Capítulo 42 - Tem outra mulher em...

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No dia em que Cláudia, sentada de frente para mim em minha cama, tirou um kit de teste de gravidez da sua mochila, meu estômago revirou. E não foi como das outras vezes, quando eu sentia cheiro de comida; daquela vez foi algo como o pressentimento de que minha vida iria virar de cabeça para baixo.

Me lembro de como eu chorei. De como desejei desaparecer. De como mandei Cláudia embora aos gritos quando ela tentou me consolar. E de como andei cega pelas ruas até a gravadora em que Fernando trabalhava na época. Eu desabei nos braços dele em um choro convulsivo depois de contar que estava grávida. Eu achei que a minha vida tinha acabado. Meu mundo estava completamente de ponta cabeça.

Mas então ele me disse que eu não ia lidar com aquilo sozinha, que estava comigo e me abraçou forte. Me lembro de me sentir segura. Eu sabia que ele estaria sempre ao meu lado e isso bastava.

Agora, alguns anos depois, eu estava com a mesma sensação de que minha vida tinha virado de pernas para o ar, mas Fernando não estava ali para me abraçar e dizer que tudo ia ficar bem.

Aquela semana me destroçou. Eduardo passou cada um dos dias reclamando de dor, mas eu não liguei para Fernando em nenhuma vez. E muito menos levaria Eduardo no hospital onde o pai de Fernando trabalha.

Tomei uma decisão desesperada sem pensar nas consequências: levar Eduardo em outro hospital.

Fora do nosso plano de saúde, as consultas, exames e medicamentos daquele hospital custaram um dinheiro que eu não tinha.

Os remédios eram caros demais, mas pareciam funcionar bem contra as dores que Eduardo não sabia explicar — apesar de o novo médico apenas ter confirmado o que o outro havia dito.

De qualquer forma, eu não me arrependia de ter gastado quase todo o meu dinheiro com a saúde do meu filho. O problema foi eu ter fechado os olhos para o aviso de desocupação de imóvel que recebi um mês atrás.

Tive sorte quando meu crédito de aluguel foi aprovado com aquela imobiliária. A casa que me ofereceram era pequena, porém contava com toda a mobília, isso facilitou muito a minha vida. E eu pretendia continuar morando ali por bastante tempo.

Mas agora, segurando a notificação extrajudicial com o comunicado do fim do prazo de desocupação, eu sabia que tinha chegado ao fim da linha.

Naquela tarde, depois de arrumar as malas, reuni todas as minhas contas atrasadas: boletos, faturas dos cartões de crédito, contas de energia, internet etc. Sentei-me de frente para elas no tapete da sala com a intenção de encarar o problema de forma adulta e responsável. A ideia era traçar um plano para organizar a minha vida financeira, mas à medida em que fui chegando perto do valor total dos débitos, percebi que era uma batalha perdida.

Mas o que me fez desabar mesmo foi perceber que, em débito com o mercado imobiliário, seria impossível conseguir outro contrato de aluguel. E, por Deus, como eu conseguira pagar aqueles cinco meses atrasados?

O dinheiro que me restou só dava para pagar por algumas diárias em um hotel barato. Essa era a minha única saída até eu achar uma solução de verdade.

— Mamãe?

Levantei a cabeça e vi Eduardo parado na porta segurado pela mão de Fernando. Ele veio correndo e envolveu meu pescoço com os braços.

Era fim de tarde de domingo, hora de Fernando trazer Eduardo de volta para mim. Só que eu não tinha para onde levá-lo.

— Por que está chorando, mamãe?

Abracei ele sem a mínima intenção de soltar. Eduardo era a única coisa que fazia sentido naquela minha vida caótica.

Olhei para cima quando vi um par de All Star se deter perto das minhas contas.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora