♚ I - 20 ♛

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PV: Paulo (PL)

Não sou mau, longe disso, me acho o traficante mais honesto que já comandou a Rocinha ou qualquer outro morro. Mas não sou santo, se fosse não estaria na minha posição. Antes de entrar pra esse meio nunca tinha colocado um puta cigarro na boca, nunca cheguei tarde ou saí vazado do internato pra curtir uma festa com bebedeira e mulher a vontade. 

Sempre fui centrado, tinha um caminho trassado e eu iria segui-lo se não fosse o assassinato do meu pai. Estava de boa na faculdade, com as melhores notas, uma namorada que seria o sonho de "consumo" de qualquer marmanjo e tinha o suficiente pra viver. 

Isso seria fácil  de lhe dar, se eu não tivesse irmãos pra cuidar, uma adolescente que foi trancada a sete chaves e um estudante de medicina de faculdade particular. Um bando de mimado pau no cú que não sabia o que mané era trampo.

Larguei tudo por eles, mesmo que esse não fosse o meu dever. Eu deveria ter entrado como o dono da Rocinha, mas como alguém que nunca conheceu aquele mundo poderia comandar uma facção inteira de traficante procurado pela policia e milicia?

O comando foi pra outro e ,sinceramente, nem liguei. Só queria dinheiro suficiente pras contas. Cheguei como gerente de uma biqueira que já tava sendo levada a falência por um drogado que fumava mais do que distribuía. Nem tremi, meti a cara a tapa e curti com placa de geral.

Conheci meus homens mais confiáveis ali, naquela boca que tava sendo ameaçada pelo dono do morro fazia duas semanas. Entrei com a corda no pescoço e aquela desgraça só me colocou ali pra ter a desculpa de me matar se eu não conseguisse reerguer aquela porcaria. Dançou bonito quando entreguei 25% da divida e mais a porcentagem normal no fim de uma semana.

Ralei, gritei, ameacei. Torturei, roubei, e pela primeira vez ,matei uma pessoa. Tudo isso dentro de uma semana. No decorrer de um mês a divida da boca tava paga, meus homens confiavam em mim e o morro já conhecia o filho do temido Marcão 55. 

Passei a ser chamado de PL. Chamei atenção dos chefes de trafico aliado e inimigo. Em um ano e meio comandei a boca melhor que todos que estavam nesse ramo a anos, e ninguém da policia sabia quem eu era. Pra eles nem existia filhos do 55. Tudo mudou quando realmente me envolvi com o trafico.

Saidinhas de banco, latrocínio, roubo de carga, trafico de drogas, roubo de arma de fogo do próprio exercito. Um mar de crimes cometido por alguém que a dois anos não conhecia o errado tão de perto. E o filho da puta aqui se deu bem. 

Era o fantasma da Rocinha que tava fazendo a policia passar vergonha e o bonde ganhar destaque. Foi numa dessas que conheci o Picasso, o parceiro pra toda hora. Sua mãe era moradora da Rocinha e ficava na parte da favela que eu comandava. Ela veio até mim pedindo ajuda quando o maluco ficou privado. 

Quis que colocasse o nome do filho na lista de presos que deveria sair da segurança máxima na fulga que eu tava organizando a meses. Ela chorou e implorou que eu o tirasse, porque desde que ele entrou não conseguia uma visita. Ela tinha medo dele ta sendo torturado ou já tivesse debaixo da terrar servindo de comida.

Prometi a ela que tiraria ele de lá. E eu tirei. Muitos morreram por conta disso, mas dezenas sobreviveram por minha causa. O pior bandido é aquele sem caráter, aquele que promete, enche a boca de bosta pra dizer que vai fazer e quando chega o dia, amarela, se caga nas calça feito criança. Eu não sou desses. Se eu prometo eu cumpro. Essa é a minha lei.


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O Dono do Morro (Livro 1 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora