Epílogo

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Oi, filho.

Lembra de quando eu pedi a sua mãe em casamento? Você me ajudou. Coloquei o anel em um colar e pendurei no seu pescoço. Ela encontrou e quase não conseguia parar de sorrir, nem de chorar.

No dia do casamento, quando ela e eu trocamos as alianças, você estava em meus braços, passando a mão no meu rosto e falando bebenês.

Quando as coisas ficaram ruins entre nós, você, com toda a sua inteligência e travessura de menino, conseguiu nos unir novamente. Mesmo separados, você vivia tentando nos reaproximar. Foi você o motivo de termos voltado a viver sob o mesmo teto, o que nos permitiu ter uma breve reconciliação, e por causa disso tivemos uma filha, sua irmã.

Você iria adorar conhecê-la, e eu sei que já te disse isso várias vezes, mas é que eu realmente adoraria vê-lo sendo o irmão mais velho dela. Apesar de nunca ter te conhecido pessoalmente, ela tem um carinho especial por você.

Fernanda é uma menina encantadora. Eu já te contei como ela é esperta, como é habilidosa em jogos de tabuleiro, como é bonita (praticamente uma xerox da sua mãe), e de como canta pela casa o dia todo, como se vivesse em um musical.

Aos domingos, nas vezes em que toda a família se reúne para almoçar em nossa casa, Fernanda sempre inicia o karaokê. Sua mãe acertou na escolha da nova casa, com um terreno amplo que nos dá privacidade em relação aos vizinhos e permite que a nossa aspirante a cantora se expresse livremente.

Você iria gostar muito da nova casa. Fernanda adora, principalmente a piscina, que ela nada com destreza de uma ponta à outra, como se fosse nadadora profissional e não uma menina de nove anos.

Mergulhar juntos, para Fernanda e eu, é a nossa diversão favorita; assim como, para você e para mim, jogar videogame era.

Ainda me lembro das nossas sessões de jogos até tarde, comendo batata frita. E lembro como você gostava de deixar o cabelo grande, porque dizia que sua mãe amava assim.

Lembro de como você vibrava de euforia quando chegava em casa com um novo carrinho Hot Wheels para a coleção, ansioso para um dia atingir a meta de mil deles. Lembro bem de como você amava dias chuvosos, porque significava comer bolinho de chuva e poder carregar o cobertor nos ombros pela casa. Lembro de nunca ter concluído a leitura de um livro para você, porque você sempre dormia na metade e no dia seguinte queria uma história nova, argumentando que o resto da história anterior você viu nos sonhos.

Lembro de você ter feito a sua mãe quase ter um infarto quando rabiscou as paredes da sala com giz de cera verde e amarelo, tentando desenhar uma bandeira. Lembro de como você detestava a creche. Lembro de quando você trocava o "c" por "x", então sua pronúncia de palavras como "você", céu", "celular", fazia seus pais rirem feito bobos.

Lembro da primeira vez que você caminhou, lembro da primeira vez que você me chamou de pai, lembro da primeira vez que você chorou, lembro da primeira vez que você chutou dentro da barriga da sua mãe.

É, eu lembro de cada momento da sua curta passagem pela minha vida.

Você não está mais entre nós, filho, mas eu gosto de escrever para você. Especialmente nessa data.

Hoje seria o seu aniversário de 15 anos.

Eu ainda me pergunto por que você se foi tão cedo. Tivemos tão pouco tempo juntos. Eu queria fazer tantas coisas com você. Queria ter te ensinado a dirigir, mas você nem ao menos teve tempo de aprender a andar de bicicleta. Tínhamos tanto para te ensinar, filho, tanto para aprender com você.

Ah, Eduardo, será que você ao menos sabia o tamanho do meu amor por você?

Quando sua mãe, grávida de você, me perguntou como as estrelas nascem, minha resposta dizia respeito ao fato de você ser a luz em nossa vida. Eu não imaginava que você se tornaria literalmente uma estrela no céu.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora