capítulo 39

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— Ele costuma ir para a sala de armas quando está nervoso? — Dulce perguntou, interessada.

— Sim. Ou então resolve ir pescar ou caçar. Meu lorde sempre foi assim, mesmo quando menino. Muitas vezes o pai dele precisava arrancá-lo do lugar onde fora se esconder, depois de fazer algo errado. Quando triste, agia da mesma maneira, preferia ficar só.

Com um gesto delicado, Dulce convidou o administrador a sentar-se. Ele parecia estar com vontade de conversar e ela queria saber mais sobre o homem com quem se casara.

— Ele foi uma criança rebelde? Difícil?

— Difícil? Nem sempre. Também não poderia ser descrito como rebelde. Era sim arteiro. Não um mau menino, apenas impetuoso. E teimoso. Gostava de ter tudo ao seu modo. Como discutia com a irmã. Como gritavam um com o outro. Pelos céus, o barulho!

Dulce bem podia imaginar as duas crianças correndo pelo castelo, provocando-se sem parar.

— Mas meu lorde sempre amou Mayte. Suportou até quando ela tentou enganá-lo com aquele galês e deu permissão para que se casassem. Claro que o rapaz tinha um caráter nobre e era bem-educado, mesmo não passando de um camponês.

 

Já isso era um pouco mais difícil para Dulce imaginar. O orgulhoso e arrogante sir Christopher de Uckermann aceitando que a única irmã se casasse com um camponês? Talvez a coisa não fosse assim tão simples.

Gostaria de conhecer Mayte, sua cunhada. Ela devia ser uma mulher e tanto para tentar enganar Christopher. Mas talvez agira daquela maneira por não conhecer o irmão profundamente e apostara na sorte. Ou Mayte de Uckermann era muito corajosa, ou a personalidade de Christopher possuía uma faceta sensível, que ainda não conseguira descobrir.

— Porém meu lorde nunca foi um tipo dissimulado, malicioso. Temperamental sim, entretanto, quando a tempestade passava, não guardava ressentimentos. Que Deus me proteja das pessoas dissimuladas. E como ele fazia brincadeiras a respeito de tudo! Às vezes ele e a irmã quase me matavam de tanto rir.

— Sir Christopher quase não ri agora — Dulce comentou, pensativa.

— Não, meu lorde quase não ri. Desde que voltou da casa de lorde Franco, onde passou vários anos, nunca mais riu como antes.

— Quem é lorde Franco?

 

 

— O homem que se encarregou de educá-lo depois da morte dos pais. Lady Mayte foi levada para um convento. Um lugar sisudo imagino, mas muito menos rigoroso do que o castelo de lorde Franco, onde soldados são treinados e os rapazes, preparados para serem sagrados cavaleiros. Cuidei de tudo aqui até a volta de sir Christopher.

— E fez um trabalho excelente, posso lhe dizer. Os pensamentos de Dulce, porém, não estavam na boa administração realizada por Pascual e sim num menino impetuoso e que sabia rir. O que acontecera com aquele menino e suas risadas? Sufocadas por professores implacáveis e brutais, talvez? Ou destruídas pela morte prematura dos pais amorosos?

Entretanto rir fora a sua própria salvação, a única coisa que iluminavam seus dias longos e solitários. E ainda sabia rir, apesar de tudo.

Ela havia passado horas agradáveis na cozinha hoje, fazendo brincadeiras sobre a massa flácida, que não queria crescer. Vindas de uma noiva, suas palavras logo ganharam duplo sentido. Os servos bem que tentaram conter o riso, até que ela piscou um olho, maliciosa. Então todos explodiram em risadas incontroláveis. Logo depois, Christopher entrara na cozinha.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora