capítulo 42

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Quase duas semanas depois, após a missa e o desjejum, Dulce decidiu dar uma volta pelo pomar, As sentinelas podiam enxergá-la facilmente das torres, portanto não havia perigo em estar só.

Christopher ainda não regressara. Partira logo ao amanhecer, depois da discussão desastrosa que haviam tido, e levado Tomáz consigo. Ela não fizera qualquer comentário sobre a partida repentina do marido e, se alguém considerava o comportamento dos recém-casados estranho, guardava a opinião para si.

Quanto a Dulce, sentia-se satisfeita com a ausência de lorde de Uckermann. Uma preocupação a menos. Claro que pensava nele com frequência, mas apenas para agradecer a Deus o fato de estarem distantes um do outro, era do que tentava se convencer.

Durante a ausência de Christopher, descobrira que quase nada tinha para fazer. Desacostumada a ficar à toa, ocupara-se em supervisionar a criadagem, porém, agora que todos os convidados para o casamento já haviam ido embora, a rotina do castelo voltara ao normal.

Os servos tinham sido muitíssimo bem treinados e pouco necessitavam de supervisão. Pascual responsabilizava-se pela administração e mesmo lhe pedindo opinião sobre certos assuntos do dia-a-dia, estava claro que deixava as decisões mais importantes para serem tomadas quando sir Christopher regressasse.

Bem que tentara ajudar no preparo das refeições para escapar ao tédio, entretanto Pedro mostrara certa resistência. Afinal, ele era um excelente cozinheiro e não apreciava interferências constantes.

Depois procurara auxiliar padre Reverte e seu coroinha, um senhor quase tão idoso quanto o sacerdote, na distribuição de esmolas e mantimentos aos camponeses mais pobres da aldeia. Porém, fora obrigada a desistir porque os dois homens a ignoravam constantemente e não de propósito. Apenas esqueciam-se de que ela os acompanhava.

 

Também saíra para cavalgar com Alfonso algumas vezes, entretanto, logo perdera a paciência pois o irmão nem sequer trotava. Como sua égua, de tão velha, não aguentava galopes prolongados, Dulce acabara concluindo que ficar dentro das quatro paredes do castelo era menos frustrante.

E pensar que durante anos alimentara sonhos maravilhosos e fizera tantos planos para quando se casasse! Passara noites inteiras imaginando como dirigiria seu lar, como se faria cercar de pessoas interessantes e lideraria a sociedade local. Seria respeitada. Seria ouvida. Seria importante.

Em vez disso, descobria agora que quase todos a respeitavam, exceto o marido. Quase todos a ouviam, exceto o velho sacerdote e seu coroinha. Tampouco era importante. Não tinha dúvidas de que a rotina do castelo continuaria a mesma se desaparecesse do dia para a noite, numa nuvem de fumaça. Certamente o único comentário seria do tipo: "eu sabia que aquela mulher era estranha". E ponto final.

De repente, um casal do outro lado do pomar chamou-lhe a atenção. Parecia Anahí. Se a criada estivesse de conversinhas com o amante em vez de estar trabalhando...

Determinada a resolver a questão, Dulce caminhou ao encontro do casal. Somente quando estava bem próxima, percebeu um menininho brincando junto a um tronco de árvore caído.

— Anahí? Surpresa, a serva tomou a mão da criança entre as
suas, enquanto o homem, uma figura alta e sólida, permanecia imóvel.

— Minha lady!

Sorrindo para o menino louro e de olhos azuis, Dulce falou, cheia de ternura:

— Quem é que nós temos aqui? Um futuro pajem de meu lorde?

Anahí corou e passou um braço ao redor dos ombros da criança, num gesto claramente possessivo.

 

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora