♚ I - 03 ♛

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2 meses depois

Os dois últimos meses foram os piores que já passei. De todas as pragas que passaram na minha vida o único que insistia em ficar na minha cabeça era o maldito que eu não poderia ter. Qual era o problema? Tinha que insistir em quem não presta, Manuella?

Eu não sei, era a minha cina gostar de quem tá pouco se fodendo pra mim. Amor de pica era uma desgraça mesmo. Só era te foder do jeito certo e pronto, você quer o filho da puta até se acabar numa grade de cerveja quando ele chutar a sua bunda.

Não fui mais nas festas que a Luana me chamava por causa do bendito trabalho, consegui o cargo que eu queria e agora passo muito tempo no computador falando com os representantes dos bancos, já que meu tio viajou pra abrir uma empresa no Japão, de acordo com ele: São os melhores investidores depois da China. Homenzinho pra gostar de dinheiro.

Hoje é sexta, deve ser umas 16:40 da tarde, to no carro, fiz alguns exames ontem e estou indo buscar os resultados. Essas duas últimas semanas passei muito mal, tudo me enjoava e quando me levantava muito rápido a minha visão escurecia.

Ontem foi a gota d'água, estava numa reunião com representantes dos bancos de Shanghai/China e eu, além de enjoar com o perfume da mulher, desmaiei na sala de reuniões. Ainda bem que foi no final, quando eles já tinham assinado os papéis.

Meu tio me deu uma bronca via skype, é só pra isso que ele serve. Pra elogiar o tanto de contratos que eu consigo, ele nem me olha. To de saco cheio já. Estaciono a Range na frente da clinica, desço e travo o carro. Entro na clinica quase vazia e me dirijo a mulher atrás da mesa.

—Bom dia.—Ela me recebe sorrindo

—Bom dia, vim buscar os exames que a Dra. Larissa pediu ontem, ta no nome de Manuella Brandão.

—Ah, ela pediu urgência.—  Ela abre uma gaveta e tira de lá uma tralhada de papel.— Ta aqui ô, ela falou que fosse na sala dela assim que pegasse os exames. Vou avisar que a senhora chegou e já chamo.

—Tudo bem, obrigada.— Ela sai e eu me sento em umas cadeiras encostada a parede. Urgência? Será que ela acha que minha anemia voltou?

É, tive anemia nos meus 12 anos. Pelo menos foi com 12 anos que me levaram as presas para o pronto socorro e descobriram que a minha anemia já estava num estágio muito avançado, acharam até que eu estava com leucemia por ela ter se desenvolvido tão rápido.

Foi a primeira vez que eu vi meu tio preocupado comigo. Bom, a história entre meu ti e eu é longa, ele me levou pra morar com ele assim que meu pai foi dado como morto quando eu tinha 10 anos, mas o desgraçado me colocou num internato, bem longe do Rodrigo que era o único primo que eu tinha.

Só ia pra casa quando dava as férias, e lá dentro eu não tinha ninguém, família nem amigos. Fiquei depressiva e não comia nada, não se exercitava não tinha ânimo pra nada. A gente já estava a um ano na Florida quando descobriram o meu estado, quer dizer, os professores descobriram o meu estado.

Depois de ficar melhor, dois anos depois, meu tio por consideração que ainda morava aqui no Brasil me trouxe de volta. O Roberto deu a desculpa que seria melhor pra mim ficar aqui, era onde meu pai gostaria que eu ficasse. O clínico e o hematologista que me trataram lá vieram comigo, pra você ter ideia da loucura que deu no meu tio.

E desde então são eles que cuidam de mim, principalmente se o problema envolver sangue. Então deve ser isso que eles acham que é, se ela voltar eu to ferrada, tem tanta coisa pra se fazer na empresa, não posso me ausentar. Pelo menos trabalhar pelo computador é o que eu mais faço, assim fica mais fácil não perder o emprego que luto todos os dias.

O Dono do Morro (Livro 1 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora