máximo de tempo possível, até o despertador estrondosamente me lembrar que eu tinha que chamar Eduardo.

No entanto, assim que cheguei no quarto dele, vi que já estava acordado e vestido com o uniforme escolar.

— Alguém acordou animado — falei, me abaixando na frente dele para tirar sua camisa, que estava ao avesso.

Eduardo ergueu os braços para me ajudar a passar a camiseta.

— Isso é tão legal! A gente aqui na casa do papai! — Ele estava sorrindo de graça.

Virei a camisa do lado certo e o vesti novamente.

Ouvi um ronco estranho e pensei que fosse a minha barriga, já que o almoço do dia anterior foi a minha última refeição, mas Eduardo deu um sorriso sapeca e disse:

— Tô morrendo de fome.

— Vamos preparar alguma coisa — peguei a mão dele e fomos para fora.

Ontem à noite eu só queria um lugar escuro para chorar, então, quando chegamos no apartamento, tudo ao redor passou como um borrão em minha mente.

Eu tinha uma breve noção do ambiente por causa da noite em que vim para ver Eduardo, então já sabia que o apartamento era bonito. Mas só agora consegui reparar na sofisticação do piso de porcelanato.

Sempre gostei de decorações que combinam a cor do estofado com a das paredes, e aquele cinza claríssimo era muito bonito. Dava a perspectiva de modernidade que a pessoa que decorou pretendia dar.

Mas aí me veio o pensamento de que provavelmente foi a namorada de Fernando que escolheu a decoração. Então eu detestei o tapete cor de creme, detestei a estante de livros na parede entre as portas dos quartos, detestei a televisão grande presa na parede, detestei a mesinha de centro e detestei a mesa de vidro perto da janela lateral.

Na cozinha, detestei que todos os eletrodomésticos como fogão, microondas e geladeira, fossem cinza, tudo muito organizado, aquela peçonhenta era meticulosa.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora