capítulo 10

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Quem foi que lhe fez isso?

— Um homem que queria me obrigar a obedecê-lo — ela respondeu, virando-se para fitá-lo. — O rosto polido não tinha qualquer expressão. Porém os olhos, desafiantes, cheios de força interior, pareciam ter o poder de impressioná-lo. Quase não acreditava que Aqueles olhos pertenciam a uma simples mulher. — Boa noite, sir Christopher.

Atônito com o que vira e sem saber bem o que dizer, Uckerman saiu do quarto batendo a porta atrás de si.

Dulce estremeceu e inspirou fundo, sentindo a tensão começar a abandoná-la. Largando o vestido sobre a única cadeira, ela esfregou os braços para ativar a circulação. Trêmula, atiçou o fogo da lareira enquanto lutava contra as lembranças do passado, especialmente aqueles anos horríveis após a morte de sua mãe adorada.

Depois de despir a túnica, enrolou-se na colcha da cama e aproximou-se da janela estreita. Nuvens escuras escondiam a lua, envolvendo os arredores na mais completa escuridão.

O castelo não era absolutamente o que esperara, considerando o fervor e a admiração com que Alfonso falava de sir Christopher. Seu meio-irmão não se cansava de repetir que Uckerman era um dos cavaleiros favoritos do poderoso barão Léon e também descendente de uma das linhagens mais antigas do reino. Portanto, era natural que esperasse algo mais impressionante do que aquela construção de linhas simples e cujas dimensões do pátio interno, por exemplo, podiam ser consideradas acanhadas para os padrões a que estava acostumada.
Olhando a lua aparecer por trás de uma nuvem, Dulce deu-se conta de que, se havia alguma coisa verdadeiramente marcante no castelo Uckermann, era o seu senhor e dono, não o lugar em si.

Sir Christopher de Uckermann tampouco correspondia ao que imaginara. Claro que se mostrava arrogante e vaidoso como qualquer outro homem, só que, no seu caso, tamanha autoconfiança podia ser justificada. E o fato de esperar obediência irrestrita também não a surpreendia.

Na verdade, passara a vida inteira sendo cobrada, o que não significava que pretendesse ceder às exigências do marido. Tempo demais estivera à mercê dos outros. Aprendera a suportar tudo em silêncio e a rezar pelo dia em que seria livre.

Mas que liberdade poderia existir para uma mulher solteira? Nenhuma, não tardara a descobrir depois da morte do pai. Além de nenhum respeito. Ela era considerada apenas uma mercadoria a ser dada em casamento, com o mínimo de transtorno, ou a ser mandada para a reclusão de um convento.

Assim o casamento lhe soara como o menor entre os dois males. Como a esposa de um nobre, acabaria partilhando um pouco do respeito devido ao marido.

Parecia-lhe óbvio que sir Christopher exigia, e inspirava, enorme respeito, portanto parte de seu objetivo estaria sendo alcançado. Contudo, só o tempo diria se um dia viria a respeitá-lo. O que no momento julgava improvável.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora