capítulo 5

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Portanto Dulce devolveu o olhar. Seu noivo tinha um corpo extremamente bem-feito, com braços musculosos, peito largo e cintura estreita. Ele vestia uma túnica verde-escura, sem nenhum tipo de enfeite. Também não havia sinal de jóias. De fato tratava-se de um homem que não precisava de adornos extras para chamar a atenção.

Incomodada com o próprio pensamento, Dulce voltou o olhar para o rosto bonito. Para sua surpresa, sir Christopher não usava os cabelos à moda dos normandos, cortados ao redor da cabeça como se fosse uma cuia, assim como Alfonso. Em vez disso, os cabelos dele eram longos como os dos celtas, povo arisco e selvagem. A verdade era que Uckerman parecia ter mais em comum com aqueles guerreiros ousados do que seu próprio irmão, ou qualquer um dos outros nobres que costumavam freqüentar o castelo dos Sanviñon.

Apesar da sua bravata de momentos atrás, da recusa em deixar-se coagir e da fome que só fazia aumentar a cada segundo, Dulce perguntava-se se não cometera um erro ao ignorar o conselho do administrador. Talvez devesse ter se recolhido aos seus aposentos.

Não, estou nos meus direitos, ela pensou, resoluta. Uckerman deveria ter-lhes dado as boas-vindas no pátio interno e oferecido a hospitalidade do castelo. Em vez disso, deixara-os plantados do lado de fora como se fossem mercadores ou artistas mambembes, e não convidados de honra.

Apoiando-se nessa idéia para se armar de coragem, Dulce inspirou fundo, lembrando-se de que era filha legítima de um cavaleiro, ainda que sua mãe fosse saxônia. De cabeça erguida, atravessou o salão.

O nobre de cabelos grisalhos, sentado ao lado de sir Christopher, levantou-se imediatamente, um sorriso de boas-vindas iluminando o rosto já um tanto enrugado. Um por um, todos os presentes se calaram, aguardando o desenrolar da cena cheios de expectativas. Apenas o velho sacerdote não percebeu o que se passava e continuou a comer sossegado.
Ainda assim, sir Christopher não tomou nenhuma atitude, limitando-se a fitá-la. O que ele iria pensar de uma mulher capaz de embaraçá-lo diante de toda aquela gente? Não importava como Dulce se sentisse a respeito do casamento arranjado, pois ela já havia empenhado sua palavra. Seria sensato desafiar a raiva do futuro marido? Ao chegar junto à mesa principal, Dulce abaixou os olhos, recatada, e fez uma mesura.

— Perdoe minha intrusão, sir Christopher — falou delicadamente. — Mas temo que ninguém o tenha avisado de nossa chegada.

Finalmente, finalmente, sir Christopher de Uckerman levantou-se, continuando a fitá-la como se a medisse de alto a baixo. A túnica dele, presa à cintura por um cinto de couro, chegava-lhe ao meio das coxas, expondo pernas longas e musculosas. As mãos fortes, apoiadas sobre a mesa, pareciam capazes de empunhar qualquer arma com absoluta segurança.

— Vocês estão atrasados e não me mandaram avisar Uckerman retrucou num tom tão pouco amigável quanto a expressão do rosto. — Não podíamos atrasar mais o jantar.

— A ponte, a uns oito quilômetros daqui, foi arrastada pelas águas... meu lorde — Dulce explicou, fazendo uma pausa proposital e erguendo a cabeça. Que ele também visse seus olhos. Que ele soubesse o quanto fora imperdoavelmente rude para com a noiva e para com Alfonso, um cavaleiro de linhagem mais antiga.

Notando uma veia pulsar na base do pescoço de Uckerman, ela teve certeza de o haver atingido.

— Mas estou certa de que a culpa pela queda da ponte não foi sua — Dulce emendou docemente. — Afinal, serviçais e aldeões, com freqüência, estão ansiosos para se aproveitarem de um lorde bom e generoso. — Que grande mentira!, ela pensou, enquanto aguardava uma resposta. Podia muito bem imaginar como Uckerman tratava seus arrendatários. Eles sem dúvida iriam apreciar uma castelã capaz de compreender o que era ser maltratado.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora