capítulo 30

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Determinada a ir até o fim, jogou o resto do vinho pela janela e limpou os cálices. Depois despiu o marido, cuidadosamente a princípio, porém, percebendo que não iria despertá-lo, deixou a cautela de lado.

Cedendo à curiosidade, Dulce contemplou o corpo atlético de Christopher. Como imaginara, ele era perfeito. Ombros largos, cintura estreita, pernas e braços musculosos. Quanto às outras partes do corpo viril, não tinha com o que comparar, mas o instinto dizia-lhe que Uckerman estava certo ao sentir-se orgulhoso. Tomando a adaga, fez um pequeno corte no dedo e deixou as gotas de sangue pingarem sobre o lençol de linho branco. Depois cobriu o marido, que continuava a dormir profundamente.

Embora odiasse ver um vestido tão bonito destruído, tudo valia a pena por uma boa causa. Assim tirou-o e rasgou o decote, não sem sentir uma pontada no coração. Fez o mesmo com a túnica de seda, atirando-a para o lado como um trapo. Por último, molhou os dedos num resto de vinho que ainda havia no jarro e esfregou-o nos braços com força, até que a pele ficasse com manchas azuladas, feito hematomas.

Dando os preparativos por terminados, sentou-se numa cadeira à espera de que Uckerman acordasse.

Christopher gemeu baixinho e rolou na cama. A cabeça doía como se tivesse sido pisoteado por um cavalo. Não, por vários cavalos. E todos enormes. O que acontecera? Vinho nunca o afetara daquela maneira antes. Devagar, passou a mão sobre os lençóis. Onde estava Dulce... sua mulher. Guardava uma lembrança vaga e agradável da noite anterior, quando a beijara. Sim, um beijo suave e delicado para deixá-la menos ansiosa. Esperara que a reação da esposa fosse fria e distante, típica de alguém que apenas cumpre um dever.
Em vez disso, para sua surpresa, Dulce mostrara-se vulnerável, doce, absolutamente virginal, mas não destituída de paixão. Sem que pudesse evitar, um desejo violento ameaçara sufocá-lo e precisara sentar-se na cama para manter o equilíbrio.

Porém, quando tornara a fitá-la, esperando encontrar a mesma expressão inocente nos olhos verdes, percebera um brilho calculista. Assim não tivera dúvidas de que o primeiro beijo fora uma fraude, uma representação.

Então lembrara-se da maneira como Dulce havia falado ao barão. Será que ela pretendia mandar no castelo? Controlar tudo, a começar pelo que se passava no quarto? Não, aquilo jamais iria acontecer.

Lembrava-se de tê-la beijado ainda mais uma vez, propositadamente sem muita delicadeza. E então... e então... tudo se apagara.

Christopher abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi o vestido e a túnica da mulher jogados num canto do quarto, como um monte de trapos.

Depois viu Dulce sentada numa cadeira, os cabelos cobrindo o rosto, os pés descalços, as unhas azuladas por causa do frio. Ela usava uma roupa clara, que nunca vira antes, simples, de mangas compridas.

 

— Dulce? — ele chamou num tom rouco, virando-se na cama e percebendo que estava nu.

Ela virou-se devagar, os olhos frios e distantes. Por Deus, devia estar louco quando imaginara a reação quase apaixonada ao seu beijo.

— Sim? — Era impossível não notar o tom de desafio.

— Que parte do dia é?

— Madrugada.

— Por que não está na cama?

— Porque você está aí, deitado.

Não havia ódio naquela voz, ou qualquer outra emoção, o que tornava a resposta ainda mais ferina. Ela parecia insinuar que somente uma idiota iria deitar-se ao seu lado e partilhar certas intimidades.

— É minha cama e agora sua também — Christopher retrucou, tentando não parecer irritado.

— Você me machucou.

Talvez sua esposa estivesse apenas incomodada pela perda da virgindade, o que era natural, considerando o desconforto da primeira vez.

— A dor não foi tão grande assim, foi? — ele perguntou gentil, certo de que, mesmo bêbado, sua experiência e habilidade teriam transformado a noite de núpcias num momento de intenso prazer.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora