Capítulo 41 - O resultado do vestibu...

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Fernando

Sabrina estava em cima de mim, me beijando furiosamente. Eu apertava todo seu corpo, parte por parte, enquanto tirava sua roupa pela segunda vez naquela manhã.

Isso era resultado de nove meses de gravidez sem contato físico suficiente, e os cinco meses que se seguiram com o pai dela na nossa cola, até o casamento.

Um mês de casados era pouco para nos fazer acostumar que agora tínhamos um ao outro sem ninguém no caminho. E era por isso que nos aproveitávamos ao máximo, pouco habituados com o fato de que agora nada e ninguém ia nos separar.

— Ahhh! — ela gritou.

Parei na metade dos botões da camisa "dela". Sabrina só sabia usar minhas roupas.

— O que foi?! — olhei assustado para ela.

Os olhos dela estavam enormes, as duas mãos cobrindo a boca e o cabelo todo bagunçado, que eu mesmo baguncei.

— É hoje! — ela pulou para fora da cama com tanta rapidez que não tive tempo de segurar.

Então começou a caminhar descalça pelo quarto, apenas com roupa íntima e a camisa desabotoada até a metade. A vista estava boa, coloquei os braços atrás da cabeça e aproveitei.

— Tô adorando o desfile.

Ela me ignorou e continuou revirando as coisas.

— Onde está o notebook? Achei. — Sabrina pegou o notebook e veio se sentar na cama.

Abracei ela por trás.

— Seja lá o que for, você pode fazer depois — enquanto eu beijava seu pescoço, abri mais um botão da camisa.

O corpo dela se arrepiou por inteiro. O pescoço era seu ponto fraco e eu não tinha dó dela.

— Fernando... eu preciso me concentrar — disse, digitando "resultafo dp vesrtibuls" no computador. — O resultado do vestibular sai hoje!

Eu tinha me esquecido completamente. Sem afastar a boca do pescoço dela, olhei para a tela, onde a página da universidade carregava.

Quando clicou no link dos aprovados em Ciências Contábeis, seus dedos estavam tremendo. Ela começou a roer as unhas e, na espera pelo carregamento da nova página, a unha do mindinho foi para o brejo.

— Relaxa, seu nome tá aí — massageei seus ombros enquanto ela rolava a barra na tela.

— Por que existem tantas pessoas com a letra c?! — Reclamou, e lá se foi a unha do dedo anelar.

Quando chegou na letra s, Sabrina já estava roendo a unha do polegar.

— Sabrina dos Anjos Bernardes — eu li, apontando para o nome na lista.

— AHHHHHHHHHHHH!

Sabrina deixou o computador cair quando ficou de pé. Ela virou para mim, colocou as mãos no rosto de disse:

— AHHHHHHHHHHHHH!

Comecei a rir. Com certeza Eduardo havia acordado com seus gritos. Agora restava esperar o choro para eu ir pegá-lo.

— EU PASSEI!

Ela subiu na cama e pulou sem parar. A camisa folgada, presa somente por dois botões, subia e descia, exibindo a lingerie vermelha.

— PASSEI! PASSEI! PASSEI!

Tomei a errônea decisão de ficar em pé e o arrependimento me acertou no mesmo segundo: Sabrina se lançou em cima de mim.

Eu não estava esperando, por isso me desequilibrei e caí. Ela riu, claro, eu amorteci sua queda. Mas a minha quem amorteceu foi o chão.

Levei uma mão atrás da cabeça, fazendo careta.

— Fê, eu vou pra USP — ela olhou dentro dos meus olhos quando disse aquilo. Não estava mais gritando. Apenas sorrindo, e chorando. — O meu maior sonho vai se realizar.

Aí eu parei de achar graça. Forcei um sorriso e torci para que ela não notasse que não era verdadeiro.

De repente, seus olhos se arregalaram.

— Tenho que contar pra minha mãe! — Ela me deu um selinho e se levantou. Pegou o short do chão e saiu vestindo para a sala.

Assim que a ouvi no telefone, peguei o computador do chão, me sentei na cama e abri a página do curso que eu havia me inscrito. Enquanto a página carregava, meus olhos alternavam da tela para a porta.

Ouvi ela comemorar com a mãe, depois com o pai, e enfim cheguei na letra f. Droga.

Fernando Elis Bernardes. Aprovado.

— Eles ficaram tão felizes! — Ela entrou no quarto quase pulando.

Fechei a tampa do notebook rapidamente.

— Não fecha! A gente tem que ver o seu resultado.

— Já vi. — Fingi cara de desânimo e coloquei o notebook em minha gaveta ao lado da cama, para apagar o histórico depois.

— Ah, não. — Ela se sentou no meu colo e me abraçou.

Sua tristeza era tão palpável que me deixou mal.

— Não importa. Você passou — acariciei os cabelos dela.

Sabrina se afastou para me olhar nos olhos.

— Mas eu não vou sem você — seus olhos verdes estavam apagados.

Claro que ela ia ficar mal. Ela passou na melhor universidade do país. E agora, por minha causa, não iria.

Rápido demais para ser verdadeiro, Sabrina deixou a tristeza de lado e sorriu ao disparar:

— Nós passamos na universidade daqui. Os dois. Esse é um sinal de que temos que ficar. Além disso, não teria como a gente se mudar para outro estado. Temos um bebê muito pequeno. Não daria certo — Sabrina disse isso, mas eu sabia que ela não acreditava em uma só palavra.

Aquelas palavras eram minhas. Eu disse isso no dia da inscrição, tentando dissuadi-la da ideia de ir para a USP.

Apesar de Sabrina ser teimosa e cabeça dura como o pai, foi uma atitude egoísta de merda, a minha. Se tratava do maior sonho da vida dela. E eu menti. Eu só não tinha ideia de que as consequências viriam tão depressa.

Como nascem as estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora