capítulo 1

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A chuva escorria sobre as paredes de pedra do castelo Uckerman como uma música incessante. O vento varria as muralhas e nuvens pesadas escondiam a lua cheia.

Dentro do salão, sir Christopher de Uckerman andava de um lado para o outro, impaciente, ignorando a todos, inclusive sir Tomáz Goycoleia, que, encostado à mesa, os braços cruzados, parecia perdido nos próprios pensamentos. Entretanto um olhar atento e ocasional na direção de sir Christopher traía a ansiedade crescente.

Um fogo enorme ardia na lareira e a maioria dos convidados para o casamento permanecia amontoada ali perto, para aproveitar o calor das chamas, enquanto aguardava o banquete de boas-vindas a ser servido em honra da noiva de sir Christopher. As cores dos nobres visitantes estavam expostas em pavilhões dependurados das paredes altas, velas ardiam iluminando as toalhas de linho e os arranjos de flores. E, para perfumar ainda mais o ambiente, ervas aromáticas espalhadas sobre o chão.

Pascual, o administrador do castelo, um saxão que passara a vida inteira a serviço dos Uckerman, estava a ponto de ter um ataque de nervos, indo e vindo da cozinha, vistoriando as mesas e a porta centenas de vezes. As criadas, aguardando o momento de começar a servir os convidados, conversavam entre si nos corredores que ligavam a cozinha ao salão principal. Pascual fez sinal para que se calassem, antes de espiar a chuva e a noite escura pela janela, quase arrancando os últimos fios de cabelos brancos. A pergunta em seus olhos e as palavras caladas eram óbvias aos presentes: o que estaria fazendo demorar a noiva?

Sir Christopher, o rosto habitualmente impenetrável agora cheio de irritação, parou de repente.

—Já esperamos o bastante — anunciou. — Sentem-se.
Os convidados olharam uns para os outros, sem saber como agir. Afinal aquela mudança súbita de atitude poderia pôr em risco a aliança entre os Uckerman e os Sanviñon. Entretanto já estavam aguardando há um bom tempo e sentiam-se famintos; assim tomaram os respectivos lugares. Somente a figura frágil e idosa do sacerdote permaneceu imóvel, cochilando sobre um banco, as costas apoiadas na parede.

— Padre Reverte, dê-nos sua bênção — sir Christopher pediu, caminhando até a cabeceira da mesa principal colocada sobre um patamar. Quando o velho nada respondeu, sir Christopher berrou-lhe o nome outra vez.

— Sua bênção, padre — Pascual apressou-se a dizer, cutucando o velhote respeitosamente. — Está na hora da bênção.

— O que foi? Ela chegou afinal? — padre Reverte indagou, vasculhando o salão com seus olhos míopes.

— Onde? Não estou vendo ninguém.

— Ela não está aqui, porém não vamos esperar mais — sir Christopher anunciou em alto e bom som.

— Ah, meu filho, talvez devêssemos... 

— Não!

O silêncio absoluto que se seguiu foi cortado apenas pela bênção rápida do velho sacerdote.

Dando seu dever por findo, padre Reverte apressou-se a tomar o lugar que lhe era reservado à mesa, movendo-se com insuspeitada agilidade.

— Sente-se aqui, Tomáz. — Christopher fez sinal para que seu grande amigo tomasse o lugar antes destinado à noiva.

Sir Tomáz obedeceu, sem no entanto disfarçar a relutância.

Finalmente, quando os servos começaram a servir o primeiro prato, Pascual conseguiu relaxar. Aquilo que era de sua responsabilidade sairia perfeito, como sempre.

— Seus convidados podem estar atrasados por causa da tempestade, Christopher, e...

— Se fosse o caso, deveriam ter mandado um mensageiro avisar-nos da demora. Não há justificativa para o que aconteceu, Tomáz.

— Entendo sua impaciência. Eu também não me sentiria nada satisfeito se minha noiva se atrasasse. Contudo vamos torcer para que tenham se abrigado numa estalagem até que a tempestade passe.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora