PV: Manuella
Quando dou por mim sinto que não consigo respirar e quando tento meu peito queima. Alguém passa algo molhado sobre meu rosto e resmunga. Abro os olhos e vejo o PL cheio de fuligem
—Vamos amor, acorda. Vamos. — Uma tosse me invade, e me contorço em seus braços até passar. PL me nina sentando no chão agarrado a mim, ele ta nervoso, inquieto e tem marcas de lágrimas pelo seu rosto.
Ao meu redor há um silêncio enlouquecedor, sinto-me quente. Minha garganta parece que tem algo me impedindo de respirar. Tusso mais uma vez e sinto a dor em meu pulmão. Parece que me sufocaram enquanto dormia. Não consigo pensar direito, vejo tudo como uma terceira pessoa, sem entender nada do que ta acontecendo. Tudo doí, não tenho controle sobre meu próprio corpo.
PL me aperta cada vez mais, e tenta me consolar com palavras que não entendo. Ficamos assim por um tempo. Quando percebo onde estou, a correria da minha saída da Rocinha surge em minha mente. Lembro-me de entrar no Alemão, da minha menina dormindo e depois... Nada. Noto que o calor do meu corpo vem de um crepitar fraco as minhas costas. Olho pra direção da casa onde dormi e ela queima. QUEIMA!
—Meu Deus, o que aconteceu?
—Eu não sei. — PL me olha desolado
—A Valentina! — Tento sair de seu aperto ele me segura.
—Preciso que fique calma!
—Cadê a Valentina, PL?
—Eu não sei. — Ele faz cara de dor ainda me abraçando
—Como não sabe? — Tento me levantar. — Você deixou minha filha lá?!
—Não! Eu procurei, juro que procurei. Ela não tá lá. — Diz entre soluços. O aperto contra mim.
—Como não tava lá? Coloquei ela do meu lado, coloquei ela entre mim e a maldita parede, ela tava lá!
—Ela não tava lá, amor. —Ele me olha. —Procurei ela enquanto te cuidavam, ela não tá lá. — Me desvencilho dele. — Manuella!
—Porque não apagaram isso?
—Bombeiro não entra
—Como não entra. Não vou deixar minha filha virar cinzas só por conta do medo. —Acabei entre as pessoas procurando alguma fonte de água, acho os homens do PL entre a multidão e começo a dar ordens
—Se nenhum de vocês forem ajudar a apagar essa porcaria, ralem daqui. - Grito - Terão trinta segundos se não quiserem levar bala no rabo. —Muitos saem e outros começam a trazer baldes e ligações de torneiras de suas casas. Todas são direcionados ao fogo.
♛♛♛
Quando todo o fogo é apagado adentro a casa sem me preocupar com a fumaça, que ainda sai, ou o calor daquele lugar. PL vem atrás com uma porcaria de cobertor térmico e me enrola nele. Vejo muitos com a mesma coisa.
Viramos a madrugada procurando os restos da Valentina. "Restos" não sabe o quanto isso me machuca. Apenas os corpos de três homens foram encontrados, mas todos tinha buraco de bala em algum lugar. Não sei se fico feliz ou se me desespero. Nenhum resto de criança foi encontrado, a levaram ou ela evaporou junto com a fumaça.
—Levaram ela. — Ando até o Paulo — Eram quatro que faziam minha guarda, cadê o outro?
—Ele só conseguiu te tirar de lá. Desmaiou quando te largou em meus braços.— Ele passa as mãos no cabelo
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O Dono do Morro (Livro 1 - Versão Original)
Aktuelle LiteraturSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...