— Quero falar com Fernando — falei, firme.
— Quem é?
Faltou pouco, bem pouco mesmo, para eu dizer que era a mulher dele. Só não falei porque no momento seguinte ouvi outra voz no telefone.
— Oi — e ele não estava com voz de sono, como deveria estar.
Fiquei muda nos primeiros segundos. Deu tempo de ele olhar no visor, porque falou em seguida:
— Eduardo precisa de você.
— Mamãe — a voz dele soou chorosa ao fundo.
Aí eu esqueci da mulher, esqueci de tudo e o mundo parou de girar.
— Eduardo! Meu Deus, Fernando, o que ele tem?!
— Não sei ao certo. Ele reclama de dor, mas quando pergunto onde está doendo, só chama por você.
— Quero a mamãe aqui, pai, quero a mamãe — Eduardo estava chorando alto.
— Eu já estou indo. Estou indo agora. Diz para ele que estou indo.
★
Eu estava tão cega pelo desespero que quando cheguei e Fernando abriu a porta, não esperei que me convidasse.
— Onde ele está? — Já fui entrando, como se conhecesse o lugar, mas na verdade nunca havia pisado no apartamento dele.
— No quarto, vem — ele passou na frente e eu o segui cegamente.
Minhas pernas travaram na porta de um quarto no momento em que vi meu filho com aparência abatida deitado na cama, agarrado a um dinossauro de pelúcia.
— Eduardo — me apressei até ele e me sentei na cama, pegando sua mão. — Eu estou aqui.
Os olhos chorosos se iluminaram ao me encontrarem.
— Mamãe — a voz estava arrastada, mas ele apertou minha mão com força. — Me ajuda, mamãe, tá doendo.
— Onde está doendo?
Do nada, Eduardo começou a chorar.
— Meu amor, fala pra mamãe onde está a dor — pedi, acariciando seus cabelos com meus dedos trêmulos.
— Não sei, mamãe. Tá doendo muito — as palavras dele se misturaram com o choro.
Olhei para Fernando, de pé ao meu lado. Ele meneou a cabeça, sua cara estava péssima.
— Fica aqui mamãe — ele agarrou o meu braço. — Não vai doer mais se cê ficar comigo.
Aquilo destroçou meu coração. Será que era algum tipo de dor emocional?
Fernando devia achar o mesmo, caso contrário já teria levado o filho para o hospital.
— Não posso ficar, filho — falei cautelosamente.
Ele chorou com ainda mais intensidade. Ver o meu filho chorar era a pior sensação do universo. Eu derrubaria metade do mundo para evitar que ele sofresse, mas agora me sentia completamente impotente. Meus olhos ficaram úmidos.
— Por favor, mãe. Eu prometo que vou ser bom. Fica perto de mim — ele apertou os olhos com força e depois abriu novamente. — Tá doendo muito, mamãe.
Minha garganta se fechou e eu cobri a boca com a mão. Eu estava à beira de lágrimas.
Fernando percebeu que eu não ia conseguir lidar com aquilo, então se aproximou do filho e proferiu:
— Calma, filho — ele passou a mão na testa de Eduardo. — A mamãe vai ficar.
Não olhei para ele porque não queria que visse meus olhos chorosos, mas tive vontade de xingá-lo.
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Como nascem as estrelas
Teen FictionFernando nunca foi de se meter em grandes encrencas. Com mais maturidade que a maioria dos garotos da sua idade, é reservado e está confortável em seu lugar de anonimato enquanto aluno mediano do ensino médio. Quando conhece Sabrina, tem certeza de...