capítulo 2

2.3K 128 4
                                    

— Seria a única coisa sensata a fazer — Christopher respondeu, servindo-se do frango que a criada de formas generosas e lábios contraídos, por estar sendo ignorada, colocava à sua frente.

— Mas infelizmente Sanviñon não é um homem sensato. O grupo pode estar agora em qualquer lugar entre a minha propriedade e o ponto original de partida.

— Pelo menos o coitado teve o bom senso de escolher um ótimo marido para a meia-irmã.

— Guarde seus agrados para outra pessoa, Tomáz. Se eu não tivesse concordado com esse casamento, Sanviñon poderia ter criado um problema sem fim devido ao rompimento do noivado dele com minha irmã.

— Então por que você não insistiu para que Maytê se casasse com Alfonso Sanviñon? Estava em suas mãos impedir que ela se unisse àquele galês. Afinal o homem tentou fazer-se passar por Sanviñon. Devo confessar que achei que você fosse matá-lo ali mesmo, nos degraus da capela. E quando o vi oferecer-se para sagrá-lo cavaleiro, por Deus, quase caí morto de susto. Ainda bem que o galês recusou. Pense no que o barão Léon teria dito!

— Se o galês jurasse lealdade a mim, o barão ficaria tranqüilo. Além do mais, preferi que os convidados aproveitassem a festa, depois da pequena fortuna que gastei. Até o momento em que fiz o oferecimento, os coitados pareciam estátuas, imóveis, silenciosos, sem saber qual atitude tomar. Mas agora isso não tem mais importância. — Christopher limpou o molho do prato com um pedaço de pão. — Pela primeira e última vez na minha vida, agi como um tolo sentimental.

— Até parece que você tem coração — Tomáz murmurou entre os dentes, atacando uma asa de frango.

— O que você disse?

— Disse que entendo sua posição. De qualquer forma, o barão Léon ficará satisfeito que essa aliança acabe se consumando.
Um soldado apareceu à entrada do salão e, como Christopher não percebera nada de anormal, nem o sinal de alarme fora dado, concluiu que não devia ser nada de grande importância. Foi Pascual quem se encarregou de resolver o assunto indo ao encontro do soldado.

Por um instante Christopher sentiu pena do administrador. Pascual já não era jovem e, entre a ansiedade quanto aos preparativos do casamento de seu senhor, para os quais se empenhara como se estivesse cuidando das bodas do próprio rei, e aquele atraso imprevisto, o coitado parecia ter envelhecido consideravelmente.

Assim a raiva de Christopher aumentou ainda mais. Era um insulto à sua pessoa, e ao seu administrador também, que Sanviñon não houvesse chegado à hora prevista.
De repente, Pascual correu para a mesa principal, tão rápido quanto suas pernas gorduchas permitiam.

— Meu lorde! — ele murmurou, aflito, dando a impressão de que o teto estava a ponto de desabar sobre sua cabeça. — Eles estão aqui! No pátio interno! Lorde Sanviñon, a meia-irmã e a comitiva!

Tomáz lançou um olhar de censura na direção do amigo. Lorde de Uckerman nem sequer se moveu e muito menos demonstrou disposição de abandonar o salão.

— Mande alguns servos conduzi-los aos aposentos destinados aos hóspedes — Christopher falou, brusco. — Eles podem servir-se de vinho e frutas por lá mesmo.
Pascual retorcia as mãos e mordia os lábios, no auge do nervosismo.

— Perdoe minha impertinência, meu lorde, mas não deveria recebê-los pessoalmente? Ou então convidá-los para jantar aqui no salão? A jornada foi longa e...
— Chegaram tarde demais. Se tiverem fome e desejarem juntar-se a nós, que seja. Ou que façam como quiserem. Não pretendo interromper minha refeição por causa de retardatários que não tiveram a cortesia de me mandar avisar sobre um possível atraso.

Lançando um olhar desconsolado para Tomáz, Pascual afastou-se na direção do pátio, os ombros caídos, as mãos fechadas em punho. A situação, simplesmente, estava além da capacidade do velho de entender e aceitar.

— Diga-me o que pretende ganhar com essa falta de delicadeza — Tomáz indagou num tom baixo e seco.

— Por acaso está me acusando de ser descortês?

— Sim. As razões que causaram o atraso podem ser muitas. Se você tivesse esperado apenas um pouco mais... 

— Não me interessa ouvir as desculpas deles. 

— Mas a moça é sua noiva.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora