capítulo 46

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— Sinto se fui rude com você dias atrás — ela murmurou, erguendo a cabeça para fitá-lo. — Não teria agido assim se soubesse o tipo de "sacrifício" que me esperava.

Ele riu e acariciou os cabelos vermelhos com carinho infinito.

— E eu preciso me lembrar de lhe dar mais presentes, se é assim que me agradece.

— Você está fazendo o que aconteceu parecer...

— Perdoe-me — Christopher a interrompeu, sabendo o que a esposa pensara. — Não quis dar essa impressão.

— Você não teria se desculpado antes. Uckermann tornou a sorrir e acariciou-a nas costas de leve.

— Essas cicatrizes... Você deve ter tido uma vida terrível.

— Alguns momentos, sim. Meu pai não era um homem fácil, especialmente depois da morte da minha mãe. Acabou se convencendo de que os outros filhos tinham razão ao culpá-lo de haver humilhado e aviltado a família, casando-se com uma saxônia. Ali estava eu, a evidência da tragédia, diante dos olhos de todos.

— Ele não deveria tê-la espancado.

— Não importa agora. Meu pai está morto e eu tenho você.

 

— Dulce, Dulce... — Christopher murmurou, acalentando-a nos braços. Nunca ouvira um elogio tão grande e nenhuma das inúmeras honrarias que recebera até agora lhe dera maior satisfação e orgulho.

— Estou tão feliz! — ela falou sorrindo. — Depois de tê-lo atormentado tanto, com certeza não mereço isso.

— Eu fui grosseiro e também não devo merecer isto. — Os dois riram com vontade. — Às vezes me pergunto como é que você conseguiu manter o senso de humor, depois de tudo o que passou.

— Era rir ou morrer. Alguns dias meu senso de humor era tudo o que me restava.

— Você nunca mais se sentirá assim outra vez, Dulce. Eu lhe prometo.

Nunca, nem em seus sonhos mais secretos, ela pudera imaginar que se sentiria tão feliz. Tampouco julgara que estar com homem fosse uma experiência maravilhosa, inebriante. Christopher não era um rapazinho ingênuo, inseguro. Ele a amara com paixão, sem inibições ou reservas, entregando-se por inteiro. De alguma maneira, por sorte do destino ou pela intervenção dos santos, os céus lhe haviam mandado o melhor marido do mundo. Um homem a quem podia honrar e respeitar. Um homem em quem podia confiar.

 

Um homem a quem podia amar.

Sim, amor. Não podia existir uma outra palavra, uma outra explicação.

— Nós deveríamos dormir um pouco — Christopher falou, beijando-a de leve na testa.

— Sim. — Dulce mudou de posição e deixou escapar um gemido.

— O que foi?

— Estou um pouco dolorida.

— Eu fui apressado, talvez.

— Talvez.

— Não quis machucá-la. Vou ser mais cuidadoso da próxima vez. E em todas as outras vezes. Não tornarei a machucá-la. Você tem a minha palavra.

Assustada pela raiva estampada nos olhos escuros do marido, Dulce cobriu-se com um lençol como se buscasse refúgio atrás de um escudo.

— Você adormeceu — falou apenas.

— Eu adormeci? Quando foi que adormeci? Apesar da angústia, ela não se comportaria como uma covarde e contaria tudo. Nem que isso lhe custasse até a última gota de sangue.

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora