capítulo 18

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Sem que pudesse evitar, ela analisou o perfil másculo e belo. Os olhos escuros. O nariz reto. Os lábio carnudos. A linha forte do queixo.

De repente Uckerman virou-se e fitou-a, fazendo-a enrubescer.

— Determinei que haja sempre alguém à sua disposição quando desejar cavalgar — ele falou num tom baixo e profundo.

— Não será necessário. — Dulce desviou o olhar, coração batendo disparado no peito.

— Temo que deva insistir.

— Agradeço-lhe a gentileza, sir Christopher, mas creio que estarei muito ocupada para me dar o prazer de cavalgar nesses próximos dias.

— Entendo.

Estaria ele desapontado? Sentir-se capaz de despertar algum tipo de sentimento naquele homem impassível era algo perturbador.

— Acho que vou estar bastante ocupada me familiarizando com os novos deveres e responsabilidades— explicou.

— Existem outros pedidos que você gostaria de fazer?

— Nenhum, sir Christopher.

Dulce sorriu de leve e Uckerman tentou retribuir, embora desse a impressão de não saber bem como fazê-lo.

Pela primeira vez, desde a sua chegada, ela notou que Christopher não a fitava como se fosse um objeto pelo qual pagara um preço alto, nem como uma criatura que o enfurecia. Dulce imaginava... esperava... que ele a estivesse olhando do mesmo modo como olharia para uma mulher pela qual se sentisse atraído.

A idéia a excitava, envolvendo-a num calor inexplicável. Ansiava dizer como uma reação favorável dele a agradava, mas não tinha coragem diante de todos os presentes.
Então o tocou-o de leve nos dedos. Imediatamente Uckerman retirou a mão e levou o cálice aos lábios.

Aquela atitude revelava mais censura e rejeição do que mil palavras. Ele reagira como se houvesse sido tocado por uma leprosa.

Vermelha de vergonha, Dulce voltou a atenção para a comida, para Alfonso e sir Tomáz, para qualquer outra coisa que não fosse sir Christopher.

Depois que os servos tiraram a mesa, alguns músicos, liderados pelo menestrel, tomaram o centro do salão. Uckerman não lhe parecia o tipo de homem capaz de buscar refúgio e conforto na música e, de fato, quando os primeiros acordes soaram ele não conseguiu disfarçar o tédio. Embora também não estivesse muito inclinada àquele tipo de entretenimento, Dulce esforçou-se para prestar atenção.

O menestrel era um jovem extremamente magro com o rosto cheio de cicatrizes deixadas pela varíola, de cabelos louros e ralos. Todos os outros menestréis que Dulce conhecera haviam sido tão vaidosos quanta Alfonso, portanto só podia concluir que aquele devi ter uma voz maravilhosa para compensar a falta da beleza física.
Logo descobriu estar certa na sua suposição. A voz rica e profunda infundia emoção em cada palavra, porém a balada não podia ser mais melosa. Os versos contavam a história de um cavaleiro angustiado tentando conquistar o coração de sua amada. O problema era que o tal cavaleiro agia como um tolo, insistindo quando suas atenções não eram bem-vindas, e a lady parecia uma criatura fútil e sem honra, por finalmente dar ouvidos aos galanteios e cometer adultério, a aquilo era amor, poderia passar sem vivenciá-lo.

— Meu lorde! — Pascual sussurrou, aproximando-se de Uckerman. — O barão Léon acabou de chegar

Sir Christopher levantou-se no mesmo instante, pondo fim à cantoria.

— Os aposentos dele estão preparados? — indagou com uma certa ansiedade, indo ao encontro do recém chegado.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora