capítulo 54

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Dulce concordou com um aceno, apesar de confusa. Fora tão difícil abordar o assunto com Tomáz... Teria coragem de falar de amor com o marido?

E se Christopher realmente precisava de amor, iria querer encontrá-lo nos braços da esposa?

Uckerman não ouvira as últimas palavras trocadas entre Dulce e Tomáz e saíra das sombras do jardim atormentado por uma angústia desesperadora.

O fato é que escutara o amigo e a mulher falarem dos riscos que o amor envolve e também vira quando um segurara a mão do outro. E pensar que estivera à procura de Tomáz para se aconselhar. Aquele traidor!

Oh, Deus, como Dulce pudera enganá-lo dessa maneira? E justamente com Tomáz, o amigo em quem confiava? Seu único amigo.

Christopher entrou no salão e encostou-se na parede, tentando recuperar a calma e pensar com clareza.

Talvez tivesse se enganado. Talvez tivesse interpretado mal a cena que presenciara a distância. Afinal, vira apenas seu melhor amigo e sua esposa sentados no banco do jardim, conversando. Se alimentassem segundas intenções, teriam, pelo menos, se dado ao trabalho de fechar o portão do jardim. O que não acontecera.

Decidido a descobrir a verdade, Christopher resolveu voltar ao jardim e surpreendê-los, porém não encontrou ninguém. Com certeza enganara-se e tirara conclusões precipitadas.

Oh, Deus, por favor, que tudo não passasse de um engano.

Sozinho no alto de uma das muralhas, Christopher contemplava a noite, perdido nos próprios pensamentos. Há dias vinha observando o relacionamento entre Tomáz e Dulce e não percebera qualquer atitude suspeita, ou o mais leve sinal de intimidade. Sua esposa tratava o cavaleiro do mesmo modo educado e reservado como tratava Pascual, Anahí ou qualquer um dos moradores do castelo. De repente, um ruído rompeu o silêncio da noite.

— Alfonso, o que o traz aqui? — ele indagou, procurando disfarçar a irritação provocada pela interrupção.

— Eu... ah, eu estava admirando a vista.

— Oh.

— Sim. — Alfonso aproximou-se um pouco mais e, para o espanto de Christopher, ele estava vestido quase com simplicidade. — Também achei que seria uma boa oportunidade de conversarmos.

— Sobre o quê?

— Lady Belinda e o barão.

— Belinda e o barão? Não estou entendendo o que um tem a ver com o outro.

— Oh, Deus, não! Não me expressei direito. Eu... eu queria que você falasse com o barão, em meu nome, sobre lady Belinda.

— Qual é o problema?

— Não quero me casar com ela. — Posso perguntar por quê?

— Vou me casar com Anahí.

— O quê? — Christopher perguntou, atônito.

— Vou me casar com Anahí — Alfonso repetiu com inesperada ousadia.

— Mas ela é uma camponesa!

— Conheço a condição social de Anahí. E não me importo.

— Não seja estúpido, homem!

— Não acho que seja estupidez casar-me com a mulher que amo. Estaria sendo estúpido se não o fizesse.

— Você vai acabar se arrependendo.

— Creio que não.

— O barão não vai nem querer ouvir falar — Christopher declarou, irritado.

— É por esse motivo que vim falar com você. Léon o respeita e lhe dará ouvidos, assim...

— Não vou interferir nesse assunto. Se você quer arruinar a própria vida, o problema é seu. Não me peça ajuda.

— Pois eu lhe digo que não estarei arruinando minha vida.

— Você está se iludindo. O amor é um sentimento que não existe.

— Entristece-me que o marido de Dulce diga uma coisa dessas.

Christopher deu as costas ao cunhado e afastou-se. Não queria escutar mais nenhuma palavra daquela conversa idiota. Alfonso era um tolo e ainda tivera a audácia de sentir pena dele! O casamento com Anahí era simplesmente ridículo! Inaceitável! Anahí podia ser uma boa mulher, mas não servia para tornar-se esposa de um nobre.

 

Tinha que dar um jeito de colocar um ponto final nessa história de casamento. Falaria com Dulce. Pelo menos quanto a isso, os dois iriam concordar.

— Que absurdo é esse sobre Alfonso e Anahí? — Christopher indagou, entrando no quarto da esposa.

— Não é nenhum absurdo — Dulce respondeu muito calma, continuando a escovar os cabelos. — Meu irmão está determinado a casar-se com ela.

Christopher aproximou-se e tirou a escova das mãos da mulher, colocando-a sobre a mesa com força.

Ela tornou a pegar a escova e recomeçou a escovar os cabelos, fitando-o fixamente.

— Alfonso diz que a ama.

— Uma idéia absolutamente ridícula! Dulce apenas deu de ombros, como se a observação do marido não merecesse resposta.

— Largue essa coisa e responda-me!

— Qual foi sua pergunta?

— O que você pretende fazer sobre Alfonso?

— Nada. Ele já se decidiu. Diz estar apaixonado.

— Ele vai se fazer de idiota.

— Quer dizer então, sir Christopher, que você não acredita no poder do amor? — ela indagou, colocando a escova sobre a mesa lentamente.

— Não, não acredito

— Pois Alfonso acredita e tem idade bastante para fazer o que quiser.

— E você? Qual é a sua opinião sobre essa bobagem chamada amor? — Christopher explodiu, amaldiçoando-se pela própria fraqueza. Não deveria se importar com a opinião da esposa a respeito de nada, exceto nos assuntos relacionados aos trabalhos domésticos. Fora uma tolice iniciar aquela discussão.

— Uma vez que minha experiência sentimental é limitada, tenho dúvidas da sua validade — ela respondeu muito calma. — Entretanto, muitas pessoas não apenas estão convencidas de que tal sentimento existe, como também afirmam terem sofrido a dor do amor na carne.

— São todos uns tolos.

— Você chamaria sir Tomáz Lancourt de tolo?

— Considerando-o sob esse aspecto, sim.

— Uma opinião implacável, meu lorde. — Dulce levantou-se e caminhou na direção do marido, o corpo esguio mal coberto por uma túnica branca.

A visão dos mamilos róseos, sob o tecido transparente, quase o fez perder a cabeça. Foi difícil vencer a tentação de tomá-la nos braços e beijá-la até sufocar a raiva e o ciúme que o consumiam.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora