Capítulo 12 - Sentença de morte

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Será que uma frase, duas palavras e doze letras teriam o poder de enlouquecer uma mente sã? Essa seria a única explicação para a minha primeira reação ao ouvir o que saiu da boca da minha namorada:

— Você está grávida — eu estava quase sorrindo de tão aliviado. Sabrina não ia terminar, ela só estava grávida. Ufa.

Acima de olhos translúcidos pelas lágrimas, Sabrina franziu as sobrancelhas com tanto afinco que comecei a pensar que havia algo de... errado.

NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO!

Qualquer possível sombra do sorriso aliviado de dois segundos atrás evaporou completamente, levando consigo meu estado de demência.

— Você está grávida! — esbaforida, esganada e exasperada, foi como minha voz saiu. Enfiei as mãos nos cabelos em desespero. Merda!

Gravidez. Bebê. Minha morte. Sabrina era nova para ser mãe e eu era novo para morrer.

O pai da Sabrina ia me matar.

ELE IA ME MATAR.

Comecei a andar de um lado para o outro, esfregando o rosto, passando a mão pelo cabelo com força. E eu com o medo idiota de Sabrina dizer que queria terminar. Teria sido muito melhor ouvir um "acabou". Isso não ia fazer pai de ninguém tirar a vida de ninguém. E, para todos os efeitos, esse último ninguém ERA EU.

Um som de soluços me arrancou do meu estado de surto. Quando olhei para Sabrina, senti uma coisa ruim por dentro. Os braços caídos ao longo do corpo, as lágrimas se derramando para as bochechas até o queixo, o rosto vermelho e os ombros subindo e descendo com os soluços altos. Que idiota que eu era. Minha namorada estava grávida e apavorada, eu tinha que tranquilizá-la, não podia entrar em pânico, não na frente dela.

Talvez mais tarde. Agendei mentalmente um surto para as dez da noite.

— Sabrina — fui até ela e a segurei pelos ombros —, eu sei que é... — um desastre, pensei, mas falei: — uma situação difícil, mas você não está sozinha nisso. Estou aqui, vamos lidar com isso juntos.

Vamos morrer juntos.

— Mas eu... nós só temos 16 anos, Fernando, não podemos ser pais. — A voz entrecortada de choro quase não me permitia entender as palavras.

Um lado meu quis concordar com ela. Eu mal tinha completado 17 anos. Tanta coisa a se aproveitar... Tanta coisa a se fazer... Tanta coisa a se viver! Nem tínhamos vivido nada ainda, como poderíamos criar outra vida? Não tinha como aquilo dar certo. Fraquejante, desviei os olhos.

No entanto, apesar da loucura que estava a minha mente com todos os possíveis problemas que viriam por causa de uma gravidez, a voz que prevaleceu foi a da responsabilidade. Não havia nada a ser feito sobre isso. Só existiam duas únicas formas de mudar as coisas: uma era voltando ao passado; a outra, apesar de ter passado pela minha cabeça, eu não me atreveria a falar.

Ao olhar novamente para Sabrina, notei seus olhos alagados cravados em mim como se tentassem ler a minha mente. Em seu rosto avermelhado era evidente o sofrimento por não saber o que eu estava pensando. Óbvio, ela estava preocupada em como o namorado dela enxergava aquela situação.

Será que eu estava deixando transparecer a minha luta interna? Eu não podia permitir que ela percebesse isso. Coloquei a mão atrás da cabeça dela e a puxei para mim. Primeiro porque queria que ela se sentisse segura. Segundo porque eu não queria que ela visse meu rosto enquanto aqueles pensamentos contraditórios e egoístas vigoravam.

Sabrina escondeu o rosto no meu peito, fechou os dedos com força na parte de trás da minha camisa e chorou alto e descontroladamente. Com soluço e tudo.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora