O ruído da porta se abrindo o fez virar-se, os olhos escuros carregados de ódio. Resolveria a questão com a mulher naquele exato instante.
— Eu... ah... vim ver se lady Dulce poderia me dizer qual o melhor local de onde assistir ao jogo — Lady Belinda falou, fechando a porta atrás de si.
— Das muralhas, sobre o portão principal. Pascual se encarregará de levar as cadeiras e refrescos, para espantar o calor.
Sim, ele era sir Christopher de Uckerman e a maioria das mulheres queria estar em seus braços. Aquela a sua frente, não era exceção.
— Espero que você torça por mim — ele observou num tom neutro.
Belinda baixou o olhar e sorriu, fingindo-se de acanhada.
— Você é um homem casado.
— E você, uma mulher muito bonita.
— Sir Christopher, isso não é direito. — Apesar das palavras de protesto, ditas sem nenhuma convicção, Belinda aproximou-se ainda mais e acariciou-o no braço, parecendo muito à vontade.
— Tem razão — Christopher falou, subitamente enojado com a mulher diante de si e consigo mesmo também, por deixar que aquela cena vulgar ocorresse. — Por favor, desculpe-me. É melhor você se retirar agora.
— Sim, é o que vou fazer. — Belinda não conseguia disfarçar a raiva por haver sido rejeitada e sua vaidade exacerbada não concebia a possibilidade de um homem mostrar-se imune aos seus encantos. — Eu odiaria se o barão soubesse de suas tentativas de me seduzir.
— Por acaso isso é uma ameaça, minha lady? — Além de ser mentira, Christopher não estava nem um pouco preocupado com a possível reação do barão.
Nada mais lhe importava, a não ser a dor causada pela infidelidade de Dulce.
— Talvez eu não fale nada, se você fizer o que eu quero. — Belinda tornou a sorrir e aumentou a pressão dos dedos sobre o braço musculoso.
Ele sentia-se cansado desse tipo de jogo. Cansado de tudo.
— Tenho que ir agora.
Com uma expressão sombria no rosto, Christopher saiu do quarto e caminhou até o pátio interno, onde Tomáz o aguardava. Logo começaria o jogo que tantos ferimentos sérios já causara no passado.
Confortavelmente sentada numa das cadeiras trazidas por Pascual, Dulce assistia ao desenrolar da cena lá embaixo. Se Christopher e seus homens tivessem sucesso, a bola precisaria ser levada através dos campos, da floresta e do riacho, até a igrejinha de St. Ninian, em Barstead.
Sobre a mesinha, ao seu lado, uma bandeja com frutas e um cálice de vinho. O dia estava límpido ameno, banhado por uma brisa refrescante. Se tudo em sua vida estivesse bem, seria capaz de desfruta aquele momento com enorme prazer. Mas não conseguia relaxar e esquecer o tormento interior.
Seus olhos procuravam a figura do marido com insistência. No comando de seus homens, ele exalava força e competência, como se estivesse pronto para enfrentar uma batalha, não um jogo qualquer.
— Lady Dulce, aqui está você! — Belinda exclamou, sentando-se ao lado da anfitriã. — Estive procurando-a por toda parte. E a Alfonso também. Mas não consigo encontrá-lo.
— Ele deve estar em algum lugar. Ocupado. — Embora pudesse imaginasse o paradeiro do irmão, Dulce achou melhor nada dizer.
— Quase não o tenho visto nos últimos dias. Por que será...
— Olhe, lá está Téo, o líder dos nossos aldeões. — Dulce apontou para o campo, forçando uma mudança de assunto.
— Quantos homens representam a vila de Barstead?
— Segundo Pascual, sir George, lorde de Barstead, sempre dá permissão para que todos os aldeões participem. E todos os soldados também. A proporção é de dois contra um dos nossos.
— Virgem Santa! — Belinda gritou. — Não é de se estranhar que lorde Saviñon tenha se negado a tomar parte. Um jogo assim não combina com a natureza gentil de seu irmão. Alguns desses homens têm uma aparência horrível.
— Oh, não precisa preocupar-se — Anahí interveio, aparecendo com uma bandeja de pãezinhos recém-saí-dos do forno. — Os homens de sir Christopher são bem treinados. Em geral, ninguém sai ferido, à exceção de um ou dois ossos quebrados.
— Tenho certeza de que os homens de sir Christopher são bem treinados para lutar, porém este é um esporte de camponeses — Belinda retrucou, deixando claro que não apreciava a intromissão da serva.
— Eles praticam este esporte, e outros também, o tempo inteiro — Anahí comentou. — Sir Christopher diz que é para mantê-los em forma.
— Pode se retirar agora — Belinda falou num tom seco e desdenhoso.
Sendo uma mulher tão inteligente quanto autoconfiante, Anahí não se deixou abalar e retirou-se de cabeça erguida.— É mesmo verdade o que a criada disse?
— Oh, sim. Meu marido tem muitas idéias interessantes sobre treinamento. A propósito, lady Belinda, tem uma coisa sobre a qual eu preciso lhe falar.
— Você está me parecendo tão séria!
— O assunto é sério. O fato é que Alfonso não pretende casar-se com você.
Lady Belinda piscou uma vez, duas vezes, três vezes, antes de abrir a boca e tornar a fechá-la.— Por acaso você está dizendo que ele me recusou?
— Pelo que pude entender, nada de definitivo havia sido arranjado pelo barão. Pensei que você, simplesmente, tivesse vindo conhecer Alfonso antes de ambos decidirem se o noivado seria, ou não, conveniente.
— O barão espera que esse casamento seja realizado — Belinda devolveu, seca. — Ele mesmo me disse.
— O barão não é o noivo em potencial. Mas, apesar da decisão de Alfonso, você continua bem-vinda. Fique conosco quanto tempo quiser. — Seria duro suportar a visita daquela mulher por mais tempo, mas Alfonso merecia o sacrifício.
— Ele não me quer?
— Aparentemente não. Porém eu não tomaria isto como uma afronta pessoal e...
— Pois eu considero um insulto que uma criatura enfeitadinha como o seu irmão tenha o desplante de recusar minha mão em casamento, — Belinda bufava como a mais rude das camponesas. — Entretanto, eu deveria me considerar uma mulher de sorte. Não quero mesmo casar-me com ele, estava apenas sendo educada. Não, não tenho a menor vontade de me misturar à sua família, seja com o idiota do seu irmão ou com seu marido conquistador. — Ela estreitou os olhos e fitou Dulce, cheia de ressentimento. — Oh, sim, minha lady. Se eu fosse você, se me importasse com a honra familiar, vigiaria sir Christopher de Uckerman com muito cuidado. Hoje mesmo ele tentou me seduzir.
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Esposa Rebelde - Vondy
RomanceA paixão incendiou aquele casamento de conveniência! Inglaterra Idade Média Arrogante o orgulhoso, sir Christopher de Uckerman exigia de sua esposa obediência absoluta. Mas a rebelde lady Dulce Sanviñon desafiou a autoridade de Christopher desde a...