capítulo 62

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— Como ousa você? — ela gritou exasperada. Saber que o marido a considerava capaz de um comportamento vergonhoso a enfurecia. — Como ousa você me acusar de uma coisa dessas? Como ousa você acusar Tomáz? Seu amigo mais verdadeiro, mais leal? Se alguém tem do que se envergonhar aqui, é você, por alimentar esses pensamentos... e também por tentar seduzir lady Belinda! Justo você, com toda essa conversa de lealdade e honestidade! Seu canalha imundo!

— E o que aquela criatura fútil e vaidosa tem a ver com isso? Você nega gostar de Tomáz?

— Gostar dele? Não, não nego. Você nega haver tentado seduzir Belinda?

— Se algumas de minhas palavras deram essa impressão, foi sem querer, num momento de tolice.

—Tolice? É assim que você descreve o que acontece entre vocês dois?

— Mas não aconteceu nada! Eu não traí meus votos Diferentemente de você, respeito o juramento feito diante do sacerdote.

— Eu tampouco esqueci meus votos. — Dulce inspirou fundo, antes de continuar. — Gosto de Tomáz como se ele fosse um irmão mais velho. Gosto dele como amigo. Gosto dele porque... porque você também gosta. Como você pôde pensar...

— Vi vocês dois no jardim. Vi quando ele beijou sua mão.

 

— Você estava me espionando?

— Você é minha mulher. E os vi juntos, aos sussurros, como amantes.

— Se eu estivesse tendo um encontro secreto com meu amante, você não acha que teria me dado ao trabalho de fechar o portão?

— Ou talvez vocês tenham deixado o portão aberto justamente para não levantar as suspeitas de quem passasse por ali.

Percebendo a luta travada pelo marido para acreditar no que ela dizia, Dulce sentiu as esperanças renovarem-se. Também queria acreditar no que ele lhe dissera sobre Belinda.

— Ouça suas próprias palavras, Christopher. Suas suspeitas são ridículas.

— Então por que você e Tomáz estavam a sós?

— Porque eu queria conversar com ele a respeito de um assunto.

— E que assunto exigiria tal privacidade, minha lady? — Embora a voz de Christopher soasse dura, os olhos escuros brilhavam de emoção.

A hora havia chegado. Não iria deixar escapar o momento. Arriscaria ser humilhada porque já não suportava mais a incerteza, porque acreditava que o marido não a tivesse traído e, sobretudo, por causa do que vira estampado nos olhos dele.

— Eu queria perguntar a Tomáz como uma pessoa sabe quando está apaixonada. — A sorte fora lançada. Já não era possível voltar atrás. — Sei que você não acredita no amor, Christopher. Eu também pensava assim. Afinal, que evidências tive do contrário? Casei-me com você firmemente convencida de que seria o bastante se pudesse tolerá-lo. O mais importante era que eu seria lady Dulce de Uckerman. Seria respeitada. Teria algum valor. E então... — Pela primeira vez, Dulce sentiu a determinação lhe faltar. Entretanto, olhando para o marido, percebeu um raio de esperança iluminando o rosto viril. — E então, descobri que havia me casado com o único homem, em todo o mundo, capaz de me inspirar aquele sentimento extraordinário. Um homem que me respeitava por mim mesma, não porque eu fosse lady Dulce de Uckerman. Um homem que não me tratava como uma criança, ou como um objeto. Um homem que me ensinou o que era a paixão. Porém, eu não tinha certeza se aquilo que eu sentia era amor. Assim, pedi ajuda a Tomáz.

— Você... você não estava planejando me deixar?

— Não, Christopher, eu não estava planejando deixá-lo.

— Oh, Deus! — ele gemeu, angustiado, cobrindo o rosto com as mãos. — Perdoe-me, Dulce. Eu... eu tinha medo... Todas as pessoas de quem eu gostei foram arrancadas de mim. E, desta vez, sabia que só podia culpar a mim mesmo... Eu... eu a fiz afastar-se de mim. Tentei acreditar que não precisava de você, ou do seu amor. Mas estava errado. Tão errado!

 

Dulce passou os braços ao redor do marido, exultante com a revelação, emocionada ao vê-lo vulnerável.

— Eu também tinha medo. Medo de que não fosse a esposa que você queria. Medo de que você me odiasse.

Ele segurou-a pelos ombros, obrigando-a a fitá-lo.

— Nunca a odiei. Mesmo quando estava convencido de que você havia me traído, não fui capaz de odiá-la. Senti apenas uma enorme tristeza.

— Você ia nos deixar partir. Embora pudesse nos punir, resolveu nos deixar partir.

— Eu não poderia suportar a idéia de puni-la pelos meus erros.

— Por que você me amava? — ela indagou, um sorriso glorioso enfeitando as feições delicadas.

— Porque eu a amava.

— Christopher, Christopher, eu te amo também. Com todo o meu coração.

— Dulce, meu amor! — Ele beijou-a nos olhos, na testa, na boca. — Meu grande amor.

Chorando de emoção, ela agarrou-se ao peito largo, sentindo que, finalmente, um peso horrível havia sido tirado de seus ombros.

— Eu queria lhe perguntar uma coisa — Christopher falou depois de algum minuto— Porque que você escreveu para sir John Delupont? Nem sequer o conheço.

— Tampouco eu. Eslava tentando descobrir o paradeiro de Pilar.

— A Pilar de Tomáz.?

— Essa mesmo. Christopher atirou a cabeça para trás e riu com prazer,
o som cristalino ecoando pelas paredes de pedra. Dulce o acompanhou, a alegria partilhada uma confirmação da felicidade.

— Oh, pelo sangue de Cristo, Dulce! Tenho agido feito um tolo. Um tolo cego, arrogante e estúpido! Quase enlouqueci de ciúmes, quando o tempo todo você queria apenas reunir Tomáz e Pilar! Teve alguma sorte até agora?

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora