Como ladrão, sem avisar, a morte chega. Sempre naquela hora em que menos esperamos. Morrer é algo que nem quem vai, nem quem fica estão preparados para compreender. Uma hora estamos entre todos, outra hora estamos distantes para sempre de todos. Não há rico, pobre, inteligente, famoso, trabalhador, mendigo, ninguém escapa desse encontro. Mais cedo ou mais tarde ela virá nos encontrar. Todos nós, alguns vivendo muito ou pouco, de causas naturais, sem culpa ou intencionalmente, mas ela nos encontrará um dia.
PV : Paulo
É difícil acreditar. Tudo foi tão rápido. De órfão a traficante; de traficante a dono de um império; de solitário e cheio de inimigos a apaixonado e possesso; de apenas uma noite de sexo e prazer a um pai completamente domado. E agora tudo desaba. Ver sangue sobre a Manuella já me deixa maluco, mas ver aquele sangue sair dela é como se abrissem um buraco no meu peito e arrancasse tudo de mim por ele.
Não tinha o que fazer a não ser correr, correr pra perto de um pronto socorro mais próximo mesmo sendo público. Pra um milagre. Eu já tinha tanto, coisas que eu nem sonhava em ter, coisas que mudaram... e agora podia perder tudo.
O Caveira parecia transtornado enquanto dirigia aquela porcaria de carro em alta velocidade. Se eu, que podia perder uma filha que nem conhecia, estava enlouquecendo. Imagine ele que tava perdendo um filho e vendo o sofrimento de outro.
Quando chegamos no pronto socorro o Caveira saiu gritando pedindo ajuda. E eu segurava o desespero pra se fazer forte pra uma Manuella que chorava baixo grudada em meu peito.Eu não tinha como ajuda-la a não ser fazer de mim um escudo contra o resto do mundo, fazer de mim um pilar pra sustentar toda a sua dor mesmo que eu não conseguisse aguentar a minha.
Ela foi arrancada dos meus braços as pressas. Não acho que tenha sido o risco de aborto, mas sim a quantidade de sangue pela roupa do Caveira que fez as pessoas correrem até ela. Muitos vieram até nós tentando saber se estávamos bem. Se estávamos feridos, querendo que fizéssemos algumas coisas pra ter certeza. Mas o nosso foco sempre era nela, a minha vida era elas.
Quando ela foi levada pra uma sala que não nos deixaram entrar, estranhei. Vi uma médica entrar e longos minutos depois ela sair. Ela foi direto numa enfermeira, conversava baixo como se questionasse algo. Logo depois a mesma enfermeira entra as pressas na sala enquanto a outra sai pelo corredor. Não demora muito pra enfermeira sair e a medica entrar com um garoto mais novo levando uma máquina estranha, parecia antiga.
A enfermeira que saiu do quarto que a Manuella foi trancada, estava meio nervosa tentando não me olhar e esconder as mãos, que tremiam, nos bolsos. Aquilo não tava certo, eu era o parente mais próximo, como ela podia me ignorar assim? O Caveira estava distante possivelmente tentando falar com os seus sobre Conan, mas eu tava ali beirando a loucura!
Volto a prestar atenção na enfermeira já sentada nas cadeiras da recepção como se tentasse manter a calma, pega o telefone e começa a falar baixo com a mão escondendo o fone e vira de costa pra mim. A merda ia feder. Vou apressando até o fim do hospital, ando o corredor inteiro até encontrar o Caveira vidrado no celular.
—Rala daqui agora! — O pego pelo braço fazendo com que ele me siga para mais fundo no corredor, ele tenta me fazer parar.
—Qual foi, já deixaram a gente entrar? — Ele tenta passar por mim. O pego pela camiseta e arrasto ele novamente, eu deveria deixar ele ali, qual era o meu problema?
—Liga pra um vapor com ficha limpa. —Consigo colocar ele pra fora, arranco a chave do meu bolso.— Ou vai no meu carro e depois solta em algum lugar. Tu precisa sair daqui!
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O Dono do Morro (Livro 1 - Versão Original)
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