Capítulo 45 - É hora de parar

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Uma bagunça? Minha vida? Eu não diria isso.

Não é como se fosse grande coisa eu morar na casa do meu ex e ter que encarar seu abdômen definido todos os dias. Também não era nada demais o constrangimento de ocasionalmente ser flagrada encarando seu corpo.

O fato de ele perceber como ainda mexia comigo era humilhante porque quando o peguei encarando as minhas pernas, ao contrário de me sentir atraente, minha baixa autoestima me fez acreditar que ele estava era reparando algum tipo de celulite ou a depilação estava malfeita.

Depois de horas de insegurança na frente do espelho confirmei que não havia celulite e a depilação estava ok, o que fez eu me questionar se ele ainda se sentia atraído por mim.

No entanto, apesar da atração latente, Fernando e eu não estávamos nos encarando diretamente, tampouco conseguíamos manter um diálogo de mais de três palavras.

Como eu dizia, minha vida não estava bagunçada.

Não havia nada fora do lugar. Só a humilhação e o constrangimento de todos os dias, morando na casa do meu ex sem que nem nos olhássemos direito.

Mas isso ia mudar em breve. Já estava tudo planejado, eu ia juntar dinheiro e alugar outra casa. Dessa vez, ia pagar alguns meses adiantados.

Para isso eu teria que economizar em tudo. Tudo mesmo. Não ia lanchar na faculdade. Muito menos sairia com Cláudia nos finais de semana. Não pegaria ônibus de jeito nenhum. Mas, o principal, o que me ajudaria a conseguir sair do fundo daquele poço em menos tempo, era o aumento que eu ia receber.

Claro que Otávio ia dizer sim. Eu já tinha seis meses de trabalho naquele banco, meses em que ele testemunhou minha dedicação. Ele até reconheceu que eu era a melhor estagiária quando me jogou nas graças de Rodrigo, o novo e exigente chefe do setor de finanças. Óbvio que ele ia me dar um aumento.

— Não.

— Mas eu...

— Não quero saber. Você é estagiária. Estagiários não recebem aumento. Agora volta a trabalhar. Não te pago para ficar aí parada com cara de mosca morta.

Quando voltei para a minha sala, havia um vulcão no topo da minha cabeça.

— Aconteceu alguma coisa? — Questionou Rodrigo, ao me vir passar pela porta como um tornado.

— Alguma coisa?! Uma coisa horrível! Otávio aquele... — Rodrigo levantou as sobrancelhas para mim, então mudei o xingamento — filho da mãe!

— O que o filho da mãe te fez? — ele cruzou os braços.

— Olha só, eu sou uma estagiária modelo. Chego mais cedo que os outros. Nunca falto. Realizo minhas atividades no prazo. Conserto os erros dos outros estagiários e até mesmo de funcionários experientes. Eu mereço esse aumento! — Fechei os punhos com força, desejando poder socar a cara de alguém.

Esse aumento era a minha única esperança de conseguir sair do buraco em que estava. Agora tudo parecia perdido.

— E ele te negou? — Rodrigo franziu a testa.

— Sim! — me larguei na cadeira. — Tô com tanta raiva dele! Eu dou meu sangue por esse lugar. — Oh, não, não, não, minha garganta se fechou e meus olhos arderam. O choro de raiva era muito humilhante. Eu não ia chorar na frente de Rodrigo.

Coloquei a mão na boca e olhei para baixo, tentando disfarçar. De repente, me senti sufocada.

Rodrigo arrastou sua cadeira para perto de mim.

— Você não parece muito bem — o tom de preocupação em sua voz me fez ter ciência de que eu estava pior do que imaginei.

O que Fernando dizia para eu fazer quando surtava? E por que eu não estava conseguindo me lembrar? Devia ser porque eu estava NO MEIO DE UM SURTO.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora