Dulce concordou com um aceno, apesar de confusa. Fora tão difícil abordar o assunto com Tomáz... Teria coragem de falar de amor com o marido?E se Christopher realmente precisava de amor, iria querer encontrá-lo nos braços da esposa?
Uckerman não ouvira as últimas palavras trocadas entre Dulce e Tomáz e saíra das sombras do jardim atormentado por uma angústia desesperadora.
O fato é que escutara o amigo e a mulher falarem dos riscos que o amor envolve e também vira quando um segurara a mão do outro. E pensar que estivera à procura de Tomáz para se aconselhar. Aquele traidor!
Oh, Deus, como Dulce pudera enganá-lo dessa maneira? E justamente com Tomáz, o amigo em quem confiava? Seu único amigo.
Christopher entrou no salão e encostou-se na parede, tentando recuperar a calma e pensar com clareza.
Talvez tivesse se enganado. Talvez tivesse interpretado mal a cena que presenciara a distância. Afinal, vira apenas seu melhor amigo e sua esposa sentados no banco do jardim, conversando. Se alimentassem segundas intenções, teriam, pelo menos, se dado ao trabalho de fechar o portão do jardim. O que não acontecera.
Decidido a descobrir a verdade, Christopher resolveu voltar ao jardim e surpreendê-los, porém não encontrou ninguém. Com certeza enganara-se e tirara conclusões precipitadas.
Oh, Deus, por favor, que tudo não passasse de um engano.
Sozinho no alto de uma das muralhas, Christopher contemplava a noite, perdido nos próprios pensamentos. Há dias vinha observando o relacionamento entre Tomáz e Dulce e não percebera qualquer atitude suspeita, ou o mais leve sinal de intimidade. Sua esposa tratava o cavaleiro do mesmo modo educado e reservado como tratava Pascual, Anahí ou qualquer um dos moradores do castelo. De repente, um ruído rompeu o silêncio da noite.
— Alfonso, o que o traz aqui? — ele indagou, procurando disfarçar a irritação provocada pela interrupção.
— Eu... ah, eu estava admirando a vista.
— Oh.
— Sim. — Alfonso aproximou-se um pouco mais e, para o espanto de Christopher, ele estava vestido quase com simplicidade. — Também achei que seria uma boa oportunidade de conversarmos.
— Sobre o quê?
— Lady Belinda e o barão.
— Belinda e o barão? Não estou entendendo o que um tem a ver com o outro.
— Oh, Deus, não! Não me expressei direito. Eu... eu queria que você falasse com o barão, em meu nome, sobre lady Belinda.
— Qual é o problema?
— Não quero me casar com ela. — Posso perguntar por quê?
— Vou me casar com Anahí.
— O quê? — Christopher perguntou, atônito.
— Vou me casar com Anahí — Alfonso repetiu com inesperada ousadia.
— Mas ela é uma camponesa!
— Conheço a condição social de Anahí. E não me importo.
— Não seja estúpido, homem!
— Não acho que seja estupidez casar-me com a mulher que amo. Estaria sendo estúpido se não o fizesse.
— Você vai acabar se arrependendo.
— Creio que não.
— O barão não vai nem querer ouvir falar — Christopher declarou, irritado.
— É por esse motivo que vim falar com você. Léon o respeita e lhe dará ouvidos, assim...
— Não vou interferir nesse assunto. Se você quer arruinar a própria vida, o problema é seu. Não me peça ajuda.
— Pois eu lhe digo que não estarei arruinando minha vida.
— Você está se iludindo. O amor é um sentimento que não existe.
— Entristece-me que o marido de Dulce diga uma coisa dessas.
Christopher deu as costas ao cunhado e afastou-se. Não queria escutar mais nenhuma palavra daquela conversa idiota. Alfonso era um tolo e ainda tivera a audácia de sentir pena dele! O casamento com Anahí era simplesmente ridículo! Inaceitável! Anahí podia ser uma boa mulher, mas não servia para tornar-se esposa de um nobre.
Tinha que dar um jeito de colocar um ponto final nessa história de casamento. Falaria com Dulce. Pelo menos quanto a isso, os dois iriam concordar.
— Que absurdo é esse sobre Alfonso e Anahí? — Christopher indagou, entrando no quarto da esposa.
— Não é nenhum absurdo — Dulce respondeu muito calma, continuando a escovar os cabelos. — Meu irmão está determinado a casar-se com ela.
Christopher aproximou-se e tirou a escova das mãos da mulher, colocando-a sobre a mesa com força.
Ela tornou a pegar a escova e recomeçou a escovar os cabelos, fitando-o fixamente.
— Alfonso diz que a ama.
— Uma idéia absolutamente ridícula! Dulce apenas deu de ombros, como se a observação do marido não merecesse resposta.
— Largue essa coisa e responda-me!
— Qual foi sua pergunta?
— O que você pretende fazer sobre Alfonso?
— Nada. Ele já se decidiu. Diz estar apaixonado.
— Ele vai se fazer de idiota.
— Quer dizer então, sir Christopher, que você não acredita no poder do amor? — ela indagou, colocando a escova sobre a mesa lentamente.
— Não, não acredito
— Pois Alfonso acredita e tem idade bastante para fazer o que quiser.
— E você? Qual é a sua opinião sobre essa bobagem chamada amor? — Christopher explodiu, amaldiçoando-se pela própria fraqueza. Não deveria se importar com a opinião da esposa a respeito de nada, exceto nos assuntos relacionados aos trabalhos domésticos. Fora uma tolice iniciar aquela discussão.
— Uma vez que minha experiência sentimental é limitada, tenho dúvidas da sua validade — ela respondeu muito calma. — Entretanto, muitas pessoas não apenas estão convencidas de que tal sentimento existe, como também afirmam terem sofrido a dor do amor na carne.
— São todos uns tolos.
— Você chamaria sir Tomáz Lancourt de tolo?
— Considerando-o sob esse aspecto, sim.
— Uma opinião implacável, meu lorde. — Dulce levantou-se e caminhou na direção do marido, o corpo esguio mal coberto por uma túnica branca.
A visão dos mamilos róseos, sob o tecido transparente, quase o fez perder a cabeça. Foi difícil vencer a tentação de tomá-la nos braços e beijá-la até sufocar a raiva e o ciúme que o consumiam.
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Esposa Rebelde - Vondy
RomanceA paixão incendiou aquele casamento de conveniência! Inglaterra Idade Média Arrogante o orgulhoso, sir Christopher de Uckerman exigia de sua esposa obediência absoluta. Mas a rebelde lady Dulce Sanviñon desafiou a autoridade de Christopher desde a...